Começou a levantar pesos para não chumbar na escola e chegou a um diploma olímpico

Tem um nome que foi inspirado numa telenovela, é colombiano e enveredou pelo halterofilismo porque não tinha alternativa. Mas na estreia olímpica, no Rio de Janeiro, bateu-se com os melhores e ficou em sexto lugar

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Habib de las Salas de la Rosa Stoyan Nenov/Reuters

O adepto – ou simples curioso – olha para a classificação final da prova olímpica masculina do halterofilismo na categoria até 56kg e, começando pelo topo, vê: Long Qingquan, da China (medalha de ouro e novo detentor do recorde mundial); Om Yun-Chol, da Coreia do Norte (prata); Sinphet Kruaithong, da Tailândia (bronze); Arli Chontey, do Cazaquistão; Tran Le Quoc Toan, do Vietname; Habib de las Salas de la Rosa, da Colômbia... Como?! A Colômbia não é um país que se associe imediatamente ao halterofilismo, mas o atleta de 29 anos teve um bom desempenho nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e terminou em sexto lugar, levando assim para casa um diploma olímpico. Nada mau para quem começou a praticar a modalidade contrariado.

Mas já lá vamos. Muito incentivado pela falange de adeptos colombianos nas bancadas do pavilhão Riocentro 2, Habib de las Salas de la Rosa movimentou 119kg no arranque e 147kg no arremesso, para um total de 266kg. Um resultado que deixou o halterofilista e militar satisfeito. Após a entrega das medalhas, surgiu na zona mista para falar aos jornalistas com um sorriso de orelha a orelha e o joelho direito envolvido por um saco com gelo. “Não é nada de especial, só um incómodo que tenho sentido mas nada de preocupante”, explicou ao PÚBLICO.

Se há coisa que pode dizer-se dele é que é compacto. Tem 1,59m e 56kg (55,84kg, para ser mais preciso, segundo a pesagem realizada imediatamente antes da prova) e a potência muscular indispensável a quem tem de erguer acima da cabeça o correspondente a várias vezes o próprio peso. “A competição foi muito boa, levou-nos ao limite. Foi bastante técnica, muito trabalhada. E consegui um diploma olímpico, graças ao sexto lugar, pelo qual fiquei muito contente. Nos meus primeiros Jogos Olímpicos não podia pedir melhor. Foi uma experiência muito bonita pela competição em si, e também por poder sentir a euforia e o apoio do público”, reconheceu.

Muito antes de poder saborear estes momentos, o halterofilismo para Habib de las Salas de la Rosa significou uma imposição. “Eu gostava muito de futebol, mas tomei um caminho diferente por influência de um professor de Educação Física, Pedro Echeverría, que descobriu em mim um talento para o levantamento de peso”, começou por recordar. O professor optou por uma abordagem incomum para atrair o aluno para a modalidade, mas que deu resultado: como não conseguia convencê-lo pela palavra, deu-lhe negativa na disciplina de maneira a que Habib fosse obrigado a assistir a aulas de compensação. Nessas aulas, obrigava-o a levantar pesos e começou a inscrevê-lo em competições. Não havia alternativa. “E aqui estamos, esse talento foi sendo trabalhado e tenho conseguido alguns triunfos nesta modalidade”, contou.

E não se aborreceu com o professor por tê-lo feito parar de jogar futebol? “Claro!”, respondeu Habib com uma gargalhada. “Não gostava mesmo nada do levantamento de peso. Aborrecia-me com o professor, mas ele continuava a ir buscar-me e levar-me a casa. Foi assim que tudo começou”. O momento em que se rendeu ao halterofilismo foi quando começou a ganhar, confessou: “Os resultados que conquistamos dão-nos a satisfação para continuar a trabalhar.”

“No ano seguinte decidi alistar-me nas forças militares e foi aí que continuei a desenvolver o meu talento. Alistar-me nas forças armadas foi a decisão mais acertada que tomei na minha vida”, admitiu Habib. Enquanto antes se debatia com a falta de condições para praticar a modalidade, a partir desse momento passou a ser encorajado. “Tive o acompanhamento de pessoas com muitos conhecimentos de halterofilismo, a quem estou muito reconhecido. Os dois treinadores que vieram comigo aos Jogos Olímpicos são, precisamente, meus superiores no exército. E o coronel do meu batalhão é muito flexível connosco, permite-nos ter tempo para os treinos”, destacou.

O futebol, para Habib, continuou a ser uma paixão, mas da qual desfruta apenas como adepto: “É precisamente hoje [ontem, dia 7] o aniversário do meu clube, Junior Barranquilla. É um dia de grande festa para a cidade onde nasci, celebra-se um diploma olímpico e um aniversário para milhões de pessoas”. O melhor de dois mundos para Habib, que antes de despedir-se ainda explicou ao PÚBLICO qual a origem do seu nome próprio. “É um nome árabe. A minha mãe foi buscá-lo a uma telenovela”, rematou com mais uma gargalhada, antes de seguir caminho.

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