Falciani, o controverso "jogador de póquer" do HSBC
Delator do banco viajou de carro até França com cinco DVD secretos.
Se há ponto assente em relação a Hervé Falciani, o homem que largou o rastilho da investigação ao HSBC, é que este informático franco-italiano de 42 anos está longe de ser uma figura consensual. Mas na imprensa internacional já ganhou uma comparação de peso, como o Edward Snowden da banca.
Falciani trabalhava no HSBC desde 2000. Do Mónaco foi para Genebra em 2006, para organizar a transferência de dados dos clientes do velho sistema informático para um novo sistema. A forma como o antigo trabalhador do HSBC conseguiu as listas confidenciais, que mais tarde entregaria às autoridades francesas, não é consensual.
No perfil que traçou dele, o jornal Le Monde ouviu colegas e a dúvida continuou no ar sobre como é que o informático conseguiu obter os dados informáticos. O próprio Falciani garantiu ao jornal ter roubado as informações, com a cumplicidade de alguém do banco. “Não estava autorizado a aceder às informações operacionais, mas trabalhava em todos os projectos sensíveis”. Palavra de Falciani.
O que leva o jornal francês a desfazer a imagem de herói do informático é a forma como o apresenta como uma figura manipuladora, um “jogador de póquer” que sabe mexer-se em terrenos movediços e levar a água ao seu moinho; por outro lado, o facto de ter alertado a associação de banqueiros valeu-lhe investigações pelas autoridades suíças em 2008, ano em que voara até ao Líbano com Georgina Mikhael alegadamente para vender a lista que tinha em sua posse. Georgina, diz a BBC, garante que os dois namoravam na altura, ele nega; ela diz que viajaram juntos para tentar ganhar dinheiro com as informações, ele nega. É também Georgina quem diz que Falciani usou um nome falso quando se encontraram com gestores de bancos libaneses.
O seu protagonismo chega quando em 2008 foge para França e entrega cinco DVD à autoridade tributária francesa em Nice, até onde viajara num automóvel alugado. Falciani chegou a estar detido em 2012 durante cinco meses e meio em Espanha. Ficou a salvo da extradição para a Suíça, mas não se livra das acusações do Ministério Público helvético por alegada espionagem económica e violação do segredo comercial e bancário.