Comerciantes do Bolhão confiantes na solução proposta

Vendedores dizem confiar em Rui Moreira e na reabilitação do edifício

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De 440 comerciantes, restam 100, segundo o presidente da associação de comerciantes do Bolhão Paulo Pimenta

A opinião da vendedora de legumes parece traduzir o sentimento geral dos vendedores ouvidos pelo PÚBLICO – há uma nova esperança, mas ninguém parece disposto a esquecer os anos de espera. E ainda há quem aponte o dedo ao anterior presidente da câmara, Rui Rio, e à forma como este geriu o processo do Bolhão durante os seus mandatos.

No piso inferior do mercado, escondida pelos toldos que não deixam passar a luz do sol, está Susana, 31 anos, a vender fruta naquele local há onze. Diz que espera que Rui Moreira cumpra o que ali foi apresentar, na manhã desta quarta-feira, mas não esconde o desabafo: “Promessas estamos nós fartos de ouvir”. A vendedora concorda com a opção da câmara de colocar a venda de todos os produtos tradicionais num só piso (o inferior) e de usar o piso superior “para outro tipo de comércio”. Susana até nem se importava que lá em cima se vendesse “roupa e calçado”, porque acredita que essas lojas “atraem mais clientes”, mas o essencial é mesmo que as obras avancem. “O mercado merece ser requalificado, merecem os comerciantes e os clientes”, afirma, convicta.

Ao longe ouve-se um pregão, tão típico do mercado: “Ó’mor, anda cá, olha que riqueza de peixinho”. É das “goelas” de dona Albina, de 63 anos, herdeira do negócio dos pais, que sai o chamamento. “Eu estou aqui desde que nasci”, diz, enquanto escama um robalo. Foi ouvir o que Rui Moreira tinha para dizer aos comerciantes e diz-se satisfeita com o que classifica como “um discurso real”. “Falou muito bem. Acredito nele e sei que é uma pessoa de bem. O presidente sente a cidade, sente o Bolhão”, disse. Também ela lamenta a presença assustadora dos andaimes, que afastaram clientes – mas não os habituais, ressalva, “esses continuaram a vir, nunca deixaram o Bolhão” – e não tem dúvidas em garantir: “Temos sido resistentes, se não fossemos resistentes já não estávamos aqui”.

Mesmo no centro do mercado, e também na sombra dos toldos gigantes, estão as “manas”, como são conhecidas entre os colegas. Laurinda e Arminda Araújo, de 64 e 66 anos, respectivamente, estão no Bolhão há 56 anos. Também elas se dizem confiantes no presidente da câmara, em quem dizem ter “muita fé, muita fé mesmo”. A elas, os andaimes não assustam e garantem que apesar do afastamento inicial de alguns clientes, “que tinham medo que o edifício ruísse”, isso já não acontece. Mas não perdoam o impasse em que o processo de reabilitação do mercado caiu, durante os mandatos de Rui Rio. “A ideia dele era assustar as pessoas, para elas se irem embora”, diz Laurinda, ainda com a revolta na voz, frisando que dos cerca de 400 comerciantes de há uns anos, restam menos de 90.

Elas, contudo, continuam ali e não querem mudar. Animam-se com os turistas que têm ajudado “a que se faça muito negócio no mercado” e não têm dúvidas quanto ao futuro. “A vida é aqui, a vida é o Bolhão”, garantem.

Texto editado por Ana Fernandes

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