No passado fim-de-semana, a Casa da Música (CdM) e a Fundação Calouste Gulbenkian receberam as estrelas em ascensão nomeadas pela European Concert Hall Organization (que integram) para a temporada de 2014/15 (ECHO – Rising Stars 2014/15).

A amostra em análise não será provavelmente a mais significativa mas, além de ser a única de que aqui se dispõe, acresce a vantagem de ser claramente favorável ao agrupamento que representa Portugal.

Parecendo os pressupostos das ECHO Rising Stars consideravelmente diferentes dos do Harmos Festival (ambos válidos e necessários), e tendo em conta tudo o que se tem ouvido e lido sobre Aaron Pilsan, não será de afastar a ideia de que o concerto de sexta-feira na Casa da Música tenha corrido inesperadamente muito mal ao jovem pianista austríaco, de apenas 19 anos.

Grande velocidade de dedos e algumas boas ideias musicais semi-desveladas entre alguma confusão de tempo foram a melhor impressão que o jovem Pilsan conseguiu deixar, sem prejuízo dos muitos aplausos que arrancou a uma plateia visivelmente entusiasmada perante a destreza do pianista que muito firmemente se manteve ao piano, apesar de todos os percalços que foi sofrendo ao longo da sua prestação.

O programa proposto não seria o mais fácil de executar nem de ouvir: a Partita nº 5 BWV 829, de J. S. Bach, as Quinze Variações e Fuga op. 35 (Variações Heróica), de Beethoven e o Andante spianato et Grande polonaise brillante op. 22, de F. Chopin. Um Bach com algumas ideias sólidas, eventualmente perturbado pela nudez do som da sala, foi indubitavelmente penalizado pela inconstância no tempo. A peça de Beethoven, musicalmente muito difícil, transpareceu algumas ideias próprias, mas apenas chegou a acontecer música em dois ou três momentos. Refira-se a presença de espírito de Pilsan que reiniciou duas vezes a fuga, uma delas de forma quase imperceptível, acabando por conseguir executá-la batendo furiosamente o pé como auxílio metronómico.

Já num outro estádio se encontra o Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM). Exceptuando o som cada vez mais depurado, recorrendo a um vibrato mínimo, não foi propriamente surpresa o que se ouviu no domingo na mesma sala. Respeitando zelosamente o estilo, o Quarteto em Mi bemol Maior K 428, de Mozart, foi interpretado no âmbito de uma reduzida paleta dinâmica, em nada comprometendo a expressão, revelando uma concepção claríssima, unicamente escapando à perfeição num duplo desvio de afinação no terceiro andamento.

Honrando uma das características da sua marca - a interpretação de música portuguesa, o Quarteto de Cordas de Matosinhos fez música com as Cenas nas Montanhas, de Vianna da Motta, nos antípodas do que se seguiria: o Quarteto nº 8 Op. 110, de Chostakovich. Como que respondendo a uma voz do público que comparara o Quarteto de Cordas de Matosinhos ao vinho do Porto - cada vez melhor, com o Tempo - revelou-se uma maturidade raramente atingida pelos agrupamentos portugueses, resultado de um esforço conjunto, de uma enorme e constante dedicação na perseguição do objectivo de fazer cada vez melhor.

Equilíbrio, profundidade e respeito pelo texto caracterizaram esta interpretação de Chostakovich. Enormemente aplaudido, o Quarteto de Cordas de Matosinhos regressou ao palco com um Portugal rural, tão de retaguarda como a obra de Vianna da Motta: a Chula do quarteto Contrafacção Folclórica, de Telmo Marques, que o Quarteto de Cordas de Matosinhos registou em disco, em 2013, na desaparecida Numérica.