Plano de acção para colocar um fim no conflito entre o homem e o lobo

Associações exigem que Portugal tenha um plano de acção para a conservação do lobo ibérico. Criadores de gado pedem soluções para evitar o ataque desta espécie aos rebanhos.

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Daniel Rocha

Na Serra de S. Macário, em S. Pedro do Sul, há um rebanho colectivo que já foi considerado o maior da Península Ibérica com mais de duas mil cabeças de gado. Actualmente, está reduzido a um terço. A causa, dizem os criadores, está nos constantes ataques de lobos. Em Gestozinho, aldeia de Manhouce, os habitantes queixam-se não só dos prejuízos que os ataques provocam com a perda de gado, mas também do receio que têm com a proximidade dos lobos às habitações. “Além dos animais que andam pela serra, já houve ataques a galinhas e até a um cavalo”, conta uma moradora de Gestozinho. “Há pessoas que também têm medo de andar pelos trilhos”, acrescenta.

São receios infundados, assegura Eduardo Santos, da Liga para a Protecção da Natureza, que reconhece, no entanto, a necessidade de se criarem condições para que a convivência entre esta espécie e o homem deixe de ser conflituosa.

Na zona de S. Pedro do Sul, que integra o Maciço da Gralheira, a alcateia não é numerosa e está espalhada por uma grande área. Face às queixas dos habitantes, a autarquia local e as entidades regionais anunciaram que vão avançar com medidas que minimizem os ataques, nomeadamente com a entrega de cães treinados para guardar os rebanhos. Ponderam ainda a hipótese de colocar cercas pela serra, e em marcha está já o plano para introduzir corços, as presas naturais, para que os lobos não se aproximem das povoações. Uma medida que é aplaudida pela Liga para a Protecção da Natureza, que, pela voz de Eduardo Santos, explica que esta proximidade é consequência dos “ataques” que são feitos ao habitat natural dos lobos.

Associações pedem plano de acção
O conflito entre esta espécie animal e as populações não é novo, mas a opinião é unânime no que diz respeito à necessidade de se criar um plano de acção que proteja as duas partes do conflito.

“É necessário desenvolver uma estratégia de conservação desta espécie ameaçada que assegure a sua convivência com as populações e as actividades rurais”, referem, em comunicado, 19 associações portuguesas e espanholas que se juntaram para pedir urgência na concretização do plano.

Para Eduardo Santos, esta acção tem de ser “articulado” e com uma “estratégia integrada”. O ambientalista explica que a recente morte, por captura num laço ilegal, de mais um lobo ibérico é um exemplo da “passividade” das entidades competentes e que confirma os “piores receios” de que o conflito homem-lobo “não abranda”.

“O lobo, pelo seu estatuto de protecção, não é uma espécie cinegética em Portugal, e estes abates ilegais com arma de fogo, que nada têm a ver com a caça e com a exploração sustentada dos recursos cinegéticos, não podem continuar a ocorrer”, refere Eduardo Santos.

Para as associações ambientalistas, mas também representativas dos guardas e dos vigilantes da natureza, de defesa do património, ou agrícolas, como a confederação das cooperativas agrícolas (CONFAGRI), "é urgente assegurar acções que compatibilizem a presença desta espécie com as actividades humanas, como o combate eficaz à perseguição ilegal, ou o apoio aos produtores pecuários para a correcta protecção dos seus animais perante a predação do lobo".

“Tem de haver um envolvimento de todos para diminuirem os ataques. Sensibilizar as pessoas para as boas práticas de maneio do gado, a introdução de cercas eléctricas e de corços são algumas das medidas que já deveriam ter sido feitas e articuladas com outras que preservem a espécie”, sublinha Eduardo Santos.

População lupina a diminuir
Segundo os dados do Instituto de Conservação da Natureza, em Portugal a população dos lobos é diminuta e com tendência a ficar mais reduzida. De acordo com o último censo nacional de lobos, efectuado em 2002/03, a população lupina em Portugal distribui-se por cerca 20 mil km2, sendo estimada em 65 alcateias, o que corresponde, aproximadamente, a 300 indivíduos.

Actualmente, o lobo subsiste somente nas serras mais agrestes do Norte e Centro de Portugal (caracterizadas por uma baixa densidade populacional humana e por uma importante actividade agro-pecuária), tendo os seus principais e mais estáveis núcleos nas montanhas que constituem o Parque Nacional da Peneda-Gerês, o Parque Natural de Montesinho e o Parque Natural do Alvão.

“Há zonas no Norte com uma população maior, mas, por exemplo, a sul do Douro, as alcateias estão reduzidas e sempre ameaçadas. Em Portugal, o cenário não é animador quando comparado com outros países, como Espanha ou Itália, em que esta espécie está em expansão”, lamenta Eduardo Santos.

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