Quem ganha com a desvalorização do euro?

Em Portugal, podemos dizer que quem mais beneficia com estas medidas de desvalorização do euro são principalmente as empresas que têm forte presença no sector económico fora do país

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Toby Melville/Reuters

Há cerca de dois anos, Fernando Henrique Cardoso, mais conhecido por FHC, afirmava do outro lado do mundo que é muito fácil baixar as taxas de juro e produzir inflação. Neste momento, o FED está com as taxas de juro baixas devido à crise que assolou todo o mundo e que começou nos EUA com a falência do Lehman Brothers, ou seja, a crise do “imobiliário” e a consequente falência de outros bancos.

A partir desse momento, o FED lançou vários estímulos à economia, desde a compra de dívida pública (como está a fazer agora o BCE na Europa) até à descida das taxas de juro. Adivinha-se que a FED suba as taxas de juro referência e que, caso a FED opte por esse caminho, o dólar valorize.

Ao mesmo tempo que o dólar está a valorizar, acabam os estímulos à economia por parte do FED. Assim, o que é que o BCE está a fazer para que o euro desvalorize? A comprar a dívida pública em mercados secundários, ou seja, a injetar dinheiro na economia. Quando injeta dinheiro na economia existem mais euros a circular e o euro perde competitividade; perde valor em relação ao dólar.

A combinação destes dois fatores faz com que o dólar, por um lado, suba a cotação, e, por outro, com que o euro diminua. Como o euro tem vindo a desvalorizar, isto faz com que as empresas europeias exportem mais para outros mercados, principalmente para o norte-americano.

Se o euro diminui a cotação, as pessoas que transacionam em dólar ganham poder de compra. Dessa forma, compram mais produtos europeus, que são transacionados em euros. E as empresas ao exportarem mais aumentam a sua rentabilidade. Logo, é extremamente necessário que produzam mais. Assim, ao criarem mais emprego vão criar mais consumo dentro da própria economia e isto faz então com que haja um crescimento económico.

Em Portugal, podemos dizer que quem mais beneficia com estas medidas de desvalorização do euro são principalmente as empresas que têm forte presença no sector económico fora do país. Temos o caso da Semapa, o caso da Mota-Engil, e até mesmo as exportações do vinho, como é o caso da Sogrape (que exporta para o mercado dos Estados Unidos).

Também podemos ter em conta outro fator, igualmente importante: a desvalorização do preço do petróleo. Se os preços diminuem, as empresas compram mais petróleo a um preço mais barato. Em suma, têm menos gastos e se têm menos gastos aumentam mais a sua margem de lucro. Todos estes fatores vão contribuir de uma forma ou de outra para o crescimento económico.

Quem perde nestes casos são os países que estão excessivamente dependentes do preço do petróleo, como é o caso de países como Angola ou Venezuela. Como a União Europeia exporta muito para os Estados Unidos, a sua balança comercial é positiva, pelo que um euro mais fraco pode dar incentivo à retoma na zona euro, tal como a queda dos preços do petróleo.

Não é verdade que a desvalorização de uma moeda enfraqueça necessariamente um país. Em alguns casos, até a fortalece. A diminuição do valor do euro em relação ao dólar faz com que castanholas espanholas, um croissant francês ou um Ferrari italiano custem agora menos no resto do mundo. Isso, por sua vez, estimula as vendas desses produtos e aumenta as exportações europeias, o que, obviamente, é bom para o emprego e para a economia em geral.

Por outro lado, a desvalorização do euro encarece os produtos de fora da sua zona económica; de um iPhone a uma mala Michael Kors. Já Wilde afirmava que adorava as coisas simples, porque elas são o último refúgio de um espírito complexo. Tudo que é complexo, já foi simples um dia.

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