No último dia a ModaLisboa apresentou mulheres sem idade e marcou cesto

A 46.ª edição fechou com Filipe Faísca, Dino Alves e Luís Carvalho. Começaram assim os festejos do 25.º aniversário, que querem durar o ano inteiro.

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Um jogo de basquetebol, múltiplas mãos criativas para uma colecção e uma nova era que alia a tradição à tecnologia com sensibilidade feminina e masculina — a 46.ª edição da ModaLisboa terminou neste domingo à noite no Pátio da Galé com planos para comemorar os seus 25 anos ao longo de 2016.

A primeira grande enchente do evento foi o desfile de Filipe Faísca. Palmas, um tributo a David Bowie e o criador a dançar, no fim, com Manuela Moura Guedes, uma das suas modelos, ao som de Dancing in the street. Horas antes do desfile, Faísca tomava atenção aos saltos altos Christian Louboutin das modelos a caminhar num dos corredores dos bastidores e falava-nos de uma “não-idade”, agora descontraído.

A sua colecção para o Inverno, apresentada este domingo com a bailarina Kimberley Pearl, o stylist Pedro Crispim, a modelo Sofia Baessa ou a antiga jornalista da TVI Manuela Moura Guedes “não quer estabelecer “um tempo”, é “uma referência a Portugal” que recupera “a manufactura portuguesa” e a traz para os nossos dias.

Em New Age, Faísca mostra “como podemos trabalhar com novas tecnologias e, ao mesmo tempo, com as nossas tradições”. Há uma modelo de smartphone na passerelle, homens de túnica e cabelos compridos, vestidos curtos com transparências ou longos em camadas e padrões florais, golas de pêlo aconchegantes e colares brilhantes. Preto, branco e muitos pormenores em renda. Roupa para uma mulher que o designer define, na folha de sala que apresenta a colecção, como “multifacetada, determinada, que por vezes também é homem, sem censura e sem idade. Homens com conjuntos leves e florais e a música Space oddity, de Bowie, e Foram cardos, foram prosas, de Manuela Moura Guedes.

No Inverno 2017, Filipe Faísca trabalha, então, “o homem, a mulher e o homem-mulher/mulher-homem”. “É muito importante que o homem perceba a sua sensibilidade feminina e que a mulher entenda e aceite a sua sensibilidade masculina”, diz ao PÚBLICO.

Ainda ao início da tarde, no último dia da ModaLisboa, Lidija Kolovrat pediu para se calçarem ténis e levou uma equipa de seis jogadores de basquetebol e árbitro para o ginásio da Marinha Portuguesa. Com macacões de uma só cor e vestes largas, encestaram e mostraram o movimento das roupas até o árbitro apitar, tocar outra música e se iniciar o desfile. Misturas de lã-caxemira, seda e burel envolveram homens e mulheres, e o macramé preto, aplicado em t-shirts e na bainha das saias, acentuou os movimentos.

Na plataforma de micromarcas Lab, os AwayToMars mostraram a nova etapa do seu projecto que quer democratizar a autoria num site colaborativo. Foram enviados mais de 400 designs por pessoas de 67 países diferentes e a terceira colecção é o resultado das contribuições de 12 pessoas. Regressam os básicos sem género e os cortes geométricos em tecidos impermeáveis transparentes, atilhos em saias, camisas e sobretudos. As cores são as de elementos como a pedra e o metal, “que são conhecidos em todo o mundo mas interpretados de maneira diferente em cada cultura”, explicam na folha de sala.

Saymyname trouxe Electriccable para a passerelle, os azuis do céu em contraste com vermelhos e pinças em várias peças a evocar a forma dos relâmpagos numa noite de tempestade. Um Inverno de camisas de riscas, culotes, vestidos camiseiros, macacões em tecidos texturados e casacos com mangas volumosas.

A Voz de Angola fez-se ouvir no Pátio da Galé com a designer Nadir Tati, que pensou na “situação actual da mulher angolana no mundo” e mostrou vestidos de noite dourados e vermelhos, enquanto o polaco Piotr Drzal apresentou propostas em preto, cinza e dourado.

E, ao cair da noite, com os atrasos do dia a acumularem-se, foi a vez de Os Novos Reis de Dino Alves, com coroas douradas, grandes laços e brocados, mangas em balão, bolsos trabalhados e bainhas recortadas com formas de elementos decorativos barrocos. É uma “espécie de nova classe social”, explica no descritivo da colecção, “onde não são os bens materiais, os palácios, os nomes pomposos de família, as jóias, nem as coroas de pedras preciosas, que lhes conferem o título de realeza, mas sim a riqueza do seu carácter, a nobreza das suas atitudes e acções”.

O gelo de Luís Carvalho (Cold as Ice) encerrou esta edição em tons de branco, preto e rosa pastel. Há vestidos esvoaçantes e ombros descobertos contrabalançados por blazers de corte recto para homem, sobretudos longos para mulher e estolas de pêlo.

Acompanhar a mudança
Em ano de celebração, a ModaLisboa quer cantar o parabéns em livro, organizar mais eventos, aprofundar relações com estruturas industriais. “Queremos muito fazê-lo porque são 25 anos de ModaLisboa” que se traduzem em “25 anos de moda portuguesa”, diz ao PÚBLICO Eduarda Abbondanza, presidente da Associação ModaLisboa. Mas condensar imagens de 25 anos é uma “tarefa árdua”.

“Um dos fenómenos da ModaLisboa é ter tantos intervenientes e o facto de se ter tornado uma casa para os criadores e para as pessoas que cá trabalham."

Outro dos planos, que só se concretizará em 2017, é a mudança de espaço “pelo menos uma vez por ano”. “O evento precisa de crescer e este espaço [Pátio da Galé], neste momento, tem algumas limitações. E a cidade está a transformar-se e a evoluir de tal maneira que, sendo a ModaLisboa um evento de Portugal mas especialmente da cidade de Lisboa, relaciona-se com estas mudanças”, acrescenta Abbondanza.

O balanço da 46.ª edição é positivo. Ao final da tarde, ainda sem uma estimativa do número de pessoas que passaram pelo Pátio da Galé, Abbondanza identifica a mudança da loja temporária Wonder Room, com marcas portuguesas, do espaço BPI para uma tenda transparente no meio da Praça do Município, como responsável pelo maior fluxo de público. “Tornou-se um meeting point”, realça, com mais destaque, mais marcas e mais curiosos.

A Associação ModaLisboa voltará a contar com o apoio da Câmara de Lisboa para os próximos três anos (duas edições em 2016, duas em 2017 e duas em 2018). Esta edição teve um financiamento de 317.500 euros.

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