Tate vai ter de devolver pintura de Constable

No ano passado, o museu britânico concordou em devolver a pintura roubada pelo nazis. Mas depois voltou atrás.

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Beaching a Boat, Brighton, uma pintura a óleo que se encontra na Tate Britain desde 1986, está avaliada em mais de um milhão de euros

Há um ano e meio, uma comissão criada pelo governo britânico recomendou que a Tate Britain devolvesse um quadro do pintor romântico John Constable aos herdeiros de um aristocrata húngaro depois de concluir que se tratava de uma obra de arte pilhada pelos nazis.

Beaching a Boat, Brighton (1824), uma pintura a óleo que se encontra na Tate Britain desde 1986, foi investigada pelo Spoliation Advisory Panel, uma comissão de oito especialistas criada pelo Ministério da Cultura britânico para mediar processos de reclamação de obras de arte alegadamente roubadas que estejam actualmente em instituições públicas.    

O museu concordou em devolver a pintura de Constable em Maio de 2014, mas depois voltou atrás alegando ter recebido novas informações que punham em causa a conclusão de que o quadro tinha sido roubado. Avaliada em mais de um milhão de euros, a pintura pertencia a um coleccionador húngaro de origem judaica, o barão Ferenc Hatvany, que a comprou num leilão em Paris em 1908. Uma lista oficial, criada pelo governo húngaro a seguir ao fim da Segunda Guerra Mundial, inclui o quadro entre as obras de arte saqueadas pelo exército alemão durante a invasão da Hungria em 1944.

Mas o Museu de Belas Artes em Budapeste descobriu recentemente um documento nos seus arquivos que levantou dúvidas sobre o destino dado à pintura. Trata-se de um pedido de exportação do óleo de Constable, datado de Dezembro de 1946, o que colocou a possibilidade de o barão húngaro ter recuperado o quadro depois da guerra e tê-lo vendido. Mas o documento não contém o nome do proprietário original – e, sim, o de uma mulher que terá negociado arte na Hungria do pós-guerra, mas que tinha ligações ao mercado negro, bem como o de um outro aristocrata. O Spoliation Advisory Panel defende que não existem provas de que o barão Hatvany tenha recuperado o seu Constable depois da guerra e o tenha vendido. Notando que não foi encontrada qualquer ligação entre as duas pessoas identificadas no pedido de exportação, a comissão concluiu que não existem elementos no documento para impedir a devolução da pintura aos três herdeiros de Hatvany.

Beaching a Boat foi doado à Tate em 1986 por uma mulher identificada como P. M. Rainsford, que adquiriu a pintura em 1962 numa galeria. A advogada dos herdeiros de Hatvany – que vivem em Paris e na Suíça e que iniciaram o processo em 2012 – considera que a postura de resistência da Tate tantos anos depois da Segunda Guerra mostra o quão difícil continua a ser reclamar obras de arte pilhadas. Da primeira vez que a comissão governamental aconselhou a Tate a devolver o Constable, não deixou de criticar o museu por não ter investigado a proveniência da pintura.   

A Tate ainda não anunciou formalmente o que pretende fazer. A recomendação do Spoliation Advisory Panel será discutida na próxima reunião de administradores do museu, segundo o diário britânico The Guardian.

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