Volta ao Algarve: Pode haver um novo líder em Geraint Thomas

Galês da Sky, que se iniciou no ciclismo aos 10 anos, conquistou a 41.ª edição da "Algarvia".

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Geraint Thomas viveu neste domingo, ao conquistar a 41.ª Volta ao Algarve, o seu primeiro apogeu como ciclista de estrada, um momento que pode transformar o galês definitivamente num líder para a Sky.

Geraint Thomas é um "tipo" porreiro, apesar de pouco expansivo. Descreve-se como um homem organizado e disciplinado, mas, depois de cinco dias de convívio, é fácil adivinhar-lhe os traços. Há que gabar-lhe a paciência na espera até às cerimónias protocolares - ocupa o tempo com chamadas para a noiva, Sarah -, mas também a cortesia - repetiu elogios ao Algarve, aos seus hotéis, às suas pessoas - e a calma, mesmo nos momentos em que a modalidade não lhe permite aquilo de que mais gosta: liberdade.

A estória de novo vencedor da Volta ao Algarve no ciclismo começou como qualquer outra. Vibrava com o alemão Jan Ullrich na televisão e, aos dez anos, experimentou um clube velocipédico de crianças de Whitchurch, em Cardiff, onde nasceu a 25 de Maio de 1986, e apaixonou-se.

No entanto, como qualquer grande paixão, a sua só se consolidou quando se tornou recíproca. "Suponho que só comecei realmente a acreditar em mim depois de Los Angeles [onde se sagrou campeão mundial júnior de pista na disciplina de scratch]. Foi quando vi o ciclismo não como um hobby, mas sim como uma possível carreira".

Aos 18 anos, mudou-se para Manchester, para a Academia Olímpica britânica, dividindo quarto com Mark Cavendish. Longe de casa, ganhou experiência, percorreu o mundo e viveu as primeiras agruras como ciclista, quando, em Fevereiro de 2005, sofreu uma queda grave em Sydney (Austrália) e perdeu o baço.

Recuperado do susto e de volta ao seu nível, foi contratado como estagiário pela Saunier Duval, antes de abraçar o profissionalismo na Barloworld, que lhe deu a oportunidade de ser o corredor mais jovem a alinhar à partida do Tour 2007 e o primeiro galês a fazê-lo desde 1967.

Com Pequim 2008 à espreita, o apelo da pista foi mais forte. Com um título de campeão mundial de perseguição por equipas para defender, dedicou boa parte da temporada a preparar o seu primeiro grande momento olímpico: o ouro na mesma categoria, com direito a recorde mundial e a nomeação como Membro da Ordem do Império Britânico.

O azar voltou a perturbá-lo no início de 2009. Fracturou a pélvis e o nariz numa saída em frente num contra-relógio e esteve 20 dias sem pedalar, mas, no final da época, sagrou-se campeão britânico individual de perseguição. O título concedeu-lhe um lugar na Sky e embalou-o para a sua melhor temporada até então na estrada, ao vestir durante três dias a camisola da juventude no Tour.

Mas 2010 não acabou como pretendido: uma epidemia de dengue na Índia levou-o a abdicar dos Jogos da Commonwealth. "É uma grande desilusão, porque só posso correr por Gales a cada quatro anos". Galês convicto - na televisão, gosta de ver os jogos de futebol do Cardiff City e da sua selecção de râguebi -, o homem da Sky teve um 2011 discreto, antes de voltar a centrar-se na pista.

Londres 2012 foi o seu momento mais feliz: ouro olímpico na perseguição por equipas, recorde do Mundo e os britânicos rendidos aos seus pés. Com o coração dividido entre a estrada e a pista - a sua prova preferida é a Volta à Flandres, mas os melhores momentos viveu-os nos Jogos -, Thomas decidiu concentrar-se no seu papel na Sky.

Trabalhador incansável, primeiro de Bradley Wiggins, depois de Chris Froome e de Richie Porte, destacou-se no Critério do Dauphiné, em 2013, e no Tour, ao suportar uma fractura na pélvis desde a etapa inaugural para colaborar na vitória final de Froome. Contudo, foi no ano passado que Thomas brilhou com luz própria, perante o infortúnio do vencedor em título e o ocaso de Porte, terminando a Volta a França na 22.ª posição.

Terá sido com o Tour e com o ouro conquistado por Gales nos Jogos da Commonwealth que, tal como há dez anos, reparou que podia ser algo mais. "Não sei se é o próximo Wiggins, mas pode estar no bom caminho. É forte no contra-relógio e emagreceu, está mais leve e já ataca na montanha", descreveu José Azevedo, director da Katusha, depois de ver o ciclista da Sky brilhar para ganhar a 41.ª Volta ao Algarve.

Classificações

5.ª etapa
1. André Greipel (Lotto Soudal), 4:15.40 horas
2. Tom van Asbroeck (Lotto NL-Jumbo), m.t.
3. Rudiger Selig (Katusha), m.t.
4. Gianni Meersman (Etixx-QuickStep), m.t.
5. Phil Bauhaus (Bora-Argon 18), m.t.
6. Roy Jans (Wanty-Groupe Gobert), m.t.
7. Jurgen Roelandts (Lotto Soudal), m.t.
8. Alexander Porsev (Katusha), m.t.
9. Ben Swift (Sky), m.t.
10. Filipe Cardoso (Efapel), m.t.

Geral individual
1. Geraint Thomas (Sky), 19:46.13 horas.
2. Michal Kwiatkowskil (Etixx-QuickStep), a 27 segundos.
3. Tiago Machado (Katusha), a 01.11 minutos.
4. Richie Porte (Sky), a 01.14.
5. Luis León Sánchez (Astana), a 01.18.
6. Rein Taaramae (Astana), a 01.19.
7. Sergei Chernetski (Katusha), a 01.32.
8. Alberto Losada (Katusha), a 01.55.
9. Rubén Fernández (Movistar), a 02.04.
10. Ion Izaguirre (Movistar), a 02.21

Equipas:
1. Katusha (Rus) 59:22.23 horas
2. Astana (Caz) a 02.05 minutos.
3. Movistar (Esp) a 02.21.

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