Não se julguem mais "euro fanáticos" do eu

Será que ainda ninguém percebeu que o Syriza dorme na mesma cama com os fascistas gregos?

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Alkis Konstantinidis/Reuters

Nunca ouvimos falar (tanto!) de falta de memória como nas últimas semanas. Refiro-me, em particular, à “falta de memória histórica” que alguns, julgando defender a democracia utilizam para argumentar contra aqueles que, tal como eu, não passam de uns ignorantes contabilistas que esquecem as pessoas por causa dos números.

Estes guardiões da democracia, dotados de uma visão histórica e política superior, tendem a desprezar os demais, afinal, ignorantes contabilistas.

Pois é, tentei evitar falar da Grécia durante dois parágrafos e escrever um texto sobre a democracia, mas, sendo um ignorante contabilista não tenho essa habilidade e, por isso, este é mais um texto sobre a Grécia.

Argumentam os oráculos da desgraça que a UE, uma espécie de Reich contemporâneo, humilhou a Grécia, pondo Tsipras no chão a pedinchar por um terceiro resgate. Uma UE inundada de burocratas, tecnocratas, assaltantes do poder, gente de bastidores, numa palavra, uma UE ilegítima do ponto de vista democrático. Um conjunto de déspotas que tentam derrubar o democraticamente eleito Tsipras. Um horror portanto.

Afinal, Tsipras foi o único primeiro-ministro europeu sufragado directamente pelo povo. Todos os outros foram escolhidos e impostos pelo ministério das Finanças Alemão. Perdoem-me visionários, mas não poderia estar mais em desacordo. A defesa da UE e da democracia faz-se descredibilizando o Syriza, a Frente Nacional da senhora Le Pen, o Podemos, o UKIP, e todos os partidos que, independentemente da sua cor e orientação politicas são contra a UE e todos os princípios fundadores e fundamentais que a identificam e caracterizam.

A defesa da UE como projecto politico de paz e desenvolvimento não se faz com a promoção, a indiferença ou até o elogio de partidos comunistas e fascistas, hoje liderados por burgueses sem fardas militares.

Mais, não será pelo uso de instrumentos democráticos que os princípios fundamentais do Syriza se afastarão dos de Moscovo. Tsipras, tal como Hugo Chavez, Hitler e tantos outros líderes políticos, foram eleitos democraticamente. Será então a forma como se acede ao poder que nos levará a concluir que estamos perante alguém que acredita (genuinamente) na democracia? Ou serão antes as suas convicções? Será que ainda ninguém percebeu que estamos perante uma ameaça clara ao projecto Europeu? Será que ainda ninguém percebeu que o Syriza dorme na mesma cama com os fascistas gregos?

Será que ainda ninguém percebeu que a chantagem vem de Atenas com as suas idas recorrentes a Moscovo? Será que ainda ninguém percebeu que é graças à UE que a Grécia ainda não se tornou num satélite do senhor Putin? Será que ainda ninguém percebeu que estamos perante um perigoso nacionalista?

Será que estamos assim tão iludidos, fascinados e até magnetizados com os discursos de Tsipras, e o estilo "pop star" do seu ex-ministro das Finanças? Parece que sim. E por isso, mais do que nunca, exige-se “memória histórica”.

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