Empresário condecorado no local que já foi o maior bairro de lata português em França

Também em Champigny, vai ser condecorado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique um dos fotógrafos que mais retratou os bairros de lata portugueses, Gérald Bloncourt.

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Gérald Bloncourt.fotografou os bidonville na década de 1960, em Paris Paulo Pimenta/Arquivo

O empresário Valdemar Francisco vai receber o grau de comendador da Ordem de Mérito, a 11 de Junho, no local que já abrigou o maior bairro de lata português em França, em Champigny, nos arredores de Paris.

É neste espaço que o empresário de 62 anos está a ajudar a construir um monumento de homenagem a um antigo autarca francês pela ajuda prestada aos imigrantes portugueses, o qual também vai ser condecorado a título póstumo com o grau de comendador da Ordem da Liberdade.

“Claro que temos sempre um orgulho de receber uma condecoração, mas não me vai mudar a vida. Sou uma pessoa humilde, simples e ficarei sempre assim. A medalhazita se vier cá ficará para os meus netos e bisnetos”, disse à Lusa o presidente da associação Les Amis du Plateau que está a construir o monumento.

Valdemar Francisco chegou a França em 1960, com seis anos, e viveu nove anos no bidonville de Champigny, tendo começado a trabalhar com 12 anos após a morte do pai. Aos 28 estabeleceu-se por conta própria e hoje está à frente de um grupo de empresas de construção civil que emprega directamente 142 pessoas e que contrata outras 210, na maioria portugueses ou lusodescendentes.

Dos tempos do bairro de lata, Valdemar recorda-se do seu papel num mundo de adultos em terra estrangeira e à procura de trabalho, quando tinha que “dar a cama a quem chegava” e “ajudar uma multidão de portugueses a tratar de papelada”.

“Acabou por ser o maior bairro de lata de todos os tempos em França e provavelmente na Europa. Chegaram a aqui estar milhares e milhares de pessoas. Contam-se 15 mil ou mais mas havia muito mais porque quando havia recenseamento as pessoas fugiam”, relembrou.

Valdemar Francisco nunca esqueceu a ajuda dada aos portugueses por Louis Talamoni, um autarca de Champigny que, entre 1956 e 1972, data da extinção do bidonville, providenciou o fornecimento de água e electricidade, a escolarização das crianças, o acesso aos cuidados de saúde, a recolha do lixo e a instalação de esgotos.

“Foi um humanista. Ele era presidente de Câmara e senador e acabou por desobedecer ao Estado. Não conseguíamos ter luz e água, e ele mandou vir. Como não se podia ter contadores, ele pagou a água, salvo erro durante uns nove anos”, recordou o empresário, acrescentando que Talamoni também organizou a ida das crianças aos balneários públicos com os professores e a distribuição de botins por causa da lama.

Valdemar Francisco não tem vergonha de falar dos tempos em que viveu num bairro de lata, o que o motivou a avançar com a ideia de um monumento de homenagem ao antigo autarca, na cidade que já tem um memorial aos emigrantes portugueses da autoria do escultor Rui Chafes.

Para financiar a construção e mediatizar o projecto, o empresário criou a associação Les Amis du Plateau e convidou os emigrantes a deixarem a sua assinatura em tijolos que vão revestir oito colunas em torno da escultura central do monumento.

Tijolo a tijolo, a campanha ganhou visibilidade e até há tijolos autografados pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pelo primeiro-ministro, António Costa, por Pedro Abrunhosa e pelo presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, entre muitas outras personalidades.

Também em Champigny, vai ser condecorado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique um dos fotógrafos que mais retratou os bairros de lata portugueses dos anos 1960 nos arredores de Paris, Gérald Bloncourt.

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