Grécia já está em pré-campanha eleitoral

O prazo de três dias para o líder da oposição formar governo terminou e o segundo líder a tentá-lo não terá hipóteses. A eleição é certa, a única dúvida é em que data.

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As eleições gregas foram inicialmente estimadas para 20 de Setembro LOUISA GOULIAMAKI/AFP

A política grega entrou no estado de pré-campanha com acusações entre oposição e Governo e entre responsáveis do Syriza (o partido do primeiro-ministro grego demissionário, Alexis Tsipras) cuja cisão levou à perda de maioria parlamentar do Governo. Depois disso, Tsipras demitiu-se, abrindo caminho a eleições antecipadas.

O líder interino do principal partido da oposição, a Nova Democracia, Evangelos Meimarakis, declarou que queria evitar eleições a todo custo e tentava aproveitar os três dias que a Constituição lhe dá para explorar possibilidades de formar Governo – com a aritmética do Parlamento a tornar obrigatória a inclusão do Syriza em qualquer executivo.

Este domingo Meimarakis telefonou a Tsipras, mas este não quis falar com ele, alegando que o Syriza não iria coligar-se com a Nova Democracia. No dia anterior, o primeiro-ministro demissionário, que ganha com a realização das eleições o mais cedo possível, avisou que as tentativas de adiar o inevitável vão prejudicar os seus autores. “Não vale a pena tentarem truques com o objectivo de adiar as eleições. Não vão levar a nada e as pessoas percebem isso”, disse.

O prazo para que Meimarakis formasse governo terminou este domingo, e segunda-feira é a vez de Panagiotis Lafazanis, o líder do partido que resultou da cisão do Syriza, e que tem 25 deputados, tentar o mesmo. Lafazanis disse que falaria com “forças anti-memorando” o que lhe deixa a Aurora Dourada, partido nazi com quem recusa contactos, e os rivais de esquerda do Partido Comunista, que sempre negaram aliar-se com quem quer que seja (até recusaram votar “não” no referendo ao acordo com os credores apesar de serem contra o memorando, apelando a um voto nulo).

Portanto, este aproveitamento do mandato servirá apenas para adiar um pouco a data das eleições, que ainda não estão marcadas, e inicialmente estimadas para 20 de Setembro.

Enquanto isso, a retórica no campo de esquerda estava ao rubro, com o gabinete de Tsipras a lançar um forte ataque à presidente do Parlamento, e figura que liderou a tentativa de evitar uma votação ao terceiro empréstimo no Parlamento, Zoe Konstantopoulou, dizendo que esta se estava a comportar como “uma ditadora” (Konstantopoulou queixou-se de que as eleições eram inconstitucionais). O campo de Lafazanis respondeu pelo seu lado que era Tsipras quem estava a confundir a ditadura do memorando com o modo democrático de operar das instituições.

A Unidade Popular de Lafazanis vai ser o principal partido anti-empréstimo (a par com o Comunista e o neonazi Aurora Dourada e outras pequenas formações sem assento parlamentar). O analista Nick Malkoutzis nota que há terreno fértil para o argumento da saída da Grécia do euro, mas duvida que Lafazanis seja o político que o consiga cultivar entre os gregos.

A maior estrela deste campo seria Yanis Varoufakis, o antigo ministro das Finanças que votou contra o acordo que o seu sucessor assinou com os credores. Varoufakis diz não querer entrar no partido, mas numa entrevista ao Guardian não recusou uma posição política futura. Este domingo, Varoufakis foi recebido pela esquerda francesa (o antigo ministro Arnaud Montebourg  e o líder do Partido de Esqeurda Jean-Luc Mélenchon) com honras de estrela e lançou também uma farpa a Tsipras que, acusou, se tornou presa do seu próprio ego e quer ser “o novo De Gaulle, ou Mitterand”.

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