Docherty, o escocês que mudou de equipa 15 vezes

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Tommy Docherty após a vitória na FA Cup, em 1977, pelo Manchester United. DR

Se os anuários não enganam, 24 de Abril de 1928 é a data de nascimento de Tommy Docherty, ou simplesmente “Doc”. Este escocês de 88 anos, extrovertido e fazendo gala de ir contra a corrente, foi treinador do FC Porto durante alguns meses no início da década de 1970. Quando veio para Portugal já era bastante conhecido em Inglaterra. Com frequência ia aos estúdios da antiga Emissora Nacional, perto da Torre dos Clérigos, fazer comentários para a BBC sempre com um toque irreverente e bem humorado.

A direcção do clube, presidida pelo banqueiro Pinto de Magalhães, queria alguém de pulso firme para liquidar a herança do austro-húngaro Elek Schwartz, que deixou a equipa em nono lugar. Indicaram-lhe um antigo internacional escocês, que tinha jogado no Celtic, no Aston Villa e no Arsenal. No Chelsea, não ganhou a Liga, mas mudou muitas coisas em Stamford Bridge, desde a cor dos calções, que passaram a ser azuis em vez de brancos, até à instalação da iluminação no estádio. No Porto, iria fazer dupla com um antigo jogador do clube, António Teixeira.

No tempo em que uma vitória por 4-0 sobre o Benfica, com os quatro golos marcados por Lemos, não chegaria para festejar um título, “águias” e “leões” voltaram a ficar à sua frente. Um empate nas Antas, com a Académica, e a derrota no Barreiro, com a CUF, foram fatais para o FC Porto. A condenação foi inapelável. O denominado “tribunal das Antas” proclamou a sentença. Na sua longa carreira, o “Doc” lá se ia habituando a não chegar ao fim dos contratos e foram contabilizadas 15 dessas saídas pelo jornal The Telegraph.

“ Doc” não aceitou resignadamente a substituição por António Teixeira e por um antigo guarda-redes, António Gama, e antes de regressar a Inglaterra, no fim de Abril de 1971, ainda passou algumas vezes pelas Antas para tomar banhos de sol enquanto a equipa se treinava. Despediu-se dos jogadores com um almoço íntimo em que participou também o médico, doutor José Santana. Pavão ofereceu-lhe uma salva de prata em nome de toda a equipa e “Doc” retribuiu, contrariando a imagem do escocês avarento, e pagou a conta.

De Tommy Docherty contam-se muitas histórias. No Mundial de 1958 foi observar o jogo do adversário seguinte da selecção escocesa: o Paraguai. Os sul-americanos perderam por 7-3 com a França. “Doc” rejubilou com a suposta fraqueza e assim dois dos melhores jogadores poderiam descansar. O resultado foi desastroso: 3-2 para o Paraguai. Noutra ocasião, no Manchester United, ao falar antes da final da taça, disse que o Southampton era um clube muito simpático e de boa gente. A resposta foi a derrota por 1-0.

Docherty esteve cinco anos no Manchester United mas, quando saiu, passou a ser lembrado como o treinador que desceu de divisão. Para se mostrar forte, despediu o escocês Denis Law, bola de ouro europeu de 1964, que se mudou para o rival da cidade, e foi com um golo dele, de calcanhar, que o Manchester City mandou o United para a II Divisão. Anos mais tarde, voltou a desafinar. Quando sir Alex Ferguson deixou o Manchester United, comentou: “Já estava na hora de pegar nas malas”. Não se esqueceu do dia em que o clube lhe enviou a factura dos dois bilhetes que pediu.

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