"Já não somos inimigos nem rivais, mas sim vizinhos"

O secretário de Estado norte-americano esteve em Havana para carimbar a reabertura da embaixada dos EUA. A bandeira subiu 54 anos depois, mas "o caminho vai ser longo", frisou John Kerry.

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"O caminho vai ser longo", sublinhou Kerry, mas a primeira etapa está cumprida: a bandeira cubana já vive em Washington D.C. há um mês, e agora chegou a vez de a bandeira norte-americana despertar de um longo sono em Havana.

"O caminho de isolamento mútuo e de afastamento que os Estados Unidos e Cuba têm percorrido não é o caminho certo, e chegou a hora de nos virarmos para uma direcção mais promissora", disse o secretário de Estado norte-americano na cerimónia que marcou a reabertura oficial da embaixada dos EUA em Havana.

As relações diplomáticas ao mais alto nível estavam cortadas há 54 anos, mas é preciso recuar ainda mais na História para encontrar a última visita de um secretário de Estado norte-americano a Cuba – chamava-se Edward Stettinius, Jr. e fez uma curta passagem por Havana há 70 anos; tão curta como a sua própria passagem pelo Departamento de Estado, sete meses entre as presidências de Franklin D. Roosevelt e Harry S. Truman.

Esta foi apenas uma das várias referências que John Kerry fez ao longo do seu discurso para mostrar a cubanos e norte-americanos o que aconteceu ao mundo enquanto eles estiveram de costas voltadas: o Muro de Berlim, construído no ano em que Washington e Cuba cortaram relações, foi derrubado há um quarto de século; os EUA tiveram dez Presidentes; e até o Vietname, onde os norte-americanos se envolveram numa guerra que marcou toda uma geração, já reatou os laços diplomáticos com os EUA há 20 anos.

Apesar de todas as cautelas quanto ao futuro, a mensagem que Kerry deixou em Havana é que chegou a hora de os dois países deixarem a rivalidade no passado: "Temos de estender as mãos um ao outro, como dois povos que já não são inimigos ou rivais, mas sim vizinhos." E os vizinhos, disse o responsável, "terão sempre muito para discutir: aviação civil, políticas de migração, planos para desastres naturais e outros assuntos mais duros e complexos".

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"O caminho vai ser longo", sublinhou Kerry, mas a primeira etapa está cumprida: a bandeira cubana já vive em Washington D.C. há um mês, e agora chegou a vez de a bandeira norte-americana despertar de um longo sono em Havana.

"O caminho de isolamento mútuo e de afastamento que os Estados Unidos e Cuba têm percorrido não é o caminho certo, e chegou a hora de nos virarmos para uma direcção mais promissora", disse o secretário de Estado norte-americano na cerimónia que marcou a reabertura oficial da embaixada dos EUA em Havana.

As relações diplomáticas ao mais alto nível estavam cortadas há 54 anos, mas é preciso recuar ainda mais na História para encontrar a última visita de um secretário de Estado norte-americano a Cuba – chamava-se Edward Stettinius, Jr. e fez uma curta passagem por Havana há 70 anos; tão curta como a sua própria passagem pelo Departamento de Estado, sete meses entre as presidências de Franklin D. Roosevelt e Harry S. Truman.

Esta foi apenas uma das várias referências que John Kerry fez ao longo do seu discurso para mostrar a cubanos e norte-americanos o que aconteceu ao mundo enquanto eles estiveram de costas voltadas: o Muro de Berlim, construído no ano em que Washington e Cuba cortaram relações, foi derrubado há um quarto de século; os EUA tiveram dez Presidentes; e até o Vietname, onde os norte-americanos se envolveram numa guerra que marcou toda uma geração, já reatou os laços diplomáticos com os EUA há 20 anos.

Apesar de todas as cautelas quanto ao futuro, a mensagem que Kerry deixou em Havana é que chegou a hora de os dois países deixarem a rivalidade no passado: "Temos de estender as mãos um ao outro, como dois povos que já não são inimigos ou rivais, mas sim vizinhos." E os vizinhos, disse o responsável, "terão sempre muito para discutir: aviação civil, políticas de migração, planos para desastres naturais e outros assuntos mais duros e complexos".

Fim do embargo depende do Congresso

"Estamos hoje aqui reunidos porque os nossos líderes tomaram a decisão corajosa de deixarem de ser prisioneiros da História, e se concentraram nas oportunidades", disse o secretário de Estado norte-americano, enaltecendo o papel dos Presidentes dos EUA e de Cuba.


Em traços gerais, o discurso de John Kerry não trouxe surpresas em relação ao que vem sendo repetido desde que Barack Obama e Raúl Castro surpreenderam o mundo, em Dezembro, ao anunciarem o início da reaproximação entre os dois países – a política norte-americana das últimas décadas "não levou a uma transição democrática em Cuba", pelo que seria pouco sensato continuar a trilhar o mesmo caminho.

Numa resposta às críticas dos dissidentes cubanos que vêem este processo como uma legitimação do regime a que se opõem, Kerry foi pragmático, e mais uma vez repetiu o que o seu Presidente tem dito: "Seria igualmente irrealista esperar que a normalização das relações tivesse um impacto transformativo no curto prazo. Cabe aos cubanos moldarem o futuro de Cuba."

Ambos os lados sublinham que a reabertura das embaixadas ao fim de 54 anos não significa – nem de perto nem de longe – que todos os obstáculos tenham sido ultrapassados.

Enquanto John Kerry afirmava que os EUA "vão continuar a pressionar o Governo cubano para que cumpra as suas obrigações no âmbito das Nações Unidas e dos tratados inter-americanos sobre direitos humanos", os cubanos podiam ler no jornal oficial Granma um texto igualmente desafiador, assinado por Fidel Castro e publicado na quinta-feira, dia em que cumpriu o seu 89.º aniversário. Para além de reivindicar "muitos milhões de dólares" em compensações por causa do embargo imposto a Cuba há mais de meio século, Fidel Castro respondeu às acusações de violação de direitos humanos com o papel dos EUA na parte final da II Guerra Mundial: "Quando aquelas bombas foram largadas, depois da guerra iniciada pelo ataque contra a base norte-americana em Pearl Harbor, o império japonês já tinha sido derrotado. Os Estados Unidos, cujos território e indústrias permaneceram afastados da guerra, tornaram-se o país mais rico e com armamento mais sofisticado na Terra, num mundo devastado, repleto de morte, de feridos e de fome."

As relações entre os EUA e Cuba prosseguem agora em dois universos paralelos: num deles, as diferenças ideológicas continuam a ser maiores do que os 145 quilómetros que os separam; no outro, ambos vão dando pequenos passos de um simbolismo gigantesco para se resgatarem mutuamente dos confins da Guerra Fria.

Mas, para isso, será necessário derrubar uma barreira muito maior do que a reabertura de embaixadas e o desfraldar de bandeiras – pôr fim ao embargo norte-americano imposto a Cuba no início da década de 1960, um passo que a maioria dos representantes do Partido Republicano nem quer começar a discutir.

Ainda assim, o secretário de Estado norte-americano lembrou que o Presidente Barack Obama "tem dado passos para aliviar as restrições ao envio de remessas financeiras, às exportações e importações e às viagens familiares". "E queremos ir mais além", afirmou John Kerry, abrindo caminho ao recado que deixou ao Partido Republicano durante a sua breve passagem por Havana: "O embargo dos Estados Unidos aos negócios com Cuba permanece em vigor, e só pode ser levantado através de uma acção do Congresso – um passo que nós defendemos com toda a firmeza", concluiu, deixando clara, mais uma vez, a posição da Administração Obama.