Open House Porto: Do Douro ao Mar

O mapa do Open House Porto abrange cerca de 40 edifícios de variadas tipologias, funções e escalas. Nesta panóplia de edifícios existe uma infinidade de percursos a fazer

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Neste fim-de-semana de 4 e de Julho cerca de 40 edifícios distribuídos pelo Porto, Gaia e Matosinhos estão prestes a abrir as suas portas. Falamos do Open House, um evento criado em 1992 em Londres e que no momento contagia mais de três dezenas de cidades distribuídas pelo mundo. Agora é a vez do Porto acolher esta festa da arquitectura.

O conceito do Open House é convidar os mais diversos públicos a explorar e compreender o valor de um ambiente construído bem concebido. É esta a mensagem transmitida no sítio Open House Worldwide.

O mapa do Open House Porto abrange cerca de 40 edifícios de variadas tipologias, funções e escalas. Nesta panóplia de edifícios existe uma infinidade de percursos a fazer. Ou em alternativa, a visita às diferentes propostas poderá levar-nos a explorar intuitivamente os espaços que nos despoletem mais curiosidade.

Fazemos um percurso possível. A estação do teleférico de Gaia da autoria do escritório Menos é Mais é o ponto de partida. Após o jardim do Morro, uma vista ampla sobre o Porto aguarda-nos. Entre a demora a contemplar as vistas sobre o Douro, do alto, e o interior do edifício existe um percurso que nos enquadra e guia para o interior. Na estação inferior a materialidade do edifício muda. O metal substitui o betão e o opaco do primeiro edifício é substituído pela transparência deste segundo.

Estamos mais perto do Douro.

Do outro lado do rio, no Porto, os Ateliers da Lada do arquitecto Virgínio Moutinho é a nossa próxima paragem. É um edifício transparente pousado sobre a entrada nascente do túnel da Ribeira. Uma caixa de vidro num jogo de equilíbrio que queria ser um pássaro. Talvez o poema “Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto” do heterónimo Alberto Caeiro faça mais sentido declamado deste edifício.

Chegamos à Torre dos 24. Por fora parece-nos um bloco petrificada em tensão com a Sé Catedral. No interior, um pano de vidro à nossa frente ilumina este espaço alto. O seu autor, o mestre Fernando Távora, fez nascer da ruína um bloco de granito de geometria pura. Observado da base é como que uma figura do escultor Auguste Rodin que se ergue da ruína. As esculturas de Rodin têm esta tensão entre o rugoso da base e o macio das formas. No caso da Torre dos 24; entre a rugosidade da ruína, o vidro macio e o granito de cantaria perfeita.

Agora estamos no Bairro da Bouça de Álvaro Siza e podemos observar in loco o ambiente de trabalho de dois escritórios de arquitectura aí instalados; o Atelier da Bouça e o escritório de Nuno Brandão Costa. Parece-nos interessante fazer um intervalo no percurso e visitar os bastidores desta cena denominada de Arquitectura.

Já no edifício dos Maristas, em plena Avenida da Boavista, encontramos um belíssimo exemplo de reabilitação de um palacete. Como guardar as memórias de um edifício sem as deturpar? O projeto de reabilitação de António Portugal e Manuel Reis é a resposta. O edifício dos Maristas é datado do início do século XX e foi reabilitado recentemente.

Findamos a visita na Casa de Chá da Boa Nova da autoria do arquitecto Álvaro Siza. Olhamos de frente para o mar, viramos costas e de novo o mar. Subimos uns degraus. Rochas. Mar. Entramos e temos mais mar e rochas. Estamos na casa de chá.

Chegados ao final de um dia e a tempo de ver a luz do sol a baixar e a rasar o plano da água, vemos as rochas no seu estado puro. Desalinhadas. Fernando Távora diz-nos “ (…) encontrei um grande interesse nos penedos pelo que têm de forte, de decisivo, de duro, de hirto e ao mesmo tempo de romântico, de caótico, de desordenado, de barroco.” Em frente só existem rochas e depois apenas o mar: A visita terminou.

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