Mariana Silva vence Prémio Novos Artistas Fundação EDP

O trabalho que valeu o prémio a Mariana Silva põe em causa a preservação do património, questão actualíssima com a destruição levada a cabo pelo Estado Islâmico

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Mariana Silva, fotografada em 2011 na galeria Kunsthalle Lissabon Miguel Manso

Mariana Silva, a vencedora do Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2015, anunciado esta quinta-feira à tarde no Museu da Electricidade, em Lisboa, vive e trabalha em Nova Iorque há quatro anos. “Estar em Nova Iorque é obviamente muito bom, mas não queria que isso fosse visto como uma daquelas histórias de sucesso lá fora que dão jeito ao Passos Coelho”, diz ao PÚBLICO a artista plástica de 31 anos, minutos depois de receber a notícia de que tinha sido premiada.

Apesar de fazer parte de um grupo de nove finalistas do prémio com formação ou experiência internacional, Mariana Silva não está em Nova Iorque a desenvolver o seu trabalho artístico: tem, como ela diz, ”um emprego das dez às seis” como managing editor (editora de conteúdos) na revista online de arte e cultura e-flux. Reduzi-la a uma “artista baseada em Nova Iorque” como caução de qualidade ou reconhecimento, seria “uma depreciação da comunidade de Lisboa, onde me formei”, explica, voz baixa mas convicta.

O trabalho que valeu a Mariana Silva o Prémio Novos Artistas Fundação EDP 2015 questiona os processos de selecção e preservação de objectos artísticos e do património cultural – põe em causa o próprio conceito de museu. Sete monitores com animações digitais mostram objectos museológicos, alguns reais, outros ficcionais – em comum têm o facto de todos terem sido criados em computador, a partir de imagens dos objectos e não dos objectos em si. Numa sala escura projectam-se digitalizações em 3D de sítios e monumentos históricos em perigo – um trabalho de arquivo e preservação para a posteridade desenvolvido por uma bem-intencionada fundação norte-americana, mas que levanta os seus próprios problemas: existindo uma cópia, um backup, a vandalização ou desaparecimento do objecto original é menos alarmante? Questão actualíssima, com a destruição de património histórico e cultural levada a cabo no Iraque pelos jihadistas do Estado Islâmico.

O júri do prémio justificou a escolha de Mariana Silva com “a consistência do seu trabalho”, a par de uma “investigação das questões culturais, políticas e tecnológicas do nosso tempo”. A decisão não foi feita por unanimidade; os membros do júri estiveram reunidos em deliberação mais tempo do que o previsto – o anúncio foi feito hora e meia depois do horário anunciado. “O júri teve dificuldade em escolher o vencedor”, admitiu o director cultural da Fundação EDP, José Manuel dos Santos, ao anunciar o nome de Mariana Silva.

O júri foi composto pela artista Ana Jotta, pelo director-adjunto e curador do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, João Ribas, pela artista e curadora francesa Elfi Turpin, pelo director e curador da David Roberts Art Foundation, em Londres, Vincent Honoré, e por José Manuel dos Santos.

O prémio, de 20 mil euros – quase o dobro do valor de anos anteriores – destina-se, de acordo com a Fundação EDP, a ser aplicado “pelo artista no aprofundamento dos seus estudos ou na concretização de um projecto artístico específico”. 

Criado em 2000, ano em que Joana Vasconcelos foi a vencedora, o Prémio Novos Artistas Fundação EDP, distinguiu nomes como Leonor Antunes, Vasco Araújo, Carlos Bunga, a dupla João Maria Gusmão e Pedro Paiva e Gabriel Abrantes, entre outros. O prémio, que desde 2005 tem uma periodicidade bienal, não tem um limite etário.

Formada em pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, Mariana Silva fora já distinguida com o BES Revelação de 2008 e tem no seu currículo participações em exposições colectivas e individuais, nas galerias Cristina Guerra, Kunsthalle Lissabon ou Parkour e no Museu de Serralves.

Além de Mariana Silva, o prémio tinha este ano como finalistas Vasco Futscher (escultura e cerâmica), Nuno Vicente (instalação), Pollyana Freire (instalação), Joana Escoval (escultura), João Grama (fotografia), Manuel Caldeira (escultura e desenho), Marco Pires (desenho) e Teresa Braula Reis (instalação).

Os nove finalistas desta 11ª edição foram escolhidos em Março de entre 762 candidaturas – um número recorde – pelos comissários Filipa Oliveira e Sérgio Mah, curadores independentes, e pelo programador artístico da Fundação EDP, João Pinharanda. 

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