Viagens

A Gronelândia está entre a comodidade e o desastre ecológico?

Fotogaleria

Camille Michel sempre se sentiu atraída pela ideia de descobrir áreas remotas, de conhecer as pessoas que lá vivem e de ouvir as suas histórias. "Decidi ir para a Gronelândia com o intuito de observar o seu processo de metamorfose e de fazer o seu retrato contemporâneo", disse em entrevista ao P3. "A misteriosa montanha de Uummannaq atraíu-me instantaneamente." A 590 quilómetros a sul do círculo polar ártico, a montanha em forma de coração é habitada por uma comunidade Inguit, composta por 1282 pessoas que se dedicam sobretudo à pesca e à caça, actividades que, segundo Camille, são ainda as principais. "O estilo de vida ainda é tradicional e próximo da natureza, mas a 'ocidentalização' está a ganhar terreno. A Gronelândia encontra-se em processo de modernização." O projecto "The Last Men" retrata o dia-a-dia de uma população em metamorfose, dividida entre tradições e modernidade, entre a comodidade e o desastre ecológico. "Neste momento, graças ao aquecimento global, as vias de acesso a alguns lugares mais remotos encontram-se desimpedidas de gelo, o que facilita o acesso por parte do mundo modernizado", esclarece a jovem fotógrafa. "Novas infraestruturas começam a marcar a paisagem, carros e outros veículos motorizados começam a substituir os cães de trenó. As pessoas procuram a capital, Nuuk, em busca de trabalho e de um estilo de vida mais cómodo e moderno." Em Uummannaq existe actualmente uma zona industrial, uma fábrica de peixe, uma bomba de gasolina, algumas lojas, uma escola, um café e até uma espécie de clube nocturno. Os habitantes têm carros, televisão, telemóveis, internet. Os bens são importados da Dinamarca e tornam a vida mais cómoda, mas um pouco mais suja. "Não existe um aterro de resíduos nas proximidades. Tudo é queimado a céu aberto, o que causa uma intensa poluição rica em dioxinas. A saúde das pessoas está em perigo." A montanha em forma de coração ("uummanaaq" é a palavra em gronelandês que designa "forma de coração") deixou uma forte impressão na fotógrafa. "Houve muita coisa que me impressionou na Gronelândia. As pessoas arrebataram-me com a sua honestidade e força. A paisagem é estonteante e a luz do ártico é muito invulgar. O céu adquire todas as cores possíveis, o que é fantástico para quem fotografa. Creio que todos sonhamos com locais que ficam 'no fim do mundo' através de livros, televisão ou revistas. Apesar das dificuldades e mudanças que atravessam, estes locais permanecem mágicos, místicos e férteis para a imaginação." Camille Michel voltará ao Ártico no início de Julho e permanecerá durante quatro meses a bordo de um barco de exploração entre Gaspe e o norte da Gronelândia. Ana Marques Maia