A vitória de empatar

O empate com a Islândia foi Beckettiano. Tivemos azar de não ganhar mas também tivemos sorte de não ter perdido.

Em duas ou três alturas da segunda parte do Portugal-Islândia dei comigo a pedir que a selecção portuguesa não perdesse. Vi a Hungria e a Islândia com 3 pontos cada uma e a Áustria e Portugal com zero.

Em todas as outras alturas esmifrei-me para que os portugueses marcassem mais um golo para ganhar o jogo e os 3 pontos.

Quando o jogo acabou só me lembrei de ter pedido que Portugal não perdesse. Admirei a tenacidade e a valentia dos islandeses que, aqui de país pequeno e periférico para país ainda mais pequeno e periférico, nada tem de condescendente e tem alguma coisa de irmandade. Foi como reler o Povo Independente de Halldór Laxness na tradução para futebol.

Empatar não é só não ganhar. Também é não perder. Nas nossas vidas empatar – aquele ponto que partilhamos com os outros seres humanos com que concorremos, ficando o terceiro ponto, que nem nós nem os outros obtivemos, para os deuses – não é nada mau. Só porque podia ser pior. Podíamos ter perdido.

Mas até ter perdido é bom. De Samuel Beckett, tão inteligente, engraçado, razoável e bom escritor como Samuel Johnson, que era o herói dele, apropriou-se a frase “Fail better”.

A ênfase está em falhar: em não conseguir o que se quis. O better é irónico. Quer dizer “pior”.

O empate com a Islândia foi Beckettiano. Tivemos azar de não ganhar mas também tivemos sorte de não ter perdido. Portugal tinha mais população, melhores jogadores e uma técnica e tradição muito maiores.

Empatámos. Foi justo. E foi bom.

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