Da probreza ao sucesso, a Quintana só falta ganhar o Tour

Vencedor da Volta a Espanha teve uma infância e juventude difíceis mas encontrou no ciclismo a sua paixão e tem tido uma carreira de sucesso. Após Giro e Vuelta, só lhe falta o Tour.

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Quintana ainda não ganhou um Tour JOSE JORDAN/AFP

Nairo Quintana conquistou, este domingo, aos 26 anos, a Volta a Espanha, prova que junta ao triunfo no Giro de Itália de 2014. Fê-lo com autoridade em relação ao segundo classificado, Chris Froome (1m23s separaram colombiano e britânico na geral final), e quando menos se esperava, uma vez que, apesar do terceiro lugar, realizou um Tour aquém das expectativas e, dias antes do início da Vuelta, tinha renunciado aos Jogos Olímpicos, devido a doença.

Quem é Nairo Quintana? Criado na Colômbia rural, num contexto de dificuldades económicas – o pai vendia fruta na parte de trás de uma carrinha e a mãe cuidava da casa - só teve a primeira bicicleta aos 15 anos, porque o pai não tinha dinheiro para mandar o filho para a escola de autocarro. O que era uma tentativa de poupar dinheiro, tornou-se no início de uma grande paixão. “Imaginava [que o caminho para a escola] era uma corrida e tentava sempre ganhar”, contava o colombiano ao jornal El Tiempo, em 2010. O problema é que o caminho não era fácil: 17 quilómetros até à escola e outros 17 no regresso, com subidas com rampas de oito por cento.

Daí até assinar o primeiro contrato profissional, com a Boyacá, passaram apenas quatro anos. Ficou apenas um ano (2009) nessa equipa colombiana e, em 2010 e 2011, esteve noutra formação do seu país, a Café de Colombia. Foi nessa equipa que Quintana conseguiu o primeiro grande triunfo da carreira, ao conquistar a Volta a França do Futuro. Automaticamente chamou a atenção da poderosa Movistar, uma das melhores equipas do mundo, para a qual se mudou em 2012.

No primeiro ano na equipa espanhola, ganhou logo duas prestigiadas corridas do calendário internacional, a Volta a Múrcia e a Route du Sud, garantindo um lugar na Movistar para a Volta a Espanha. Na sua primeira grande volta foi 36.º, mas foi uma das principais ajudas na caminhada de Alejandro Valverde rumo ao segundo lugar.

No ano seguinte continuou com bons resultados, vencendo a Volta ao País Basco e convencendo mesmo o director-geral da Movistar, Eusebio Unzué, a chamá-lo para o Tour. Numa equipa com Valverde e o português Rui Costa, foi Quintana quem mais brilhou, tendo uma estreia de sonho na prova mais importante do mundo: foi segundo da geral, apenas atrás de Froome, e venceu as classificações da montanha e da juventude, tornando-se no primeiro estreante a terminar no pódio desde o alemão Jan Ullrich em 1996.

Já tendo feito Vuelta e Tour, faltava o Giro. Fê-lo em 2014 e ganhou com quase três minutos de vantagem sobre o compatriota Rigoberto Urán. Passou a ser herói nacional da Colômbia e considerado o desportista mais importante do país, superando o futebolista James Rodríguez. Com o sucesso veio a responsabilidade e os colombianos, assim como o presidente do país, Juan Manuel Santos, começaram a pedir-lhe a vitória no Tour. Em 2014, desgastado do Giro, não participou, em 2015 voltou a ser segundo atrás de Froome e, este ano, ficou atrás do britânico e do francês Romain Bardet. 

Na Vuelta que terminou este domingo, conseguiu algo muito importante, até do ponto de vista psicológico tendo em vista o futuro: bater a sua “besta negra” [Froome] numa grande competição por etapas. “Em condições de igualdade, Nairo é o melhor trepador do mundo”, dizia Unzué num documentário sobre o seu “pupilo”. Ao colombiano só lhe falta provar isso no Tour mas um lugar na história já ninguém lhe tira. As dificuldades, essas, ficaram para trás. Quintana ganha, actualmente, qualquer coisa como 890 mil euros por ano. “O ciclismo deu-me uma boa vida”, admitiu.

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