Cartas à Directora

25 de Abril — Livres como o vento...

Não, este 25 de Abril tem de ser diferente. Não pode ser mais um, igual a tantos outros. Tem de trazer a esperança nos rostos e danças nos corpos, muitos risos e muita partilha. Vamos misturar cravos, com rosas, com papoilas, flores rubras nos corações das novas e velhas gerações. Não pode ser mais um desfile grave e sério de vencidos, que plasme o sofrimento recente de um povo; é tempo de avançar com alegria, para romper os maus presságios e os dias cinzentos que nos querem impor. Tem de soar em cada peito as batidas da liberdade a reconquistar e na voz os cânticos novos da juventude que há-de reinventar o futuro, com o sangue novo de novas utopias. Temos de mostrar à Europa que estamos vivos e capazes de defender os valores da esquerda, que não são incompatíveis com a permanência na União Europeia, pois propomos apenas mais democracia, mais Europa solidária, mais respeito pelo ambiente, na senda de uma nova visão ecológica. Queremos mudar o sistema partidário também, tornando-o transparente e democrático, com a participação de todos na elaboração dos programas e na escolha dos deputados; sem contemplações para com os compadrios e promiscuidades com o poder financeiro, que levam sempre à corrupção. Não queremos entrar pelo caminho fácil do populismo barato e perigoso, do “botabaixismo” radical. Queremos apelar à inteligência do povo e não às suas emoções mais primárias. Queremos que toda a esquerda se entenda em meia dúzia de valores fundamentais a preservar e alargar, sem ferir identidades. Vamos levar de novo a poesia para a rua, lembrando Sophia, Torga, Natália, Ary, Herberto e tantos outros que nos passaram este testemunho. Vamos ser livres como o vento como dizia a canção porque a liberdade tem de voltar a passar por aqui!

José Carlos Palha, Gaia

Abril

Às vezes, esquecemo-nos de Abril.

A minha geração, os “rapazes” e as “raparigas” do meu tempo, nós, esquecemo-nos muitas vezes daquele Abril que há 41 anos nos trouxe o maior de todos os bens, a melhor de todas as palavras: LIBERDADE.

Nascemos, os da minha geração, em plena ditadura e em ditadura vivemos até àquele dia 25 de Abril de 1974. Tínhamos 20, 25 anos e de repente, assim de um dia para o outro, depois do espanto, começámos a acreditar num futuro possível, sem medos, sem perseguições, sem guerras, num futuro mais livre.

Não fomos nós que conquistámos a Liberdade, foi alguém, um grupo de homens que se chegou à frente, que arriscou, que venceu um medo antigo e que corajosamente fez a revolução.

Depois foi a explosão da Alegria, foi a criatividade à solta, foi o poder fazer, o poder dizer, o poder escrever, o poder votar, escolher, o poder amar, sem ninguém proibir, porque era proibido proibir.

E tudo isto tinha um nome: LIBERDADE!

Em Abril  de 1975, pela primeira vez nas nossas vidas, votámos sem medo, escolhemos livres, o nosso destino.

Nem sempre acertámos na escolha. Muitos, desiludidos, desistiram de escolher. As promessas daquele Abril de 1974, já não fazem sentido.

Estamos cansados, nós, os “rapazes” e as “raparigas” do meu tempo. Já não votamos,  já não escolhemos o nosso destino, como fizemos há 40 anos, quando ainda tínhamos a certeza de que tudo era possível.

Fomos envelhecendo sem esperança e às vezes, esquecemo-nos daquele Abril e daquela resgatada Liberdade que nos foi entregue por aqueles homens corajosos.

Por isso, é preciso defendê-la. Ainda podemos dizer, escrever, ler, escolher, votar.

Em 1976, nasceu o meu 1.º filho, em 1986 o 2.º. Os meus filhos nasceram em Liberdade. Espero que eles entendam bem o que isso quer dizer!

Luísa Barata, Barreiro

Sugerir correcção
Comentar