Rui Vinhas vence a Volta a Portugal

Gustavo Veloso, o favorito à partida para esta Volta, terá de contentar-se com o segundo lugar

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Rui Vinhas (W52-FC Porto) é o vencedor da 78.ª Volta a Portugal em bicicleta. No contra-relógio da última etapa, o ciclista português aguentou a vantagem que tinha para Gustavo Veloso – um especialista em contra-relógio – e manteve a camisola amarela que conquistara na terceira etapa. Foi a primeira vitória na Volta do ciclista de 29 anos, que confirmou o seu “conto de fadas” na maior prova do ciclismo português.

Rui Vinhas confirma, assim, a surpresa nesta prova e faz regressar um português ao lugar mais alto do pódio, cinco anos depois. Desde o início do milénio, apenas três portugueses tinham vencido a Volta (Vítor Gamito, Nuno Ribeiro e Ricardo Mestre), sendo que, na última década, o domínio espanhol foi quase total, com nove vitórias em dez edições. E esse domínio espanhol deve-se, em grande parte, à presença de Gustavo Veloso nas estradas nacionais. O galego, que procurava conquistar a sua terceira Volta consecutiva, foi o vencedor desta última etapa, mas os 55 segundos ganhos a Rui Vinhas não foram suficientes para “roubar” a amarela ao companheiro de equipa.

Na luta pelo pódio, Daniel Silva (Boavista) segurou a vantagem que tinha e fecha o top3 final, atrás de Vinhas e Veloso.

É a 14.ª vitória do FC Porto na Volta a Portugal (a última tinha sido em 1983, com Marco Chagas) e a quarta vitória consecutiva da equipa (antes sem a associação aos “dragões”) dirigida por Nuno Ribeiro. A W52-FC Porto consegue, com este resultado, fazer a “dobradinha” e carimbar o seu domínio na prova portuguesa.

Na classificação geral, destaque ainda para o domínio nacional. Dos top-10, apenas três ciclistas não são portugueses.

Um contra-relógio de emoções fortes

Emoção ao rubro na última etapa da 78.ª Volta a Portugal em bicicleta. À partida para o contra-relógio de 32 quilómetros, entre Vila Franca de Xira e Lisboa, Rui Vinhas e Gustavo Veloso eram os principais candidatos a vestir de amarelo no final desta Volta. A Praça do Comércio foi o palco da festa de Rui Vinhas, que conseguiu a sua primeira vitória na prova portuguesa.

Desde 2009 que a Volta não terminava com um contra-relógio. Num percurso plano e com alguma extensão, Gustavo Veloso – um especialista em contra-relógio – tentava recuperar uma vantagem de 2m25s para o seu companheiro de equipa. O camisola amarela não se sente confortável nesta especialidade e o registo do ano passado não era animador: em 2015, no contra-relógio entre Pedrógão e Leiria, Gustavo Veloso conseguiu ganhar mais de quatro minutos a Rui Vinhas – vantagem que, a repetir-se, seria mais do que suficiente para carimbar o "tri" do espanhol. Mas o registo não se repetiu. Vinhas fez um bom contra-relógio, perdeu apenas 55 segundos e festejou na zona ribeirinha de Lisboa vestido de amarelo.

O "gregário" superou o "chefe"

Aos 29 anos, Rui Vinhas consegue um feito tremendo, considerando que nunca foi apontado como candidato à vitória. O seu papel, nesta Volta a Portugal, era o de gregário de Gustavo Veloso e fiel “soldado” na missão de ajudar o espanhol a chegar a Lisboa vestido de amarelo. Os dorsais comprovavam-no: Veloso usou o 1, enquanto Vinhas usou o 5.

Tudo mudou na terceira etapa, com Rui Vinhas a aproveitar uma fuga e conseguir uma vantagem que se revelou decisiva na classificação final. A melhor classificação de Vinhas na Volta a Portugal era um 15.º lugar, em 2013, mas agora, em 2016, o ciclista natural de Sobrado, do concelho de Valongo, gravou o seu nome na história da Volta a Portugal em bicicleta.

Rui Vinhas: "Cheguei sem forças nenhumas"

O grande vencedor, no momento da vitória, não esqueceu o rival desta última etapa. "Quero agradecer ao Gustavo por esta vitória. Ele foi um bom ponto de referência para mim. Ganhasse eu ou o Gustavo, ficaria sempre feliz", reconheceu Vinhas, que também falou aos portugueses: "Agradeço aos portugueses, que sempre me apoiaram, e que queriam bastante uma vitória portuguesa".

Quanto à etapa deste domingo, Rui Vinhas reconheceu que só queria que a equipa dissesse a verdade sobre o tempo que o ciclista estava a fazer. "Pedi que fossem verdadeiros comigo, mesmo que estivesse a perder a amarela", disse Vinhas, visivelmente emocionado. O ciclista português assumiu que chegou a Lisboa "sem forças nenhumas".

Já Gustavo Veloso, embora tenha felicitado Rui Vinhas, mostrou-se desapontado e até corrosivo. "Quem viu a Volta sabe quem é o mais forte e penso que mostrei na estrada que sou o mais forte", disparou o espanhol, que acrescentou: "Fico feliz pelo Rui e por a camisola ficar na nossa equipa. Mas é difícil saber que sou o maior forte e a camisola não fica contigo". "Mas sempre disse que se não ganhar eu, que ganhe alguém da equipa. Quando ganha a equipa, tudo fica bem", terminou o segundo classificado da Volta 2016.

Texto editado por Nuno Sousa

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