Eixo Atlântico tenta serenar ânimos entre autarcas de Vigo e do Porto

Abel Caballero anunciou corte de relações entre os dois municípios por causa de declarações de Rui Moreira sobre a TAP, o aeroporto de Vigo e o Sá Carneiro

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Rui Moreira fez críticas que o autarca de Vigo considerou insultuosas Adriano Miranda

Os responsáveis pelo Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular tentaram esta sexta-feira pôr água na fervura do conflito entre o autarca de Vigo, Abel Caballero, e o seu homólogo do Porto, Rui Moreira, acusado de ter insultado aquela cidade galega numa entrevista, esta semana, à revista Visão. O autarca galego não gostou que Moreira afirmasse que, no sistema aeroportuário da euro-região, Vigo, com o seu aeroporto “miserável”, “sente-se como a salsicha fresca dentro da francesinha”, e na quinta-feira cortou relações com o município enquanto o independente não se retratar e pedir desculpa. Os dois remeteram-se entretanto ao silêncio, para não alimentar mais esta polémica.

O presidente do Eixo Atlântico, Ricardo Rio, foi lesto a oferecer-se para mediar o conflito entre os dois autarcas que se vinha avolumando após o anúncio, feito pela TAP, de que iria passar a voar entre o aeroporto de Vigo e Lisboa. Rui Moreira viu esta opção, a par da ponte aérea Porto-Lisboa, como uma tentativa de retirar ao Porto parte do movimento de passageiros, mas Caballero, que tem tentado fortalecer a infra-estrutura do seu concelho, pediu que as declarações de Moreira fossem analisadas em Bruxelas, por configurarem, na sua perspectiva, uma tentativa de limitar a concorrência e a actividade de uma empresa privada.

Fontes das câmara de Vigo e do Porto asseguraram ao PÚBLICO que Moreira e Caballero nunca falaram, nas últimas semanas, pessoalmente sobre este assunto, mas, em declarações públicas, acabaram a travar-se de razões, com o antigo ministro dos transportes de Espanha a denunciar que o Sá Carneiro só consegue os seus bons resultados “com muitas ajudas”. Em resposta, Moreira fez as declarações que foram já consideradas deselegantes, mesmo por quem concorda com a guerra que vem movendo à estratégia da TAP para o Porto, como o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que disso deu conta em declarações à TSF.

O corte de relações surgiu na quinta-feira, em conferência de imprensa. O socialista Caballero fez questão de separar a cidade do Porto, os seus cidadãos, que “Vigo e os vigueses acarinham”, do seu autarca, cujas declarações considerou “insultuosas”, “impróprias de uma pessoa, ainda mais de alguém que é autarca e, mais ainda, autarca de uma cidade amiga”, e com o qual se recusa sentar à mesma mesa, nas instituições que ambos integram, se não houver um pedido de desculpas. “Nunca ninguém insultou Vigo assim. Não vou tolerar isto”, vincou numa conferência de imprensa em que afirmou estar à vista, com esta opção da TAP, que “em igualdade de condições, o aeroporto de Vigo descola”.  

Mas nesta mesma conferência de imprensa, Caballero lançou também farpas à aposta, em termos de investimento público, do Governo Regional da Galiza no aeroporto de Santiago de Compostela, em detrimento do de Vigo.  Em estudos do Eixo Atlântico – um deles dirigido por este catedrático em Economia – na hierarquia do sistema aeroportuário da euro-região, Santiago surge como o segundo aeroporto com maior vocação internacional, depois do Porto, mas o autarca tem lutado por afirmar Vigo no contexto galego, e recusa esta secundarização.  

No Eixo Atlântico chegou a ser defendida a hipótese de constituição de um sistema aeroportuário integrado, mas do lado português, a privatização da ANA e a entrega de todas as infra-estruturas nacionais a uma única empresa privada, afastou qualquer hipótese de influência dos municípios no serviço ali prestado. Mas mesmo na Galiza não há uma estratégia comum para os equipamentos existentes, como se percebe pelas afirmações de Caballero, que vão de encontro a uma outra declaração de Rui Moreira na entrevista à Visão: “O drama da Galiza é que está à frente do Norte de Portugal em tudo, menos nos aeroportos. Tem três, e não se entendem entre eles”.

Compreendendo o interesse de Vigo no serviço da TAP, o actual presidente do Eixo Atlântico, Ricardo Rio, assinala: “Todos temos de perceber que não podemos querer ganhar todas as batalhas no interesse próprio, local. O aeroporto de Vigo não será o aeroporto mais importante da euro-região. Mas o seu porto é-o, com certeza”, afirmou, insistindo que na “questão central”, o alegado prejuízo das decisões da TAP, Porto e Vigo votaram, com todos os municípios do Eixo, uma moção repudiando o corte de rotas.

O presidente do Eixo atlântico, Ricardo Rio, e o secretário-geral deste agrupamento de municípios galaico-portugueses, Xoán Mao, consideram por isso que esta zanga “pessoal” entre os responsáveis de dois municípios fundadores da organização prejudica os interesses do Norte de Portugal e da Galiza. “Não podemos andar a discutir capelinhas quando temos questões estruturantes para resolver”, insiste Mao, considerando, de facto, que as declarações de Moreira "não foram simpáticas". “Mas temos de acabar com isto”, concluiu, mostrando-se esperançado na mediação oferecida por Ricardo Rio. 

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