Para a Harsco, a escória é um negócio sólido

Escória é transformada em agregado inerte para a construção e é aplicado em estradas, estádios de futebol, jardins, superfícies comerciais.

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Grupos de construção são clientes dos produtos da Harsco NELSON GARRIDO

Desde 2011, ano em que o grupo industrial norte-americano Harsco se instalou em Portugal, que tudo o que sai dos fornos das siderurgias da Maia e do Seixal é reaproveitado. A escória, o lixo que é retirado desses locais, transforma-se em ASIC – Agregado Siderúrgico Inerte para a Construção, depois de passar por várias etapas: acondicionamento, triagem, lavagem e britagem. Este novo produto reciclado, subproduto do aço e agregado artificial, tem como principal concorrente a pedra e, para já, no nosso país, tem sido aplicado em estádios de futebol, solos compactados, parques de estacionamento, jardins, aterros, leitos de pavimento, bases e sub-bases.

O ASIC parece pedra, tem as mesmas volumetrias, mas os montes de enormes dimensões junto à Siderurgia da Maia revelam que o seu aspecto é mais escuro. Ali produz-se ASIC que é sobretudo procurado por empresas do norte do país e as máquinas não param para dar outra utilidade ao que sai a ferver dos fornos da siderurgia.

Joaquim Carvalho, director-geral da Harsco Portugal, destaca as características do produto e não contorna a concorrência. “É mecanicamente mais resistente do que a pedra, tem uma durabilidade superior e um preço inferior, é 75% mais económico. Substituímos completamente a pedra, estamos a reduzir a pegada ecológica porque é um produto sustentável”. “Com o tempo, a pedra pode desgastar-se e o ASIC tem uma durabilidade superior”, acrescenta. E é um produto certificado pelas normas europeias.

A utilização do ASIC é feita essencialmente na horizontal. A empresa quer tratar da certificação para betuminosos, ou seja, para fazer alcatrão. “Evitar-se-iam mais acidentes, o ASIC é um material mais rugoso do que a pedra e, portanto, o pneu adere mais”. “Estamos a procurar utilizações mais nobres, como o caso de estruturas betuminosas, e estamos a fazer estudos para adubos”, adianta Joaquim Carvalho.

Noutros países, o ASIC já está a ser utilizado no mercado agrícola, como condicionador de solos e usado como agente calcário não só na agricultura, como em parques, campos de golfe, parques infantis, e estufas.

A Harsco Portugal tem, neste momento, uma carteira de clientes com várias empresas de construção civil e obras públicas - Estradas de Portugal, Somague, Teixeira & Duarte, Casais, são alguns exemplos -, bem como câmaras municipais e juntas de freguesia. Com 36 trabalhadores no mercado nacional, a empresa facturou 3,5 milhões no ano passado e quer crescer entre 15 a 20% no próximo ano.  Em termos internacionais, o grupo, que opera em várias áreas concentradas na reciclagem e comercialização de ASIC, está em mais de 50 países, empresa cerca de 12.300 funcionários e factura mais de 2,8 mil milhões de euros.

Produto multiusos
O ASIC já foi aplicado no centro de estágios do Benfica no Seixal, no porto de Leixões, na Faculdade de Medicina do Porto, no Campus da Justiça em Valongo, está a ser utilizado no pavilhão João Rocha do Sporting, e esteve na concepção do edifício do Centro Operacional de Correios do Norte, na Maia. Foi também utilizado no campo do Estádio do Bessa, permitindo uma drenagem eficiente depois de 36 horas a colocar água para o relvado , e usado como sub-base, e depois coberto por um agregado natural, na linha ferroviária na Siderurgia do Seixal.

Joaquim Carvalho explica como tudo começa até à comercialização do ASIC. “A sucata entra para dentro dos fornos das siderurgias, é fundida a 1.800 graus. Para um lado sai o aço, para o outro lado saem as escórias. Transportámos essas escórias para as nossas instalações, fazemos o tratamento: esfriamento, crivagem e britagem até que sai o produto chamado ASIC”.

A Harsco Portugal está instalada junto às siderurgias da Maia e do Seixal e praticamente tudo o que produz é vendido. A procura tem aumentado, mas foi preciso fazer o trabalho de casa. “No início, o produto não era conhecido, quando se entra no mercado com um produto 75% mais económico as pessoas duvidam, olham-no como um resíduo”. A questão ambiental ajudou neste processo e o argumento de evitar, por ano, o depósito de 300 mil toneladas de escórias em aterros é apresentado um trunfo. As cimenteiras são também clientes e compram cerca de 40 mil toneladas por ano de ASIC para misturarem com o cimento. “É um produto reciclado, estamos a fazer divulgação junto dos arquitectos. Não foi fácil entrar no mercado, mas agora estamos a vender muito bem”, afirma Joaquim Carvalho.

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