Rita Marques na final com Leonor Bessa

Campeãs nacionais nos escalões de sub-12 e sub-18 anos discutem título na Taça FPG

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Rita Marques é uma surpreendente e precoce finalista na Taça FPG / © HUGO RIBEIRO

Leonor Bessa e Rita Costa Marques, as campeãs nacionais de sub-18 e de sub-12, respetivamente, discutem amanhã (Domingo) a final de 36 buracos da Taça FPG/BPI, que a Federação Portuguesa de Golfe está a organizar no Estela Golf Club, na Póvoa de Varzim. 

Uma vez mais, o nevoeiro prejudicou mais o torneio masculino do que o feminino e as senhoras (na realidade, as raparigas) continuam a cumprir o programa pré-estabelecido, embora as surpresas do foro desportivo continuem a caracterizar a 32.ª edição deste Major amador nacional. 

Nas meias-finais de hoje (Sábado), Leonor Bessa, de 17 anos, justificou o seu estatuto de favorita e derrotou por 4/3 a surpreendente Ana Ribeiro, que ontem (sexta-feira) tinha batido Rita Félix, três vezes finalista da prova. 

Mas a surpresa veio de Rita Costa Marques, de handicap 10,2 e de apenas 12 anos, ao superiorizar-se por 2 up (2 buracos de vantagem) à vice-campeã nacional amadora e campeã nacional de sub-18 em 2014, Beatriz Themudo, de 19 anos, de handicap 1,8! 

Há um ano, Joana Silveira fixou um novo recorde nacional ao tornar-se, aos 14 anos, na mais jovem de sempre a vencer a Taça FPG/BPI. Agora, Rita Costa Marques poderá pulverizar essa marca se triunfar numa final de 36 buracos em que Leonor Bessa parte como a esmagadora favorita. 

Um aspeto importante é o facto de Rita Costa Marques, Leonor Bessa e Beatriz Themudo serem todas do Club de Golf de Miramar, o campeão nacional de clubes femininos em 2014 e 2015, onde ainda militam Susana Ribeiro (campeã nacional de profissionais), Inês Barbosa (campeã nacional de sub-16) e Joana Silveira (vencedora da Taça FPG/BPI em 2014). 

Essa confluência de valores femininos num mesmo clube, sob a orientação de um mesmo treinador (Nelson Ribeiro), eleva a competitividade e cria um enorme espírito de grupo. Aliás, Joana Silveira decidiu não defender o título por razões escolares, mas hoje, Sábado, fez questão de deslocar-se à Estela para ver as suas companheiras e também para ver jogar o seu namorado, Pedro Lencart, que se qualificou para as meias-finais masculinas. 

“Uma vitória como a da Joana (Silveira) na Taça do ano passado é sempre motivadora, porque mostrou às mais novas que nada é impossível”, disse Rita Costa Marques, uns bons 30 centímetros mais baixa do que Beatriz Themudo, uma das jogadoras nacionais que bate mais comprido. 

Tal como Joana há um ano, também Rita não se intimidou por ficar sempre uns bons metros atrás no fairway: “estava quase sempre mais longe da bandeira do que ela, mas sabia que tinha uma madeira-3 ou ferro-5 para o green e consegui recuperar. Dar bons shots ajudou sempre, mas o principal foi o jogo curto, porque com madeiras ou ferros compridos de segundo shot falha-se greens, mas hoje, aí numas sete vezes, estive bem no chip e putt”. 

O momento mais emblemático dessa capacidade de salvar situações complicadas veio no penúltimo buraco, como contou Alexandre Abreu (eliminado logo na primeira ronda por Tomás Silva), que viu esta meia-final até ao fim: “Ela saiu do bunker e meteu um putt para aí de uns 7 metros para manter a vantagem de 1 buraco para o último.” 

“O meu pai”, conta a própria jogadora, “diz que em situações destas temos de pensar que o putt é nosso amigo. É como marcar um penálti, é preciso pensamento positivo e concentração. Foi nisso que pensei naquele putt”. 

Beatriz Themudo pareceu acusar a pressão de ter de vencer o último buraco. No 18, foi ao bunker do lado direito do green e acabou por ceder, dilatando o resultado final para 2 up. A vice-campeã nacional amadora estava, naturalmente, inconsolável e zangada pela sua exibição, caracterizando-a de “indescritível”. 

Mas apesar da sua exibição menos conseguida, há muito mérito da sua jovem rival, pela postura em campo, em duelos renhidos. “É verdade que no Campeonato Nacional de Jovens sou favorita”, admite Costa Marques, “e aqui nunca fui, nem ontem (vergou Joana Mota por 1 up), nem hoje. Mas não posso dizer que sinta uma grande diferença porque sei lidar com a pressão, mesmo quando sou favorita.” 

Amanhã irá viver a mesma situação numa final física e mentalmente exigente (36 buracos), diante da esmagadora candidata Leonor Bessa. 

Afinal, estamos a falar de uma jogadora que no último ano foi a melhor portuguesa em todas as competições internacionais que disputou, incluindo o Açores Ladies Open, onde, diante de 17 das 20 primeiras do ranking da segunda divisão profissional europeia (LETAS), foi 16ª classificada! 

Para mais, Leonor Bessa tem funcionado como uma espécie de mentora de Rita Costa Marques, como conta a mais jovem: “Ela sempre foi uma motivação para mim. Quando ela chegou ao clube, eu não jogava muito bem e não é normal as melhores virem jogar connosco. Mas a Leonor veio muitas vezes ter comigo para treinar e conversar. Ainda aqui, depois de não ter jogado muito bem em torneios anteriores, senti que ganhei confiança no stroke play, mas nunca pensei que iria vencer dois matches seguidos. Ganhei o primeiro, a Leonor veio ter comigo e disse-me: “Viste, nada é impossível, vais ganhar também a seguir e vamos lutar as duas pelo título.” 

Palavras proféticas de Leonor Bessa que sentiu dificuldades no início do confronto com a surpreendente Ana Ribeiro, já que a jogadora de Amarante venceu o buraco 2 e depois chegou a ter putt para liderar por 2 buracos. 

“Joguei muito bem nos primeiros nove buracos mas depois senti a pressão de defrontar a melhor amadora portuguesa. O jogo não desaparece de um buraco para o outro e está tudo na cabeça, pelo que aprendi muito com esta derrota. Por outro lado, também não é fácil defrontar em match play uma amiga», reconheceu Ana Ribeiro, para quem a presença nas meias-finais, aos 17 anos, depois de não competir durante um ano, já tinha sido um feito, pois “nunca estava à espera de vencer a Rita Félix”. 

Se Ana Ribeiro começou bem a meia-final, Leonor Bessa admitiu que não foi a melhor entrada em jogo e terá de retificar esse aspeto na final: “A primeira volta correu-me mal e falhei muitos fairways, o que não é costume, pois costumo ser forte do tee. Vacilei em alguns buracos, a Ana jogou bem e ao fim de dois buracos já ia a perder por 1. Mas pensei que em match play tudo pode acontecer, mantive a calma e o jogo saiu-me muito melhor na segunda volta. Fiz então alguns birdies, ganhei três buracos seguidos (11, 12 e 13) e ganhei bem, apesar de ela ter mostrado bom golfe para quem esteve tanto tempo parada.” 

Leonor Bessa confirma que “somos muito amigas, mesmo estando agora em clubes diferentes”, mas acrescenta logo que “amigos, amigos, golfe à parte2 e nesta meia-final conseguiu bloquear esses sentimentos. 

Amanhã, a partir das 8h50, necessitará de fazer o mesmo, apesar de defrontar uma jogadora 5 anos mais nova, que trata por “a minha irmãzinha, por quem às vezes sofro nos torneios. É uma jogadora com muita garra, que merece o tudo de bom que lhe tem acontecido aqui, porque treina muito. Esta final é uma novidade para qualquer uma de nós e será seguramente um momento enriquecedor para ambas”. 

Se Leonor Bessa provou na meia-final que em competição é capaz de manter a frieza necessária, Rita Costa Marques promete o mesmo: “Em golfe, no match play, não podemos dar “abébias” só por termos uma amiga à frente. Seja amiga, mãe ou pai, temos sempre de tentar ganhar.” 

O treinador de Miramar, Nelson Ribeiro, pode estar orgulhoso das suas “meninas”.

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