O mecânico algarvio dos Schleck

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PASCAL PAVANI/AFP

Não é todos os dias que um terceiro classificado da Volta a França (2011) pára à nossa porta em busca de auxílio. Talvez por isso, naquele verão de 2013, Ricardo Rodrigues não tenha reconhecido o tipo franzino que espreitava pelo vidro da sua loja de bicicletas, na Guia (Algarve). “Se calhar, foi a necessidade que o fez parar aqui”, admite. “Ele estava nos Salgados – pelo que ouvi dizer, há uma pessoa da família que tem lá casa e os irmãos passam lá férias”. O ele de quem o dono da Bike Sul fala é Frank e os irmãos a quem se refere são os Schleck, os ‘manos’ velocipédicos mais conhecidos da última década.

Num dia como outro qualquer, enquanto andava entretido com as tarefas rotineiras, Ricardo Rodrigues viu parar à porta “um tipo muito magrinho, com um equipamento de uma equipa profissional”. “A cara não me era estranha, mas não o reconheci logo – não estava à espera de ver o Frank Schleck entrar na minha loja. Um rapaz, que estava a trabalhar comigo nessa altura, é que percebeu quem ele era e saiu porta fora para ir ao encontro dele”, recorda numa conversa telefónica com o PÚBLICO. Ultrapassada a surpresa inicial – e o choque por ter um antigo vencedor de provas como a Volta à Suíça (2010), a Amstel Gold Race (2006) ou o Critérium Internacional (2011) e de duas etapas do Tour (2006 e 2009) na sua Bike Sul -, o algarvio ajudou o mais velho dos Schleck e conquistou não um, mas dois clientes. 

“Nesse dia, o Frank queria afinar as mudanças. Foi bastante cordial, muito simpático, inclusive tirámos fotos juntos. O Paulo Martins [comentador da Eurosport] até comentou a visita dele à minha loja durante uma etapa do Tour, para o qual o Frank não tinha sido convocado [por estar suspenso devido a um positivo por xipamide na Volta a França do ano anterior”. Tempos mais tarde, apareceu Andy, o vencedor (na secretaria) do Tour2010. “Não me recordo bem, mas penso que foi para tratar de um rolamento”, conta Rodrigues, que não esconde a preferência pelo menos conceituado dos dois ‘manos’ luxemburgueses.

“O Frank veio mais umas vezes, agora há já uns tempos que não aparece. É bastante acessível. Falamos das bicicletas, dos miúdos – quando apareceu aqui, tinha sido pai há pouco tempo. Ele expressa-se perfeitamente em inglês, melhor do que o irmão. O Andy, pelo que percebi, é mais reservado”. A preferência dos Schleck pode não lhe ter trazido mais clientela, mas seguramente deu uma nova dinâmica à Bike Sul. “As pessoas pensam “se o Frank Schleck lá vai, por que é que eu não hei de ir?”.

Hoje, com Andy retirado e Frank longe dos tempos áureos que o levaram a representar potências do ciclismo como a CSC (2002-2008), a Saxo Bank (2009-2010) e as diversas variantes da Trek (2011-2016), que este ano decidiu levá-lo ao Tour, talvez a pensar numa despedida (já tem 36 anos), Ricardo Rodrigues não sabe por quem torcer na 103.ª edição.

“Antigamente torcia pelo Armstrong, antes pelo Indurain. Agora não tenho um ciclista que diga que é o meu favorito. Se o Contador for na frente, fico contente porque gosto da maneira dele pedalar. Se for o Quintana também, porque é um lutador. O Froome é que... Preferia que fosse outro a ganhar, para não ser sempre o mesmo. Se calhar, pelo romantismo, preferia o Quintana”, elege o antigo praticante de BTT, que tem como actual favorito o espetacular Peter Sagan.

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