CDU procura contrariar o voto útil e capitalizar protestos

Rota de Jerónimo de Sousa percorre quase todos os distritos do litoral mas dá especial atenção a Lisboa e Setúbal. Renegociação da dívida e estudo sobre saída do euro entre as bandeiras eleitorais.

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Jerónimo participou neste sábado num encontro da CDU em Lisboa Enric Vives-Rubio

Há dois grandes adversários nestas eleições para a coligação que junta o PCP e Os Verdes: a abstenção e o voto útil que pode fazer fugir votação para o PS ou para outros partidos de protesto novos. Embora percorra quase todos os distritos litorais nos próximos 14 dias, olhando para o calendário de campanha de Jerónimo de Sousa percebe-se uma aposta forte da CDU – Coligação Democrática Unitária nos distritos de Lisboa e Setúbal. O objectivo de Jerónimo é reforçar a votação (teve 7,94% em 2011) e somar mais deputados aos actuais 16 - mas não diz quantos.

Até ao final da campanha eleitoral, a caravana comunista e ecologista dedica um total de quatro dias e meio ao distrito de Lisboa e dois ao de Setúbal. Em 2011, a Coligação Democrática Unitária elegeu cinco deputados em Lisboa e quatro em Setúbal (onde foi a terceira força mais votada). Com a queda da influência do Bloco em Lisboa, percebida tanto nas autárquicas de 2013 como nas europeias do ano passado, a CDU olha para o distrito com maior peso electivo do país como um desafio fundamental. É aqui que arranca a campanha oficial com um mini-desfile da Praça da Figueira para o Coliseu dos Recreios já este domingo. Essa será a primeira réplica da marcha A Força do Povo de dia 6 Junho – o objectivo é fazer mais três grandes desfiles em Almada, Évora e Braga.

Setúbal também é muito apetecível porque, em vez dos 17 mandatos que elegia até aqui, serão agora 18 - talvez por isso, o encerramento da campanha da CDU, na noite de dia 2, far-se-á na margem Sul. O distrito ganha o representante que Santarém perdeu nos normais acertos feitos pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) devido à distribuição populacional. Em Santarém, a CDU elegeu António Filipe, que volta a ser ali cabeça de lista, mas os 21.400 votos deverão continuar a chegar para o manter.

Porto e Braga, onde a coligação elegeu respectivamente dois e um deputados também recebem várias visitas de Jerónimo. Fora do percurso de Jerónimo – pelo menos do que já se conhece – fica o distrito de Portalegre, onde a CDU escolheu como cabeça de lista Manuela Cunha, d’Os Verdes, que tem feito uma intensa campanha durante o Verão.

O mote da CDU continua a ser a defesa de uma “política alternativa, patriótica e de esquerda”, presente em todos os discursos dos candidatos. Ultimamente, as bandeiras e cenários dos comícios receberam novas palavras em letras garrafais como verdade ou confiança.

A CDU vai tentar capitalizar apoios com a radiografia que faz do país pós-troika: mais desemprego, mais pobreza, mais impostos, menos serviços públicos. Esta legislatura foi profícua em protestos e greves. Os temas fortes da coligação de esquerda para a campanha são a renegociação da dívida, a preparação da saída do euro e o controlo público da banca. Esperam-se de Jerónimo de Sousa críticas demolidoras à gestão PSD/CDS e a permanente acusação da colagem do PS às políticas de direita.

Cara incontestável e incontestada da CDU, Jerónimo de Sousa agrega uma simpatia nunca vista nos líderes comunistas anteriores, com excepção de Cunhal – isso nota-se nos sucessivos bons resultados nos barómetros e o próprio reconhece que a aceitação na rua tem melhorado ao longo dos anos – “os comunistas já não são vistos como o bicho-papão”. Mas os 68 anos começam a acusar o peso. O seu programa para estas duas semanas concentra actividades sobretudo a partir da hora do almoço e que se prolongam até perto das 23h – Jerónimo tem por princípio vir dormir sempre a casa, em Pirescoxe (concelho de Loures) por poucas horas que sejam.

Ao contrário dos outros partidos, não existe a figura do director de campanha na CDU – e não é de admirar, atendendo à sua filosofia - porque é considerado um “trabalho colectivo”. Mas há, porém, uma espécie de comissão eleitoral que define as linhas gerais da campanha a nível nacional, onde se incluem a programação, a logística no terreno, e as estratégias de propaganda e comunicação (onde já se inclui uma maior atenção às redes sociais), descreve Jorge Cordeiro, responsável pela comissão e membro da comissão política e do secretariado do PCP.

O orçamento desta campanha é de 1,5 milhões de euros, mais 60% do que a CDU gastou em 2011 (925 mil euros).

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