Medicamentos e produtos de saúde: na rota do Atlântico

As farmacêuticas criam emprego, inovam cientificamente, investem em novas tecnologias e arriscam todos os dias.

É um dos setores com melhor empregabilidade do país e que mais aposta em Investigação e Desenvolvimento. Tem uma das maiores capacidades de absorção de mão-de-obra altamente qualificada, gerando produtos de indiscutível valor acrescentado. Promove-nos internacionalmente, como referência de vanguarda em tecnologia de ponta e avanços científicos, sendo responsável por mais de 1200 milhões de euros nas nossas exportações.

A indústria farmacêutica encontra-se na linha da frente do nosso tecido empresarial e constitui uma das principais bandeiras portuguesas nos mercados externos.

Fortemente internacionalizado, o setor tem visto as exportações crescer ininterruptamente há cinco anos consecutivos, com um aumento médio anual de 11,4% entre 2005 e 2014. Só para a Venezuela, no ano passado, as vendas de fármacos e material médico aumentaram uns astronómicos 503%.

Mas, tal como na maioria dos setores portugueses, esta história de internacionalização é relativamente recente e foi despoletada sobretudo por um contexto adverso. A redução progressiva dos preços dos medicamentos em Portugal, tanto de genéricos como de marca, foi naturalmente bem recebida pelos consumidores mas teve um evidente impacto negativo nas contas das empresas, que viram diminuídas as suas margem de lucro. Duas consequências quase imediatas no mercado: a redução - ou mesmo encerramento - da atividade de empresas multinacionais com investimentos no país. E o despertar da indústria portuguesa para um novo modelo de crescimento: internacionalizar deixou de ser uma opção e transformou-se numa necessidade. Como disse o escritor brasileiro Érico Veríssimo, “quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”.

Olhando para as duas regiões do mundo onde os portugueses têm mais vantagens competitivas naturais, chegamos à conclusão que o futuro também deste setor passará incontornavelmente por África e pela América Latina. O mercado farmacêutico na região latino-americana estava avaliado, em 2012, em 63 mil milhões de dólares, estimando-se que o consumo per capita de medicamentos passará, entre 2009 e 2019, de 77 para 129 USD. Os gastos com saúde são de 180 mil milhões USD anuais e o investimento total na região é de 2,9% do PIB. A expectativa média de vida é de 75 anos e as vendas totais de produtos farmacêuticos ultrapassaram, em 2014, os 50 mil milhões de dólares.

Em África, o ritmo a que tem crescido o valor da indústria farmacêutica demonstra bem as oportunidades que o continente encerra. De acordo com um relatório da consultora McKinsey, em 2003 este mercado representava apenas 4,7 mil milhões de dólares e, passados apenas 10 anos, atingiu os 20,8 mil milhões. O mesmo documento diz-nos que a expectativa de crescimento, até 2020, aponta para os 40 a 65 mil milhões de dólares. Entre 2013 e 2020, está previsto um crescimento da prescrição de medicamentos em África a uma taxa média anual de 6%.

É neste contexto otimista que, no dia 6 de Julho, o IPDAL e a Ordem dos Farmacêuticos organizam o Fórum Empresarial do Atlântico “Internacionalização do Medicamento e Produtos de Saúde”. A iniciativa, onde tem presença confirmada o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, reúne as principais empresas do setor com os embaixadores e diplomatas das duas regiões, tendo como objetivo promover as exportações e os investimentos no estrangeiro da indústria farmacêutica portuguesa.

É nossa profunda convicção de que, sobretudo num país pequeno, quando estão em causa negócios desta complexidade e envergadura, é imperativo juntar esforços. Trata-se de aliar o respaldo e a força institucional do governo e da AICEP ao trabalho em parceria de instituições como o IPDAL e a Ordem dos Farmacêuticos, às embaixadas que detêm frequentemente as chaves para as portas que queremos abrir no exterior e ao mais importante: a determinação e o empenho das empresas. O mérito de crescer é delas. A obrigação de ajudar é nossa.

Em apenas um século, a esperança média de vida na Europa aumentou 30 anos, com a ajuda fundamental de novos medicamentos e produtos farmacêuticos. O próprio aumento da qualidade de vida está também intimamente ligado aos avanços desta indústria, que já representa um volume de negócios mundial superior a 800 mil milhões de dólares.

Em Portugal, segundo dados do Infarmed de 2014, as 123 farmacêuticas registadas empregam cerca de 8 mil pessoas e são responsáveis por um mercado de aproximadamente 2 mil milhões de euros. Para que se tenha uma noção, a maior empresa portuguesa está presente em mais de 40 países, destacando-se a aposta no triângulo América Latina – Europa – África, é a que mais fundos dedica a Investigação e Desenvolvimento de novos produtos e tem uma faturação anual superior a 150 milhões de euros.

Ninguém pode dizer que internacionalizar é um processo fácil, isento de riscos ou linear. Mas se existe um setor em Portugal que tem demonstrado, ano após ano, batalha após batalha, que esta é uma aposta essencial para o seu crescimento, é o das farmacêuticas. Elas criam emprego, inovam cientificamente, investem em novas tecnologias, arriscam todos os dias e, no final, atingem objetivos. Não se trata de uma prescrição médica. Mas esta é a única receita para o sucesso das nossas empresas.

Secretário-Geral do IPDAL-Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina

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