Ainda as quotas e o estafado argumento do mérito

A lei não pretende condicionar a escolha de quem, mas pretende tão só condicionar a actual e vergonhosa quota de 90% de homens.

Comentários sobre um artigo de António Costa, membro da Administração da Ibéria, sobre igualdade de género (PÚBLICO, 6 Julho 2015).

Vale a pena repescar algumas das suas afirmações e fazer a desmontagem do preconceito.

... “A introdução de quotas terá, então, o dom de alterar o paradigma dos números, equilibrando os pratos desta balança, mas a via artificial e forçada que será adoptada dificilmente produzirá os mesmos efeitos na cultura organizacional que uma mudança natural de padrão”…

Porque é que será que algumas pessoas entendem que colocar 30% de mulheres nos lugares de topo de uma empresa constitui uma subversão do conceito de mérito e que só “uma mudança natural de padrão” poderá resolver o problema (o que quer que seja que isto possa significar), mas acham naturalíssimo que os seus executivos sejam compostos por 100% de homens todos eles seguramente competentíssimos, como aliás, recentes casos na Banca o podem testemunhar! Não me parece que o “padrão natural” que as empresas têm adoptado, em esmagadora maioria, com administrações que no mínimo têm 90% de homens, seja uma imagem de sucesso. Basta olhar para a realidade do nosso tecido empresarial, para as falências fraudulentas e não fraudulentas que se sucedem em cadeia, para não poder embandeirar em arco com a excelência das administrações exclusivamente masculinas. A crise não é responsável pela ganância e incompetência de alguns.

...“O género não pode ser visto, por si só, como uma marca distintiva”…

Quem diria?! Parece-me que só não pode ser visto como uma marca distintiva quando se trata de mulheres. Porque quando se refere aos homens a marca distintiva é omnipresente.

…“Os números mais recentes mostram que para cada 100 homens licenciados já existem 153 mulheres… sendo que há áreas — como o ensino — em que as mulheres sem a ajuda de qualquer regime de quotas, assumem já uma clara posição de domínio”

O ensino, considerado globalmente, sempre foi uma área com uma maioria de mulheres. É sabido que sempre que existem exames, concursos ou provas, a tendência é para as mulheres ficarem nos primeiros lugares ou terem as melhores notas como acontece com as jovens que saem das universidades. O drama é que não existe ainda nas empresas uma equivalência entre habilitações e desempenho em lugares de topo. Mesmo no ensino, depende do tipo de ensino. À medida que se sobe na escala a taxa de feminização docente baixa. Assim, a presença das mulheres nos diferentes graus de ensino varia entre os 37% e os 99, conforme se trate de um nível universitário ou pré-primário.

Finalmente: ”…Dezenas de directores de RH pronunciaram-se acerca da criação de uma medida legal semelhante em Portugal. Os resultados foram contundentes: quase dois terços dos inquiridos (64%) discordam… argumentando que a lei não deve condicionar a escolha de quem ocupa os cargos de topo nas empresas.”

Totalmente de acordo. A lei não pretende condicionar a escolha de quem, mas pretende tão só condicionar a actual e vergonhosa quota de 90% de homens. A liderança no masculino: sem a quota-parte do mérito!

Secretária Nacional do PS para o Trabalho

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