O sprinter que redesenhou o destino de Marcel Kittel

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Kittel é especialista em sprints LUK BENIES/AFP

O percurso de Marcel Kittel é sobejamente conhecido. As raízes desportistas – o pai era ciclista, a mãe saltadora em altura , a descoberta do ciclismo aos 13 anos, as primeiras pedaladas no BTT, o passado como contra-relogista, corroborado pelos dois títulos mundiais em júnior (2005 e 2006) e pelo título europeu da especialidade em sub-23. A transformação vitoriosa no melhor sprinter da sua geração, com o cunho da Skil-Shimano, o historial clínico problemático, pontuado por vírus desconhecidos – falhou o Tour 2015 por culpa de um -, e a felicidade redescoberta esta época, com a transferência para a Etixx-QuickStep e o reencontro com Tony Martin, o amigo de sempre, são episódios bem documentados.

Mas a biografia de Marcel Kittel está incompleta. Diz quem sabe que não se pode falar do sucesso do alemão sem mencionar Kenny van Hummel. O nome do já retirado holandês ser-lhe-á estranho, mas talvez o conheça como “Pior trepador de sempre a participar na Volta a França”, uma designação que lhe foi assignada pelo L’Équipe em 2009. É preciso vasculhar muito para (re)descobrir o momento em que o altruísta Van Hummel mudou a vida do rapaz, nascido em Arnstadt, a 11 de Maio de 1988. Contratado pela Skil-Shimano após ter conquistado o bronze nos Mundiais de contra-relógio de sub-23 (2010), o gigante Kittel (tem 1,88 metros) foi convocado para a concentração de pré-temporada da sua nova equipa.

“Tivemos um campo de treino em Málaga nesse Inverno e fizemos alguns frente-a-frente ao sprint. Calhou-me o Kittel e posso reconhecer que não foi muito divertido para mim. Ele bateu-me no primeiro e outra vez no segundo. Na terceira de oito rondas, senti que ele estava com pena de mim e que me deixou ganhar”, relatou o sprinter holandês à revista Procycling. Figura principal da Skil-Shimano, Van Hummel percebeu que o promissor neo-profissional era muito mais do que um simples contra-relogista.

Algumas semanas depois, no Tour de Langkawi, sprintou nas duas primeiras etapas e foi, respectivamente, quinto e oitavo. Os resultados não eram brilhantes. “Então, antes da terceira etapa, chamei à parte o Koen de Kort [seu lançador habitual] e disse-lhe que iriamos trabalhar para o sprint do Kittel, mas que só lho diríamos quase no final da tirada para que não ficasse nervoso”. A 30 quilómetros da meta, o holandês, então com 28 anos, aproximou-se do miúdo e comunicou-lhe a boa nova. “Como esperava, ele ficou incrédulo. “O quê? Nem pensar. Não tenho pernas para isso”. Respondi-lhe que era indiferente que fosse 15.º ou 20.º. Só queríamos mostrar-lhe o que esperávamos dele nos lançamentos daí em diante. Formei o ‘comboio’ com o Koen e, evidentemente, o Marcel ganhou e com quatro bicicletas de avanço. O resto é história”.

E a história é impressionante: são 70 vitórias, incluindo oito etapas no Tour (2013 e 2014) e quatro no Giro (2014 e 2016). Cinco anos depois, Van Hummel é um fã dos sprints de Kittel e ainda mais da sua humildade. “É exactamente o mesmo tipo”.

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