O colombiano que não é igual a todos os outros

Excelente trepador, Jarlinson Pantano tem uma característica que o distingue dos compatriotas do pelotão: uma ponta final de respeito.

Foto
LIONEL BONAVENTURE/AFP

Quando assinou pela IAM Cycling, em Janeiro de 2015, Jarlinson Pantano tornou-se no 15.º ciclista da nova diáspora colombiana a chegar ao WorldTour. Oriundo de um país com tantos e tão bons corredores, o rapaz de Cali era apenas mais um emigrante à procura da glória no continente europeu. “Toda a gente sabe que a Colômbia tem grandes talentos”, reconheceu, modestamente, ao CyclingNews, na sua primeira prova pela equipa suíça (a Volta à Austrália, na qual foi nono).

Produto da escola de formação nacional – a Colombia es Pasión -, para a qual foi recrutado em 2007, com 19 anos, Pantano habituou-se a viver na sombra dos feitos dos outros, sobretudo do amigo Nairo Quintana. Aparentemente, nada o distinguia do protótipo nacional de trepador nato, mas diz quem o conhece que não é bem assim. “Tem uma ponta final mais rápida do que os outros colombianos”, garantiu ao PÚBLICO John Fredy Garcia, preparador físico e melhor amigo do ciclista da IAM Cycling. E não é o único a encontrar diferenças: Michel Thèze e Sébastien Duclos, os treinadores que o orientaram na sua primeira época no viveiro da União Ciclista Internacional – também por lá andava Chris Froome -, apontaram-no como um dos maiores talentos com quem já tinham trabalhado.

Depois de vários lugares de honra na Taça das Nações de sub-23 e em provas do seu escalão, Pantano deu nas vistas na Volta a França do Futuro de 2010, ao ser o melhor trepador e terceiro da geral, numa edição conquistada por…Quintana, que não tardou a dar o salto para o WorldTour. Já Nairo era a coqueluche da Movistar (2012), quando Pantano assinou o seu primeiro contrato com a Colombia-Coldeportes e se mudou para Brescia (Itália), sede europeia da equipa profissional criada com um incentivo ministerial. Descrito por Fredy Garcia, que o conhece há 20 anos, como muito familiar – e alegre, simples e humilde -, sofreu com o frio e a distância da família e teve mesmo de voltar para junto dos seus para curar uma disfunção hepática, que o obrigou a um repouso forçado.

Era nas montanhas da Colômbia que Pantano melhor se sentia. A altitude, o ar rarefeito, o céu pesado traziam ao de cima todo o potencial que ainda não tinha conseguido mostrar. Como tal, não é de estranhar que tenha sido no Giro, a "grande" mais montanhosa, onde primeiro deu nas vistas. Duas vezes terceiro em etapas (2013 e 2014), captou a atenção da IAM Cycling. “Agora tenho a oportunidade de participar nas maiores provas”.

No primeiro ano na elite, cumpriu o sonho de uma vida com a presença no Tour – foi terceiro na 16.ª etapa. Mas só esta temporada, com a exibição de luxo na Volta à Suíça – conquistou a sua primeira vitória como profissional e terminou em quarto na geral -, o sofrido colombiano comprovou definitivamente que não é apenas mais um no espólio nacional. “Para mim, o triunfo na Volta à Suíça foi um sonho cumprido depois de anos de esforço”.

“Como ciclista, o Jarlinson é um corredor ambicioso, que se defende bem na montanha e que é excelente como gregário. É um bom finalizador em grupos reduzidos”, resumiu ao PÚBLICO John Fredy Garcia, que vê o amigo como futuro ‘top 10’ das grandes Voltas. Neste Tour, no entanto, o objectivo do colombiano da IAM Cycling era outro: ganhar uma etapa. Está cumprido.

Sugerir correcção
Comentar