Casos crónicos de hepatite estão a aumentar

Mais de 500 milhões de pessoas vivem com hepatite B e C crónica. Muitas não sabem que estão doentes

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Actualmente, as únicas vacinas comerciais contra a hepatite B são injectáveis Karoly Arvai/Reuters

É necessário intensificar a prevenção e os programas de controlo para reverter a tendência para o aumento de casos crónicos de hepatite vírica, doença silenciosa que afecta milhões de pessoas em todo o mundo, avisam esta sexta-feira responsáveis do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, siglas em inglês).

As hepatites víricas (há vários tipos de vírus) constituem actualmente a oitava principal causa de morte no mundo, "provocando a morte a tantas pessoas como VIH/Sida a cada ano”, sublinha Charles Gore, presidente da Aliança Mundial da Hepatite.  Os dados disponíveis indicam ainda que o cancro do fígado está a aumentar em todo o mundo, representando já a terceira causa mais comum de morte por cancro. 

“A hepatite vírica é prevenível – mas, deixada por tratar, a infecção crónica com hepatite B e C, por exemplo, pode progredir para cirrose ou cancro do fígado”, avisa o director do ECDC, Marc Sprenger, num comunicado anexo ao relatório esta sexta-feira divulgado a propósito do dia mundial da doença (que se assinala a 28 de Julho), em que lembra que muitas pessoas não têm a consciência de que estão doentes, porque a patologia é muitas vezes assintomática.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2010 registaram-se cerca de 1,5 milhões de mortes tanto por hepatite vírica, como por VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana)/sida em todo o mundo e mais de 500 milhões de pessoas vivem com hepatite B ou C crónica.

Em Portugal, faltam dados de base populacional - o primeiro estudo deste tipo, só para a hepatite C (a que mais preocupa os especialistas neste momento) - vai ser apresentado no Porto na segunda-feira, numa altura em que prossegue o debate sobre o acesso aos medicamentos inovadores (o ministério continua a negociar o preço destes fármacos com o laboratório que os produz).

Voltando ao relatório do ECDC, no caso da hepaite A, depois de vários anos de tendência para o declínio e a estabilização, recentes surtos indicam que a infecção “reemergiu como um problema de saúde pública na Europa”, avisam os especialistas do organismo. “Estes surtos levantam a questão de se saber se os Estados-membros da União Europeia devem avançar para recomendações mais alargadas de vacinação contra a hepatite A, porque esta habitualmente apenas é recomendada a viajantes”, sugere mesmo Sprenger.

Quanto aos outros tipos conhecidos da patologia, actualmente a hepatite C causa uma maior carga de doença na Europa do que a hepatite B, com quase o dobro de casos e notificações: entre 2006 e 2012,  registaram-se mais de 110 mil casos de hepatite B e mais de 206 mil de hepatite C, sublinham os especialistas.

Na hepatite B, o problema é que as taxas de casos crónicos duplicaram entre 2006 e 2012, passando de 4,3 por 100 mil pessoas para 8,6 por 100 mil, neste período, nota o ECDC. Mas há uma boa notícia: o número de casos agudos de hepatite B está em contínuo declínio desde 2006 – muito graças aos programas de vacinação em vários países europeus, sublinha aquele organismo.

A preocupação com a hepatite C justifica-se porque, além da dimensão do problema, há muitos casos que não estão sequer classificados. Em 2012, dos 30.607 casos reportados por 27 Estados-membros da União Europeia, mais de três quartos não estavam classificados, sabendo-se apenas que 1,7% eram agudos e 12,8% crónicos, sublinha o ECDC. Aliás, só 13 países estavam em condições de classificar os casos como agudos ou crónicos, referem. A população entre os 24  e os 44 anos era a mais afectada, representando mais de metade de todos os casos de hepatites C diagnosticados nesse ano.

“O problema é mais sério do que pensavamos e precisamos de intensificar a prevenção e os programas de controlo”, advoga Sprenger.

A hepatite é uma inflamação do fígado, um problema habitualmente causado por uma infecção vírica. Enquanto a infecção com a hepatite A é normalmente causada por comida ou água contaminada e não provoca infecção aguda, a hepatite B e a C usualmente resultam de contacto com sangue infectado ou fluídos corporais e podem levar a infecções crónicas potencialmente fatais. 


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