Esta é uma daquelas discussões que está em voga nos dias de hoje, devido à grande emigração de jovens portugueses. Da parte dos políticos, aquilo que ouvimos de um lado e de outro são argumentações com base em casos particulares, momentos específicos ou números que, consoante os interesses, uns comparam com o mesmo período do ano anterior e outros comparam com o mês passado.
Quando algo está mal, a política deve tentar resolver o problema geral. Quando algo está bem, a política deve tentar resolver o particular. Quando se parte do particular para o geral, não é possível chegar a conclusões inequívocas — há sempre casos particulares que contradizem outros casos particulares — e entramos no sempre ambíguo mundo das percepções individuais. Estas são as de uma pessoa que anda à procura do primeiro emprego há dois anos, aquele que vos escreve.
Se me perguntarem se há empregos, a resposta é um sólido “sim”. Não existem em quantidades exageradas, mas com alguma persistência acaba por se conseguir alguma coisa. No entanto, seria redutor considerar que cada emprego disponível é uma oportunidade.
Para mim, uma oportunidade é um bom emprego. No entanto, entendo que a questão das oportunidades esteja ligada às expectativas que cada um tem para a sua vida. Onde uma pessoa vê uma oportunidade, outra pode a não ver. E muitas vezes está relacionado com factores que vão muito para além da preguiça. É natural que uma pessoa que fez um investimento financeiro e de tempo na sua formação, no meu caso estamos a falar de 15 anos de estudo, queira obter algo mais do que a mera sobrevivência. Nos dias de hoje, a ambição dos outros é algo que incomoda: se uma pessoa não tiver nada e for ambiciosa, é acusada de ser pobre e mal-agradecida; se tiver muito, e quiser ainda mais, é acusada de ser gananciosa.
Porém, a questão é: por onde começar? Ninguém assenta praça em general, mas isso quer dizer que temos que aceitar a primeira coisa que nos apareça à frente, tenhamos ou não que pagar e que não nos mostre futuro? Eu não sou contra estágios, mesmo os não-remunerados, se forem curtos e derem perspectivas de futuro às pessoas. Muitos dos que investem 15 anos, como eu, podem investir mais três meses. O problema está na reciclagem de estagiários. O que é mau para quem sai das faculdades e para a produtividade das empresas, que gastam constantemente horas em formação com estagiários diferentes, sem que acabem por tirar real proveito disso.
Nunca entendi porque é que em empregos onde é exigida menos formação, as empresas não têm problemas em contratar e fornecer formação durante o período de trabalho. E que tantas empresas, que pedem mais qualificações, desconfiem de pessoas que passaram anos a preparar-se para aquela oportunidade, exigindo mais um teste — o estágio —, que mais não é do que deixar o estagiário numa posição em que só ele pode perder tudo. Não faz sentido. Para mim, isto só acontece num país onde, por mais trabalhos que existam, não há assim tantas oportunidades para os jovens.