Seis chaves para entrar numa mala Vuitton

Marc Newson, Karl Lagerfeld, Rei Kawakubo, Frank Gehry, Cindy Sherman e Christian Louboutin criam novos produtos com o famoso monograma.

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Na casa de Nicolas Ghesquière, dá-se a chave a Karl Lagerfeld, Rei Kawakubo e Christian Louboutin? E partilha-se espaço com Marc Newson, Frank Gehry e Cindy Sherman? Quando essa casa é a maison Louis Vuitton, cuja direcção criativa está entregue ao prodígio Ghesquière e que celebra os seus 160 anos de vida, sim. Uma das imagens mais fortes do mundo do design de moda é transformada por designers, arquitectos e artistas em saco de boxe, mochila ou trolley de compras.

Na casa de Nicolas Ghesquière, dá-se a chave a Karl Lagerfeld, Rei Kawakubo e Christian Louboutin? E partilha-se espaço com Marc Newson, Frank Gehry e Cindy Sherman? Quando essa casa é a maison Louis Vuitton, cuja direcção criativa está entregue ao prodígio Ghesquière e que celebra os seus 160 anos de vida, sim. Uma das imagens mais fortes do mundo do design de moda é transformada por designers, arquitectos e artistas em saco de boxe, mochila ou trolley de compras.

Recuemos à Paris novecentista antes do mergulho em monogramas e grandes nomes que desenham sapatos, vestuário disruptivo ou edifícios ondulantes. Há 160 anos, nascia uma casa de malas de viagem na Rue des Capucines. Eram especiais, empilháveis e em tela impermeável. Em 1896, o filho do fundador Louis, Georges Vuitton, criava em sua homenagem o monograma LV, acompanhado por uma série de flores de quatro pétalas estilizadas — hoje é uma das marcas mais reconhecíveis em todo o planeta.

Ingrediente fundamental de uma fórmula inseparável da imagem do design de luxo, entregou-se então a seis autores no projecto Celebrating Monogram. Ghesquière e Delphine Arnault, vice-presidente executiva do grupo LVMH que detém a Vuitton, abriram a porta aos iconoclastas, cidadãos do mundo criativo a quem chamam “pioneiros”, para criar novas malas. “São artistas extraordinários; podia mesmo dizer que são os maiores designers do mundo”, diz Arnault.

E eis Karl Lagerfeld, da rival Chanel e da italiana Fendi, Rei Kawakubo da conceptual Comme des Garçons, o designer de sapatos Christian Louboutin mas também a artista Cindy Sherman, o designer de produto Marc Newson e o arquitecto-estrela Frank Gehry unidos em torno de carteiras Vuitton. Que estão já à venda nas lojas Vuitton de todo o mundo, inclusive em Lisboa.

O que fizeram para trabalhar o monograma e a mala clássica, nos seus inúmeros modelos, da Vuitton? Comecemos pelo mais falador e falado, Lagerfeld, citado no comunicado da marca. Da influência do desporto na moda e cultura, criou uma mini-linha com base no facto de conhecer cada vez mais pessoas a fazer boxe. É “algo que uma pessoa deve fazer, se possível, de uma forma muito cara. Por isso desenhei uma mala de viagem enorme com um saco de boxe dentro”, que depois declinou noutros modelos menores. Há ainda um pequeno tapete para principiantes e uma carteira com luvas de boxe no interior. O malão pode ser um pequeno armário graças a um suporte metálico e a um sistema de rodas invisíveis, por exemplo. “Sabem que desenho tudo sozinho?”

Já Louboutin desenhou em parte o expectável, combinando “dois ADN” (lá está o verniz vermelho da sola dos seus sapatos) mas num objecto inesperado. Um trolley porque os vê muito por Paris e que mistura influências dos artistas novecentistas Les Nabis. Mas as destinatárias ideais do seu trolley Vuitton são as raparigas de Los Angeles, que “geralmente nunca se aventuram nas ruas, mas quando o fazem — com as suas peles perfeitas — vagueiam pelos vastos mercados de produtos biológicos”.

Além do trolley, há duas malas de mão com os elementos do carrinho, porque esta linha é toda uma série. Por falar em série, Cindy Sherman, cuja performance em fotografia nunca a tinha levado para o interior de um malão, criou um que “podia ser um mini-estúdio ambulante”. Interiores coloridos (“pensei no meu papagaio”), autocolantes com algumas das suas imagens (mas “mais bizarras”) e etiquetas escritas à mão em todos os compartimentos, que guardam pequenos presentes — olhos, dentes falsos. “Claro que em vez disso toda a gente pode pôr lá a sua roupa interior ou T-shirts.” Ao malão junta-se a mala de tiracolo que era para ser uma mala para a máquina fotográfica, neste que é o primeiro projecto não fotográfico da artista. Para quem? Idealmente, Madonna, Lady Gaga ou RuPaul.

Outro iconoclasta que “nunca tinha estado dentro de uma mala de mão” é o Pritzker Frank Gehry, que na semana passada inaugurou o seu novo edifício — a Fundação Vuitton, em Paris. “Por isso tentei pensar no que gostaria se estivesse [lá dentro] e pensei ‘talvez azul’”, explica o arquitecto na mesma nota de imprensa. A sua mala é um sólido que parece um paralelepípedo, mas com curvatura, e cujo interior tem o monograma desenhado à mão pelo arquitecto que há dias mostrou o dedo médio à crítica. “Imagino que haverá muitos arquitectos do establishment que serão pretensiosos quanto ao facto de eu desenhar uma mala. Essa é a melhor parte!”

Cada um destes objectos transmite a visão do design dos seus autores. A japonesa Rei Kawakubo é um acontecimento quase invisível porque raramente é fotografada e dá entrevistas. Aqui, quis “quebrar o monograma Louis Vuitton tradicional”. E “embora haja várias maneiras de quebrar para criar algo novo, desta vez tentei jogar a direito: simplesmente, fiz alguns buracos no tecido da mala. Normalmente gosto de malas pequenas”, diz sucintamente sobre a sua mala esventrada.

E depois há Marc Newson, um designer dos designers, e a sua mochila colorida e ligeiramente felpuda (“posso pegar na mochila e dormir uma sesta”). E que é basicamente algo que o designer agora contratado pela Apple e autor das cadeiras Lockheed e Embryo queria para si. É uma colagem da experiência de décadas de Newson como utilizador de mochilas. “Fazê-la ficar em pé era muito importante.” Pensou nessa matriz do monograma como símbolo da ideia de um homem que tornou uma tela resistente em negócio, e transformou a tela na base da sua mochila, “como um pneu num carro ou uma sola num sapato”.

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