Godzilla

Godzilla feito no Japão, em plenos anos 50, tinha um significado muito preciso: era a erupção do medo de um país traumatizado pelo nuclear, os fantasmas de Hiroxima e Nagasaqui a revelarem a sua monstruosa morfologia. Godzilla feito por Hollywood no século XXI até terá, na melhor das hipóteses, algum tipo de significado, mas muito menos preciso e muito menos necessário. Este lado gratuito de um remake, contemporâneo e deslocado, de Godzilla foi melhor compreendido por Roland Emmerich em 1998: não era um bom filme (pelo contrário), mas vivia da irrisão do seu próprio espectáculo (para além de ter ficado como uma das últimas fantasias da destruição de Nova Iorque antes de Setembro de 2001). Já Gareth Edwards leva isto muito a sério, tão a sério que se sente na obrigação de convocar tudo o que foi catástrofe na última década e meia (do tsunami ao 11/9, justamente), maneira de despertar no espectador alguma associação entre os monstros e as memórias traumáticas do nosso tempo recente. Falha miseravelmente - Cloverfield fazia isso muito melhor - nesse e noutros aspectos: a inépcia dramatúrgica, a quantidade de clichés andantes a que chama “personagens”, encarregam-se de atestar que este Godzilla é só um, cada vez mais típico, roller coaster digital, cheio de agitação visual e sonora mas onde, tudo espremido, nada se passa e, bem vistas as coisas, nada existe.

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