Uma centena de migrantes morreu a lutar por comida num barco à deriva

Vários dos passageiros foram mortos à facada, outros foram enforcados e outros ainda atirados à àgua ao largo da Indonésia

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A maioira dos sobreviventes teve que receber assistência hospitalar Chaideer MAHYUDDIN/AFP

A luta pelos últimos mantimentos existentes a bordo terá sido a causa da morte de cerca de uma centena dos passageiros do navio carregado de imigrantes do Bangladesh e da Birmânia, que ficou quase dois meses à deriva em alto mar depois de ter sido impedido pela guarda costeira da Malásia e Tailândia de aportar naqueles países, e abandonado pela tripulação.

De acordo com os relatos de vários dos sobreviventes, já em segurança na Indonésia, a situação foi de desespero depois de meses à deriva. A competição pelas reservas de comida a bordo gerou uma situação de luta pela sobrevivência: em entrevistas separadas, os sobreviventes confirmaram que vários dos passageiros foram mortos à facada, outros foram enforcados e outros ainda atirados ao mar.

O navio dos imigrantes – homens, mulheres e muitas crianças, que foram deixados à sua sorte pelos traficantes –, acabou por ser recolhido no porto de Langsa, na Indonésia, com 700 passageiros a bordo. A maior parte teve de receber assistência hospitalar, com casos graves de malnutrição e desidratação.

As Nações Unidas fizeram um apelo humanitário aos Governos do Sudeste Asiático, sublinhando que têm obrigação de resgatar os náufragos em risco de vida no mar, e abrir os portos e fronteiras “para ajudar os mais vulneráveis que estão em necessidade”. No entanto, um porta-voz do Alto Comissariado para os Refugiados dizia que “não se observava qualquer movimento nesse sentido de nenhum Governo da região”.

Segundo a BBC, este domingo foram detectados pelo menos cinco navios com cerca de mil imigrantes ancorados ao largo da costa Norte da Birmânia. Aparentemente, as redes de contrabando que gerem estas rotas migratórias não arriscam prosseguir a viagem com destino à Malásia para não serem interceptados pelas autoridades, mas também não deixam os imigrantes sair dos navios.

Entre os passageiros, encontram-se centenas de rohingya em fuga da perseguição étnica e religiosa das autoridades birmanesas. O Governo de Rangoon não reconhece a nacionalidade àquela minoria muçulmana, que permanece apátrida.

O vice primeiro-ministro da Malásia, Muhyiddin Yassin, voltou este domingo a responsabilizar a Birmânia pela crise migratória no mar de Andamão. “Esta é uma situação doméstica que tem de ser resolvida [pelo Governo de Rangoon] a nível interno”, sublinhou, dizendo que a Malásia já acolheu mais de 120 mil imigrantes clandestinos vindos daquele país.

Segundo as estimativas das Nações Unidas, nos primeiros três meses deste ano, cerca de 25 mil imigrantes do Bangladesh e da Birmânia foram transportados por traficantes.

 

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