Quando a madeira se converte em "Medula"

Medula é o projecto 100 por cento português que se dedica à criação de joalharia e de mobiliário feito em madeira. As tábuas de skate também são para aqui chamadas

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Entre mil sugestões, ficou Medula (e não "médula" como insistem em chamar-lhe). Foi este o nome que Francisco Perdigão decidiu dar ao seu projecto. Medula — que significa a parte essencial, o âmago, o miolo — tornou-se o ponto central da vida de Francisco.

Medula nasceu há cerca de ano e meio e trata-se de um projecto dedicado ao desenvolvimento de joalharia em madeira e mobiliário feito à mão. “Surgiu como uma brincadeira”, começa por explicar ao P3 Francisco, sentado num café dos Restauradores, em Lisboa, num dia quente. “Fiz umas peças em madeira para oferecer. Começaram-me a dizer que tinha jeito e que iria ter procura. Decidi fazê-lo na desportiva, mas aí começaram a crescer as encomendas e então resolvi levar a coisa mais a sério”.

Natural de Setúbal, Francisco tirou o curso técnico de marcenaria no IAO – Fundação Ricardo Espirito Santo, em Lisboa, para mais tarde trabalhar uma temporada na área da restauração, na igreja de S.Francisco, em Évora, para conseguir sustentar-se a si e ao seu projecto. “A verdade é que nunca pensei fazer joalharia. O que queria e quero mesmo fazer é mobiliário. Dou muito valor a tudo o que seja feito artesanalmente, 100% feito pelas mãos”, sublinha o jovem de 25 anos.

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O seu estúdio é uma garagem, onde passa algumas horas do seu dia a facetar e a polir o material que, muitas vezes, provém de tábuas de skate – a sua outra paixão que mantém intacta desde os 12 anos e que já foi um sonho. O investimento que fez no projecto ainda não foi coberto pelas suas vendas. Mas isso não o impede de continuar a correr por gosto. "Assim não cansa”.

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Francisco Perdigão (foto de João Mascarenhas)

Há as peças que "são mais” e as que "são menos” elaboradas. As primeiras provêm das tábuas de skate que têm contraplacados tingidos de várias cores, o que, aos olhos dos mais distraídos, pode ser confundido com pintura feita à mão. Depois de retirados os contraplacados, estes são prensados com cola e o seu processo de secagem demora um dia. Só depois desse período é que podem ser facetados. Já as segundas são mais simples, sendo que só é preciso pegar em bocados de madeira maciça e facetar, demorando duas horas até à sua total conclusão.

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O que é mais difícil quando se começa um negócio deste género? A divulgação e a atribuição de um nome para o projecto. Entre risos, Francisco assume que não pesca nada de marketing ou de redes sociais e que por isso recorre a conselhos de amigos e aos tutoriais do YouTube. Mas a palavra Medula estava mesmo à sua frente. Aprendeu na escola que o ponto central de um tronco de árvore se chama medula. Perfeito.

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Menos "made in China"

Conta que a sua primeira experiência enquanto participante de uma feira não foi a melhor. Sublinha o facto de o público olhar primeiro para o preço e não para a peça em si (25 euros as "mais", 20 as "menos" elaboradas). “As pessoas têm que abrir os horizontes e, principalmente, deixar o 'made in China' de lado”. Ninguém pára para pensar no imenso esforço que é fazer algo à mão. É necessário dar valor ao que é feito cá dentro e ao que é artesanal. Toda a gente recorre às grandes marcar e as pequenas fábricas, pequenos negócios acabam por fechar”, lamenta.

Define o trabalho que desenvolve com as palavras como "gosto" e "paixão". “Há pessoas que levam algum tempo a perceber aquilo para que estão vocacionados. Felizmente, já consegui descobrir aquilo de que gosto. Trabalhar com madeira, fazer as minhas coisas, vender a quem gosta. No fim do dia, sinto-me completo”.

A longo prazo quer fazer algumas mudanças no seu projecto, começando por abranger o seu público-alvo para o sexo masculino e, posteriormente, partilhar o seu trabalho e o seu espaço com outra pessoa especializada na área. Para já, a única diferença que a Medula vai ter é nas peças que vão incluir utensílios de cozinha como facas, taças e colheres.

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