"Mesmo depois destas eleições, a estabilidade política não vai voltar à Grécia"

O primeiro-ministro Alexis Tsipras jogou numa instabilidade a curto prazo apostando numa possível maior estabilidade a médio prazo. O analista do centro de estudos Bridging Europe (de Atenas), Dimitris Rapidis, desconfia que irá falhar.

Foto
Dimitris Rapidis, analista do centro Bridging Europe, diz que um novo Governo não terá qualquer espaço para não cumprir o acordo para um terceiro empréstimo com os credores DR

O analista político Dimitris Rapidis é cuidadoso nas previsões. É "a primeira vez desde os anos 1970 que temos um ambiente político tão instável, volátil e frágil".

Dimitris Rapidis diz que a decisão de Tsipras poderá resultar a curto prazo, ou seja, ele estará ainda suficientemente forte para vencer eleições, mas provavelmente não a médio. Os credores, que receberam bem a notícia desta nova ida às urnas, não se aperceberam que o novo acordo vai falhar, defende o analista.

Sem maioria do seu governo no Parlamento, tinha Tsipras outra opção se não ir a votos?
Sim. Desde que o terceiro empréstimo fosse apoiado pelos chamados partidos pró-europeus (Nova Democracia, To Potami e Pasok), Tsipras poderia formar um governo alargado sem o apoio dos dissidentes do partido.

Ainda assim, escolheu ir a eleições, e com uma estratégia concreta – e esperta devo dizer: a) ele sabe que a oposição está distorcida e é eleitoralmente fraca, b) livrou-se dos rebeldes sem ter de se submeter a um voto de confiança que provavelmente perderia c), tem a maioria dos media do seu lado, d) evitou mais insurreição no Syriza depois de cancelar o congresso extraordinário do partido, e) decidiu ir a votos depois do acordo para o terceiro empréstimo e da primeira tranche ter sido aprovada.

Se ganhar, poderá fazer um governo com a Nova Democracia e To Potami e sem o novo partido que saiu do Syriza?
Sim, mas é demasiado cedo para fazer previsões sobre o resultado das eleições, já que é a primeira vez desde os anos 1970 que temos um ambiente político tão instável, volátil e frágil. Ainda assim, se o Syriza vencer, poderá formar um governo de coligação com a Nova Democracia e ou o Potami, sem o novo partido Unidade Popular. Esse desenvolvimento seria muito bem-vindo na Europa e na zona euro, mostrando que o Syriza se empenhou numa frente totalmente europeia com o objectivo de concretizar o acordo do empréstimo.

Há alguma hipótese de que saia um Governo de uma iniciativa da Nova Democracia? Qual é o principal objectivo do seu líder, Evangelos Meimarakis?
É altamente improvável. Com a actual composição do Parlamento, a Nova Democracia só pode formar governos de coligação em conjunto com o Syriza. De um modo geral, Meimarakis está a tentar impressionar o eleitorado grego tornando-se populista, arriscando-se a acabar de mãos vazias. Até ameaçou que estaria disposto a cooperar com a Aurora Dourada, o que é considerado insultuoso para uma grande parte dos seus eleitores de centro-direita. Foi uma má estratégia da sua parte e poderá custar-lhe uma queda ainda maior do seu partido.

Por que razão Tsipras não tem rivais? Como consegue manter a sua popularidade?
Sobretudo por causa da impopularidade dos seus concorrentes na oposição e falta de propostas alternativas. A decisão de ir a eleições aconteceu por isto mesmo. Ele sabe que os próximos meses vão ser realmente duros para si e para o Governo e quando as primeiras medidas do memorando começarem a ser aprovadas no Parlamento e as pessoas começarem a ver as terríveis consequências. Se as eleições fossem em Outubro ou Novembro seria quase certo que a popularidade dele teria descido significativamente. Ele sente que o momento para salvar a sua imagem e futuro político é agora. Nem um dia mais tarde.

É interessante que a reacção de Bruxelas às eleições tenha sido positiva. Porquê?
Os credores estão conscientes de que uma vez tendo sido aprovado o novo acordo não há regresso possível. Também contam que Tsipras esteja pronto a cooperar com outros partidos pró-europeus, tendo uma frente maior. Ao mesmo tempo, o Governo grego e os credores concordaram que a avaliação do programa vai ser constante e meticulosa, não deixando espaço a qualquer Governo para desafiar decisões ou receber o dinheiro e não fazer nada. Além disso, os credores estão certos de que o campo do Grexit não é assim tão poderoso e não pode pôr em risco o acordo. Mas o que os credores não se aperceberam agora é que este novo acordo está destinado a falhar e vai aumentar a instabilidade política e económica na Grécia nos próximos dois anos. A Grécia ainda não viu os seus piores dias, mas a sociedade grega e economia estão prestes a entrar num círculo vicioso de incerteza e turbulência.

Fontes europeias prevêem uma vitória de Tsipras, mas não é cedo demais para estas previsões?
As circunstâncias actuais mostram que a maior probabilidade é uma vitória de Tsipras. Estou a tentar ser muito cuidadoso com as minhas palavras porque o ambiente político é muito frágil e vemos numa base diária uma grande flutuação em termos de intenção de voto e de retórica política.

Ainda assim, acho que mesmo depois destas eleições, a estabilidade política não vai voltar à Grécia. A principal razão para acreditar nisto é que a economia grega se mantém e irá manter-se estagnada, subprodutiva, com falta de liquidez, e enfrentando uma enorme turbulência macroeconómica. O pacote de resgate não oferece nada em termos de crescimento já que está estritamente estruturado para servir o círculo da dívida, reciclando-a e aumentando-a para níveis astronómicos.

O que poderá acontecer nas eleições? Será a Unidade Popular o novo Syriza, o Syriza de Tsipas o novo Pasok, e o Pasok desaparecerá?
A médio prazo, é esse o quadro. Um círculo vicioso de partidos políticos falhados, sem uma agenda de reforma, um plano de crescimento, qualquer visão para inspirar os cidadãos e as gerações futuras. Espero que isto acabe, mas não será tão depressa.

Finalmente, qual será o papel de uma das figuras mais mediáticas, Yanis Varoufakis?
Varoufakis não tem qualquer plano de ir a eleições, pelo menos que saibamos. Tentou o seu melhor, preparou um Plano B, ganhou tempo para tentar que os credores ficassem mais perto da proposta grega, e finalmente decidiu demitir-se porque não estava disposto a aceitar os termos de outro pacote de austeridade.

Varoufakis tinha um plano concreto para o crescimento da Grécia que apresentou publicamente já em 2010. Voltou a apresentá-lo nas cimeiras do Eurogrupo de Maio e Junho, ajustado às circunstâncias actuais, mas este plano foi continuadamente rejeitado pelos seus homólogos com o vago argumento de não ser 'viável'.

Por agora, não tem planos para criar um partido, escolhendo voltar à academia e escrita de livros, e mantendo o seu envolvimento na discussão de políticas. Irá gradualmente começar a revelar documentos que irão certamente provocar histeria na zona euro, mais sobre o modo injusto e pouco democrático como a Grécia foi tratada nas negociações, assim como a verdadeira essência das propostas gregas.

Sugerir correcção
Comentar