Taurina: dá-lhe realmente asas?

Estudos efectuados à suplementação em taurina (ex.: bebidas energéticas) nos atletas não são conclusivos.

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A taurina é um dos típicos constituintes das bebidas energéticas. Ela é um ß-aminoácido contendo enxofre, classificado como aminoácido não essencial, e é o aminoácido livre mais abundante no cérebro, coração e músculo-esquelético (apesar de não ser incorporado nas proteínas musculares nem oxidado).

As bebidas energéticas alegam melhorar o “nível” de energia, promover a perda de peso, aumentar o vigor, assim como melhorar o rendimento desportivo e cognitivo. A taurina, em particular, tem sido sugerida estar envolvida em processos como desenvolvimento e sinalização celulares, contração muscular, defesa antioxidante e metabolismo da glicose. 

Nos estudos com animais, nomeadamente em roedores, a suplementação com taurina tem tido resultados bastante interessantes. Nestes estudos, a suplementação foi associada (1) a um aumento do conteúdo de taurina muscular e do tempo de corrida até à exaustão e (2) a um aumento da força e diminuição do dano oxidativo após estimulação muscular prolongada. Por outro lado, exercício prolongado parece levar a uma diminuição do conteúdo muscular de taurina em roedores, afetando de forma negativa a capacidade do músculo-esquelético para exercitar.

Porém, em humanos, nenhum destes efeitos foi ainda demonstrado. Em primeiro lugar, a maioria dos estudos avalia o efeito da taurina em combinação com muitas outras substâncias, algumas delas com efeito ergogénico comprovado (como a cafeína e os hidratos de carbono). Por essa razão, inviabiliza-se a associação dos efeitos positivos observados a qualquer uma das substâncias presentes no cocktail investigado. Além disso, alguns estudos têm outras falhas metodológicas, como (1) grupos controlo pouco adequados ou (2) variáveis interpretadas de forma questionável. 

Mais ainda, os processos envolvidos no transporte da taurina para o músculo têm-se mostrado resistentes aos aumentos marcados e prolongados dos níveis plasmáticos de taurina, conseguidos através de suplementação oral em humanos. Além disso, exercício de resistência prolongado parece não alterar os níveis musculares de taurina, ao contrário do que se tem observado nos estudos com roedores. 

De qualquer modo, existem estudos a demonstrar um aumento da oxidação de gordura durante 90 minutos a pedalar, e de rendimento numa corrida de 3km após suplementação aguda com taurina, apesar de existirem outros estudos onde estes resultados não foram verificados. A ter algum efeito, a taurina possivelmente atua via recetores na membrana da célula muscular, ou mesmo através de outros órgãos ou do sistema nervoso central.     

Concluindo, face aos resultados dos estudos efetuados até à data com suplementação em taurina, vários deles realizados com atletas, não existe evidência suficiente para comprovar o efeito ergogénico da taurina em humanos. Alguns autores, inclusive, são da opinião que esta substância não terá efeito ergogénico.  

 É importante não esquecer que a ciência é uma entidade em constante desenvolvimento e aperfeiçoamento. Por essa razão, é fundamental reconhecer que alterações ou, por outro lado, confirmações, possam surgir no futuro. E não se esqueça! Se está a pensar iniciar a toma de algum suplemento, não o faça sem antes consultar um médico ou nutricionista especialista nesta área. 
 
*Mónica Sousa, nutricionista na componente desportiva, colaborou Federação Portuguesa de Atletismo. Foi nutricionista da equipa de futebol sénior do Vitória de Setúbal e colaborou com a Federação Portuguesa de Natação, entre outras modalidades. Doutoranda em Ciências do Desporto, especificamente na área de nutrição no desporto de alto rendimento
Qualquer dúvida ou questão pode ser enviada por email para monicasousa.ionline@gmail.com 

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