Lopetegui obrigado a saltar da carruagem a meio do percurso

Espanhol deverá abandonar comando técnico do FC Porto, depois de três maus resultados consecutivos. Ausência de troféus e forte investimento no plantel lançaram pressão extra sobre o treinador.

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Rafael Marchante/Reuters

Setenta e sete jogos e um ano e meio depois, Julen Lopetegui estará de saída do FC Porto. O treinador espanhol não terá resistido ao súbito fosso de quatro pontos para o líder da Liga, cavado nos últimos dias, e vê interrompido pela metade o contrato de três anos que assinara com o clube. A rescisão não foi ainda confirmada oficialmente, mas a imprensa espanhola e as informações que o PÚBLICO apurou apontam nesse sentido. O treino matinal de sexta-feira, de resto, passou subitamente a ser à porta fechada.

Os sinais de desgaste tinham vindo a acumular-se ao longo das últimas semanas e não foram sequer amenizados pela efémera passagem dos “azuis e brancos” pela liderança da Liga, antes do clássico com o Sporting. Contestado nas bancadas do Estádio do Dragão desde a época passada — na última jornada, frente ao Gil Vicente, pôde ler-se a mensagem: “Para voltarmos a triunfar, o nosso ADN temos de recuperar” — , o técnico basco foi perdendo margem de manobra, cenário agravado com a eliminação na fase de grupos da actual edição da Liga dos Campeões.

A derrota em casa com o Dínamo Kiev, por 0-2, que hipotecou a mais do que provável qualificação do FC Porto para os oitavos-de-final da prova, é um dos pontos mais baixos da passagem de Lopetegui por Portugal. Pior só mesmo a goleada sofrida na mesma competição, na temporada anterior, em Munique: o Bayern venceu por 6-1 e travou o promissor percurso dos “dragões” nos quartos-de-final. Apesar do espalhafato da queda, a equipa mereceu os aplausos dos adeptos que se deslocaram ao aeroporto para receber a comitiva.

Nessa altura, o foco era o campeonato e a perseguição ao Benfica no topo da tabela. Mas a aura de esperança esfumou-se na penúltima jornada, com um empate no Restelo, que custou mais a digerir porque os “encarnados” não tinham conseguido vencer em Guimarães. O título estava matematicamente entregue e a época terminava sem troféus, depois de uma eliminação precoce na Taça de Portugal e de uma derrota nas meias-finais da Taça da Liga.

Foi, por isso, com um pesado manto de dúvidas e descrença às costas que Julen Lopetegui embarcou no segundo ano no Dragão. Depois de um investimento de perto de 43 milhões de euros em reforços na primeira época— com Adrián López (11 milhões), Martins Indi (7,7) e Brahimi (6,5) à cabeça —, o FC Porto voltava a apostar forte no mercado. Perdeu peças fundamentais como Jackson, Danilo, Alex Sandro ou Casemiro, mas fez o maior encaixe de sempre em transferências, ultrapassando os 100 milhões de euros. E soube movimentar-se novamente para recompor o plantel, desembolsando mais 36,5 milhões, 20 dos quais aplicados em Imbula. Mais do que isso: inflacionou a folha salarial com a chegada de Casillas, Maxi Pereira e Osvaldo.

Por todas as razões — e porque o futebol calculista, de circulação a baixo ritmo e com pouca dinâmica nunca convenceu os adeptos —, o treinador espanhol tinha uma margem de erro muito reduzida para gerir. Desperdiçou parte dela na Champions, o resto foi destruído nos últimos três jogos: desaire com o Marítimo na Taça da Liga, derrota com o Sporting na Liga e empate com o Rio Ave. Após o encontro com os vila-condenses, Lopetegui disse ter forças para continuar, mas tudo indica que será Rui Barros o homem do leme no derby com o Boavista, no domingo.

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