“Eudóxia”: uma cidade utópica representada numa tapeçaria

A tapeçaria “Eudóxia” foi desenhada por Ana Aragão em parceria com a Tapeçarias Ferreira de Sá e vai estar exposta no Porto, no Centro Português de Fotografia, até dia 11 de Novembro

A arquitecta e artista portuense Ana Aragão, 30 anos, desenvolveu em parceria com a Tapeçarias Ferreira de Sá, uma das mais antigas empresas dedicadas à tapeçaria tradicional em Portugal, um projecto denominado “Eudóxia”, uma tapeçaria de autor que alia uma perspectiva artística à tapeçaria tradicional. A “Eudóxia” vai estar exposta no Centro Português de Fotografia até dia 11 de Novembro.

Ana Aragão criou o desenho que resultou numa tapeçaria única, que pode ser usada de várias formas, por exemplo, como um tapete normal ou até como uma obra de arte pendurada na parede. “O meu objectivo foi criar uma tapeçaria com várias funções e para vários tipos de pessoas”, conta Ana ao P3.

O nome “Eudóxia” foi inspirado no livro “As cidades invisíveis”, de Ítalo Calvino. “Eudóxia” é uma das cidades citadas no livro e está intimamente ligada a um tapete, que pretende representar um ideal, o desenho de uma cidade que não corresponde à realidade.

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Ana Aragão criou o desenho que resultou numa tapeçaria única, que pode ser usada de várias formas. Rui Vieira

A tapeçaria “Eudóxia”, de acordo com Ana Aragão, representa uma cidade possível, a cidade que tu quiseres ver e com a qual te identificas. O desenho possui um ponto de fuga central e convida o observador a explorar a cidade universal. “Cada observador encontra a sua própria lógica e a sua própria posição perante o desenho”, sublinha a arquitecta.

Ana Aragão é ilustradora e baseia todo o seu trabalho na arquitectura e na representação de cidades que podem ser imaginárias ou não. As suas “anagrafias” urbanas não contam as histórias dos seus edifícios, mas sim das pessoas que lá vivem. A cidade é apenas um pretexto para explorar o humano, através das linhas mais finas possíveis ou de uma paleta cheia de cores.

O desenho da artista deu origem a uma edição limitada e numerada de 112 tapetes feitos 100% com lã natural e que têm como medida 2,40 metros por 1,80 metros. As tapeçarias são feitas por encomenda e o preço encontra-se sob consulta.

O lançamento da tapeçaria “Eudóxia” ocorreu no dia 11 de Outubro e teve lugar no Centro Português de Fotografia, no antigo Edifício da Cadeia e Tribunal da Relação do Porto, onde vai estar exposta até dia 11 de Novembro. A tapeçaria está exposta no pátio dos presos e, segundo Ana Aragão, o local onde está relaciona-se directamente com o desenho da mesma. 

Cada cidade é o reflexo do nosso próprio olhar

Habituada ao papel e a um processo solitário como desenhar e pintar à mão, Ana Aragão teve de se adaptar a um trabalho colectivo e colaborativo. No fundo a artista sofreu uma passagem para outro suporte, ao qual não estava habituada e não podia controlar, por isso teve de tomar conhecimento das técnicas necessárias para a produção da tapeçaria “Eudóxia”. “Senti a necessidade de falar com os designers da empresa para perceber os processos de cores, qual o tamanho mais indicado e de que forma se adaptava a ilustração à tapeçaria”, sublinha Ana Aragão.

A Tapeçarias Ferreira de Sá, fundada em 1946, é uma empresa especializada na produção de tapetes tradicionais, em teares manuais utilizando técnicas de tecelagem tradicionais e ancestrais como o “Hand-knotting” (nó manual), “Hand-weaving” (tecelagem manual) e “Hand-tufting” (tufado manual). Esta empresa tem vindo a desenvolver parcerias com marcas como Louis Vuitton, Dior, bem como colecções desenhadas por autores de referência nacional e internacional, como Álvaro Siza, Fátima Lopes e Frank Ghery.

A dedicação de Ana Aragão tem sido reconhecida nacional e internacionalmente, salientando-se a sua participação na Bienal de Veneza 2014, o destaque como capa da publicação chinesa “Casa” e a selecção pela Luerzer's Archive - “200 Best Illustrators Worldwilde”.

Para a artista portuense cada cidade é o reflexo do nosso próprio olhar e é essa a experiência que podemos vivenciar quando observamos a tapeçaria. Uma cidade que só nós conseguimos ver e imaginar, através de um tapete “mágico”.

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