Mario Vargas Llosa junta-se a escritores de todo o mundo para contar a Guerra dos Seis Dias

Prémio Nobel é um dos 25 autores convidados a visitar Israel e a Palestina para testemunhar as consequências da ocupação, 50 anos depois.

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Mario Vargas Llosa JUAN MABROMATA/AFP

Mario Vargas Llosa associou-se ao casal de escritores norte-americanos Michael Chabon-Ayelet Waldman e à organização não-governamental (ONG) israelita Rompendo o Silêncio num projecto invulgar para assinalar, no próximo ano, o 50.º aniversário da Guerra dos Seis Dias, que acabou com a ocupação, por parte de Israel, de vários territórios palestinianos. Com o peruano distinguido com o Nobel da Literatura em 2010, 24 outros escritores de diferentes países vão visitar, a partir desta semana e ao longo do ano, vários lugares da Palestina recolhendo testemunhos da ocupação. No final, os seus relatos serão reunidos num volume a editar em Junho de 2017 simultaneamente nos Estados Unidos (Harper Collins) e em Israel (Books in the Attic), e ainda em meia dúzia de outros idiomas.

Entre os escritores convidados a integrar o projecto estão os britânicos Hari Kunzru e Taiye Selasi (também fotógrafa, de origem nigeriana) e a irlandesa Eimear McBride, os primeiros a rumar à Cisjordânia e à Faixa de Gaza. Seguir-se-ão, nos próximos meses, autores como os israelitas Ala Hlehel, Assaf Gavron e Nir Baram, a australiana Geraldine Brooks (Prémio Pulitzer), a norte-americana Rachel Kushner ou o irlandês Colm Tóibín.

Hebron, Ramala e Jerusalém serão alguns dos lugares a visitar pelos escritores-repórteres, em viagens organizadas pela ONG atrás referida, e com o objectivo de contactar directamente com alguns dos protagonistas da Guerra dos Seis Dias, como os soldados e actuais reservistas que intervieram na ocupação de Junho de 1967, mas também com os habitantes, em busca das suas histórias e testemunhos, mais do que das leituras que do processo possam ser feitas por historiadores e especialistas.

“Estou entusiasmada com a chegada da primeira delegação de escritores, e estou orgulhosa pela oportunidade que estamos a criar para os soldados partilharem as suas experiências nos territórios ocupados junto de figuras tão talentosas do mundo da literatura”, disse ao jornal The Guardian Yuli Novak, directora executiva da Rompendo o Silêncio. E mostrou-se convencida de que esta abordagem do tema através de um ponto de vista artístico permitirá olhar “a ocupação numa perspectiva que tocará os corações de muitas pessoas, tanto em Israel como internacionalmente, convencendo-as da necessidade de acabar com ela”.

Michael Chabon, americano de origem judaica, e Ayelet Waldman, israelita radicada nos Estados Unidos, decidiram avançar com este projecto depois da visita que ambos fizeram a Israel em 1992, quando se discutia a paz na região, que no ano seguinte viria a ser acordada em Oslo. Mais recentemente, em 2014, Waldman regressou a Israel e à Palestina, altura em que contactou com a Rompendo o Silêncio. “Os ensaios [dos escritores convidados] permitirão aos leitores compreender a situação na Palestina e em Israel numa perspectiva nova, através de uma narrativa humana, e não apenas a litania da destruição que todos os dias vemos nas notícias”, dizem Chabon e Waldman na apresentação do seu projecto.

 

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