Pensadores da cidade

Gostam de discutir e de extremar soluções, procuram materiais comuns ao nosso quotidiano mas aos quais somos indiferentes. E tudo o que estes jovens arquitectos do Porto não são é convencionais. No final deste mês, os LIKEarchitects vão estar no Parque Olímpico de Londres, e em Amesterdão, para a terceira edição do Light Festival, um dos maiores eventos de luz da Europa.

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"Frozen Trees", no Natal do Rossio, em 2011 © FG+SG
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O projecto "Fountain Hacks" transformou as fontes públicas de Guimarães em mini-parques aquáticos para serem usados pelos habitantes durante Guimarães, CApital Europeia da Cultura, 2012 © Dinis Sottomayor
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"LEDscape", 2012 © FG+SG
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1200 LED acesas no CCB © FG+SG
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"Constell.ation", nos jardins da Presidência da República, 2013 © FG+SG
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Arcos com tubos corrugados vermelhos retro­iluminados por LED no Natal de 2013 no palácio presidencial, em Belém © FG+SG
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Com o projecto "Temporary Bar", na Queima das Fitas, em Coimbra, o colectivo recebeu o prémio internacional de arquitectura Archdaily Building of the Year em 2008 © Sandra Neto
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"BusStopSymbiosis", no Largo dos Lóios, no Porto, em 2010 © Dinis Sottomayor
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"The Andy Warhol Temporary Museum", projecto no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, 2013 © FG+SG
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"Kinematix Headquarters", a sede de uma empresa de microelectrónica que foi toda desenhada como um sistema de portas de correr de garagem, 2014 © Dinis Sottomayor
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Nesta fotografia de grupo fica a faltar Teresa Otto, que juntamente com Diogo Aguiar e João Jesus fundaram o colectivo que agora reúne mais cinco pessoas ©Lucía Puchol

Os LIKEarchitects parecem estar sempre a divertir-se, na ocupação do espaço urbano e na inversão que fazem da linguagem habitualmente mais formal do exercício da arquitectura.

E brincam connosco enquanto habitantes e transeuntes que somos na cidade, pedindo-nos reacção ao seu modo provocatório de apropriação efémera e redesenho da urbe. Até no nome que escolheram para se definirem como colectivo de jovens arquitectos há um gozo quase pueril, irreverente: se traduzíssemos LIKEarchitects seria COMOsefôssemosarquitectos, como se ainda não o fossem a sério mas quisessem já chamar a atenção e até serem validados por likes de rede social.

Apresente-se o colectivo nascido no Porto em 2008: Diogo Aguiar, Teresa Otto e João Jesus, os três com 31 anos, os três colegas e amigos desde os tempos da Faculdade de Arquitectura. Isto era em 2008, porque agora os LIKEarchitects são mais cinco, um melting pot sediado no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto onde há a espanhola Tània Costa Coll, o eslovaco Daniel Mudrak, a italiana Lidia Pasini e os também portugueses António Araújo e João Salgueiro. Diogo Aguiar faz de porta-voz para a Revista 2: “Acreditamos na prática da arquitectura enquanto expressão artística e na pertinência do efémero na activação dos lugares. A arquitectura efémera pode ter a função de tornar a cidade mais leve e agradável de ser vivida.” E nisso há um bichinho de manifesto com objectivos claros: fomentar a curiosidade, questionar mentalidades, provocar assertividade crítica sobre a cidade ou a disciplina da arquitectura.

O que andam a fazer tem dado frutos. Melhor, conhecendo o que fazem, dir-se-ia que têm sabido iluminar o caminho. É deles a intervenção com dispensadores de sacos de plástico que deram uma diferente luz de Natal à Praça do Rossio em 2011 (Frozen Trees); é deles a invasão dos jardins da Presidência da República com tubos corrugados vermelhos retro­iluminados por LED (Constell.ation, 2013); é deles o bar temporário feito com caixas de arrumação do Ikea e que esteve ao dispor da Queima das Fitas em Coimbra (este Temporary Bar de 2008 deu-lhes o primeiro lugar no prémio internacional de arquitectura Archdaily Building of the Year); é deles o labirinto que se ilumina à passagem com 1200 LED no CCB (LEDscape, 2012). E só neste ano já lhes chegaram dois convites directos: de Londres, para terem uma instalação natalícia no Victory Park, East Village; e de Miami, para construírem uma peça artística que estará a iluminar uma das zonas comuns de um hotel à beira de inaugurar. Foram ainda um dos 33 seleccionados — entre 260 propostas — pelo júri do Amesterdam Light Festival para a Bright City, mote para a 3.ª edição do maior evento de luz na Europa e onde os LIKEarchitects estarão (em Plantage Muidergracht) a partir do próximo dia 11 de Dezembro e até 15 de Janeiro.

“As nossas obras recorrem ao humor e à subversão, procurando construir relações inusitadas com as pessoas, provocar reacções e, até, reflexões”, explica Diogo Aguiar. Está a referir-se, por exemplo, ao projecto BusStopSymbiosis, que em 2010 metamorfoseou as paragens de autocarro no Largo dos Lóios, no Porto, em lagartas feitas de painéis de fibras de madeira e resina em cujos dorsos as peo projeto ‘Fountain Hacks’ (2012) ssoas poderiam deitar-se, se assim lhes apetecesse, enquanto esperavam transporte. “É muito importante a carga simbólica das intervenções efémeras, não só ao nível da mensagem que se quer transmitir, mas também na memória individual e colectiva, no legado.” Prossegue Diogo: “Assistimos a um número crescente de práticas que recorrem ao efémero para testar novos programas ou tipologias espaciais, propondo uma arquitectura mais especulativa, baseada na tentativa-erro, e crítica na sua relação, mais participada, com a cidade e os seus habitantes. A arquitectura temporária é também hoje a que melhor serve as exigências imediatas da sociedade contemporânea, em constante mutação.” Foi mais ou menos o que os guimaranenses puderam experimentar com a sua Capital Europeia da Cultura em 2012. De uma fonte pública espera-se que esteja lá, porque é equipamento urbano. Daí até ser usado por todos vão, literalmente, uns quantos passos, que habitualmente nos estão vedados. O que os LIKEarchitects fizeram foi democratizar as fontes públicas de Guimarães, permitindo a quem passasse o seu uso como se de piscinas a céu aberto se tratassem, miniparques aquáticos com direito a bóia e fato de banho.

“Muitos dos nossos projectos são caracterizados por uma materialidade ready-made, que constrói a partir de objectos existentes, criando espaços (im)pertinentes com estéticas improváveis”, explica Diogo Aguiar. Agora andam a trabalhar na remodelação de dois edifícios degradados, um que já foi habitação, do século XIX, na Baixa do Porto; outro que serviu para comércio, em Aveiro. Ambos serão espaços de restauração e hotelaria com um conceito original. E já terminaram o Kinematix Headquarters, a sede de uma empresa de microelectrónica que foi toda desenhada como um sistema de portas de correr de garagem.  

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