Docentes do privado fazem mais formação do que os do público

Portugal é o país em que mais professores do 3.º ciclo acham formação cara ou incomportável. Relatório recomenda que governos ajudem docentes a melhorar prática ao longo da carreira.

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Portugal lidera o ranking no que respeita a professores que apontam o custo das formações como “barreira” à participação em actividades de desenvolvimento profissional: 80,7%, quase o dobro da média dos restantes países, concorda ou concorda fortemente que o preço é um factor que pode ser impeditivo. Este é um dos dados do relatório TALIS (Teaching and Learning International Survey) de 2013, publicado nesta quarta-feira pela OCDE, que abrange 34 países.

Apesar de esta razão liderar a tabela, no ano anterior ao estudo, 89% dos docentes deste grau de ensino disse ter participado em actividades de enriquecimento profissional. Mas 33% pagaram-nas na totalidade, contra uma média de 9,7%.

Apesar de a diferença não ser acentuada, na média dos 34 países em análise, os professores participam mais nestas actividades em escolas públicas do que em privadas. Em Portugal, porém, a percentagem é ligeiramente mais elevada nos estabelecimentos particulares (92,2%) do que nos estatais (88%) - com uma ligeira margem de erro, estas percentagens representam a fatia de docentes que no último ano fizeram formações e actividades de enriquecimento profissional.

Para este relatório, foi seleccionada, em cada país, uma amostra representativa que incluiu 200 escolas públicas e privadas, com respostas de 20 professores do 3.º ciclo e directores em cada uma delas.

Portugal também surge em primeiro lugar, com 92% dos docentes a considerarem que há falta de apoio do empregador para estas actividades, a média é 31,6%. E também que não há ofertas relevantes disponíveis (67,5% contra 39%) nem incentivos (85,2% contra 48%). As dificuldades de conciliar estas actividades com o horário de trabalho são apontadas por 74,8% (a média é 50,6%) dos docentes e aquelas relacionadas com as responsabilidades familiares são referidas por 48,2% (a média é 35,7%).

Também foi perguntado aos professores se receberam apoio não monetário (como alguma redução horária, dias de folga, licenças de estudo, entre outras) para estas actividades. Embora de uma forma geral este tipo de ajudas não seja uma prática comum, Portugal está abaixo da média, com apenas 4% dos docentes a relatarem terem recebido algum destes apoios, para uma média de cerca de 15%. Complementos salariais para estas formações beneficiaram apenas 0,7% dos docentes – a média é 7,9%. Os autores do relatório recomendam que “os decisores políticos de todos os países”, em particular de países como Portugal, considerem “uma variedade de apoio e incentivos (incluindo os não-monetários)” para ajudar os professores a melhorar a sua prática ao longo da carreira.

Directores consideram formações caras
O cenário não é muito diferente para os directores: 64,2% considera as formações caras (Portugal surge em segundo lugar na lista, sendo a média de 29,9%). Os directores portugueses também são os que mais se queixam da falta de apoio dos empregadores: 81,8% contra uma média de 20,7%. E também são os que mais dizem não haver ofertas relevantes disponíveis (54,1% para uma média de 22,4%). O facto de não haver incentivos é referido por 71,4% dos directores, quando a média ronda os 35%.

O relatório também indica que há menos professores em Portugal que participaram em programas formais de indução do que nos outros países – 35,5% para uma média de 48,6%. O relatório define como programa de indução uma série de actividades estruturadas numa escola, pensadas para ajudar os professores a integrarem-se naquele estabelecimento ou na profissão, e recorda que a Comissão Europeia recomenda estes programas.

Em Portugal, só terá havido algo semelhante, com carácter de avaliação, pelo menos até aos anos 1990. Hoje os professores saem das escolas superiores de educação ou das faculdades com a profissionalização feita (estágio), existindo depois um ano probatório, que não tem, no entanto, o mesmo peso e acompanhamento previsto nos anos de indução existentes noutros países. Ainda de acordo com o documento da OCDE, em Portugal, apenas 4,3% dos docentes deste ciclo disse ter tido um orientador (quando a média é 12,8%) e só 7,6% refere ter sido orientador de um colega (contra 14,2%).

No que respeita à avaliação, só 38,5% dos docentes deste grau de ensino considera que o feedback que receberam motivou um aumento no número de horas de actividades de desenvolvimento profissional, o que está abaixo da média que é 45,8%. Esse feedback melhorou a prática de ensino de 48,9% professores, o que continua, porém, abaixo da maioria dos países (62%).

Ainda no que toca à avaliação, o relatório indica que em Portugal há mais escolas que usam algum tipo de avaliação formal – 97,6% para uma média de 92,6% – e também mais docentes com aulas observadas (96,2% para uma média de 94,9%).

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