Ordem dos Arquitectos preocupada com depreciação e desvalorização da profissão

No final do 14.º Congresso, realizado em Viseu, João Santa-Rita lamentou que os subscritores da petição Fora da Ordem não tivessem apresentado as suas propostas na reunião.

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João Santa-Rita Miguel Manso

O presidente da Ordem dos Arquitectos, João Santa-Rita, mostrou-se este sábado preocupado com a depreciação e a desvalorização dos profissionais desta área.

"Vemos com grande preocupação a depreciação e desvalorização do trabalho dos arquitectos, e isso reflecte-se na forma como o trabalho é encomendado, quantificado e renumerado. Pensamos que, face à crescente responsabilização e face às crescentes necessidades de uma sociedade mais exigente e mais necessitada, este trabalho não pode continuar a ser desqualificado e desvalorizado", defendeu.

No final do 14.º Congresso dos Arquitectos, que decorreu em Viseu, João Santa-Rita sublinhou que este é um quadro que tem de ser invertido. "Não é possível que isto suceda numa área profissional tão importante, marcante e com uma relevância tão grande para a vida das pessoas", acrescentou.

O congresso serviu ainda para identificar um outro problema, que tem a ver com a participação dos arquitectos nas orientações gerais e nas decisões do país. "Somos pouco chamados a participar e dou-lhe um exemplo: temos um organismo que tutela e dá as grandes orientações sobre legislação na área da construção, mas é um organismo que não tem um único arquitecto como funcionário", alegou.

De acordo com João Santa-Rita, é necessário implementar programas de reabilitação das cidades e do edificado, em que os arquitectos devem ser chamados a participar.

"Outro aspecto essencial tem a ver com a legislação portuguesa, e não há nenhum arquitecto que se sinta confortável com a legislação vigente. Esta é uma questão transversal a todos os arquitectos: diria quase que se se fizesse um questionário online, haveria uma votação do sim pela parte de todos", referiu.

Petição fora de Viseu

Questionado pela Agência Lusa sobre a petição Fora da Ordem, que se encontra em curso, o responsável da Ordem dos Arquitectos lamentou que a sua discussão não tivesse sido trazida ao congresso. "Julgo que este seria o lugar certo para estas questões, mas não nos chegou nada, nem em forma de recomendação, nem de comunicação. É pena, porque a petição poderia ter sido transformada numa moção ou recomendação", disse.

Reconhecendo que a petição tem no seu conteúdo matérias "que nem sequer são contraditórias com aquilo que a Ordem dos Arquitectos tem no seu dia-a-dia", estranha que nela se encontrem "indicações que até vão contra as orientações do próprio do Conselho dos Arquitectos da Europa, como é a questão do estágio".

"Questiono-me, enquanto arquitecto, se não estamos a dispensar uma questão fundamental, pois nós temos uma profissão que tem responsabilidade civil e para exercer a profissão temos de ter um seguro de responsabilidade civil. Esta não é uma profissão em que, no dia seguinte à saída de uma universidade, se possa assinar um termo de responsabilidade, sem passar por um período de adaptação a uma realidade complexa e de grande responsabilidade", sustentou.

Ana Jara, uma das subscritoras da petição, confirmou que esta não esteve em agenda no congresso, "continuando a circular para que tenha cobertura suficiente". "A petição está a ser bastante assinada, e conta actualmente com 642 subscritores. Em Setembro, vamos levar à discussão os quatro pontos, através de debates com convidados", concluiu a arquitecta.