No Barreiro, milhares de voluntários vão declarar guerra às acácias e chorões

A União Europeia apoia projectos ligados à natureza mas, em 225, apenas quatro são portugueses. Um deles é do Barreiro e visa contrariar o avanço de espécies invasoras nas jóias do concelho.

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As acácias são uma praga por todo o país Adriano Miranda

Elas têm umas flores amarelas e se começaram por embelezar jardins e estradas, cedo se tornaram uma praga, invadindo matas e bosques. Eles começaram por ajudar a fixar dunas mas logo se transformam em tapete, expulsando quem sempre por ali viveu. No Barreiro, um exército de voluntários vai declarar guerra às acácias e chorões. E contam com ajuda europeia.

O projecto Lifebiodiscoveries, apresentado pela Câmara Municipal do Barreiro, no valor de 1,3 milhões de euros, foi um dos quatro projectos portugueses aprovados no âmbito do programa Life+, destinado a projectos ambientais.

Este foi o terceiro ano consecutivo que o município apresentou o projecto, que visa controlar as espécies invasoras na Mata da Machada (acácias) e no Sapal do Rio Coina (chorões). Para Henrique Pereira dos Santos, arquitecto com vasta experiência nas áreas da conservação da natureza e biodiversidade que elaborou a candidatura da autarquia, este é um projecto de “elevado interesse”, uma vez que as espécies invasoras são “uma das grandes ameaças à diversidade biológica à escala mundial”, porque provocam uma “substituição de sistemas”, alterando o “aparecimento e crescimento de plantas e, eventualmente, de alguns animais, sobretudo insectos”. O que torna necessária a realização de “um restauro ecológico”, que “controle o problema”.

Todavia, as intervenções mais técnicas de combate às espécies invasoras obrigam a custos muito elevados, sobretudo, de acordo com o arquitecto paisagista, por “se estenderem muito no tempo, durante cerca de cinco ou seis anos”. Deste modo, o grande trunfo do projecto barreirense é a mobilização social prevista no projecto, tornando-o mais eficaz em termos de custos.

Bruno Vitorino, vereador do Ambiente da Câmara do Barreiro, afirmou que o município conta “envolver cerca de 7000 voluntários”, através de escolas, associações, IPSS, empresas, mas também individuais e famílias. Para o vereador, envolver um grupo com estas dimensões no projecto torna-o “bastante ambicioso”, contudo mantém a confiança de que vão conseguir “pô-lo em prática”.

De acordo com Henrique Pereira dos Santos, é importante mobilizar a sociedade civil, em vez de colocar “o peso do projecto” apenas no Estado, seja central ou local. “As administrações têm altos e baixos, por vezes são obrigadas a fazer cortes orçamentais, o que faz com que nem sempre exista capacidade da autarquia para continuar de forma consistente, ao longo do tempo, as pequenas intervenções que o projecto necessita”, afiançou.

Este projecto é, para o vereador do ambiente, um “corolário” da aposta que a autarquia fez nos últimos oito anos em matéria de ambiente. Bruno Vitorino acredita que a execução vai permitir “selar, de forma definitiva, o vínculo dos barreirenses com aqueles espaços”. Mas também ajudar a “lançar o nome do município para além das fronteiras do próprio concelho, em termos regionais e em termos nacionais”, demonstrando que o Barreiro vale “não só pelo seu passado industrial”, mas também pela “riqueza em termos de biodiversidade” que “as pessoas desconheciam”.

O Sapal do Rio Coina situa-se num braço do rio Tejo, entre o Seixal e o Barreiro, e alberga diversas espécies de aves aquáticas. Ao lado, a Mata da Machada é uma área florestal composta sobretudo por pinheiros-bravos, mas também pinheiros-mansos, sobreiros e eucaliptos.

O projecto tem um valor de 1,3 milhões de euros e vai ser financiado a 50% pela União Europeia. Segundo Bruno Vitorino, a participação camarária será “acima de tudo, ao nível dos recursos humanos”, uma vez que já dispunham de “um centro de educação ambiental” e de um conjunto de pessoas “que habitualmente fazem iniciativas para dinamizar aqueles espaços”. O vereador acredita que o município irá conseguir “captar o investimento do tecido empresarial”, não pedindo directamente às empresas que “invistam” mas apelando, antes de mais, a que estas “participem, se envolva e ajudem o município a resolver o problema” e, mais tarde, atraídos pela “visibilidade positiva” decorrente da acção, tenham no projecto também “uma participação financeira”.

Bruno Vitorino acredita ainda que se o projecto vingar, “a utilização de acções de voluntariado poderá propagar-se noutros projectos a nível europeu”.

Bruxelas recebeu 1468 candidaturas ao programa LIFE+, tendo sido seleccionados 255 projectos. Apenas quatro são portugueses, com um valor total de 6,6 milhões de euros. Para Henrique Pereira dos Santos, existem essencialmente dois factores que justificam o reduzido número de projectos nacionais aprovados: Por um lado, “a inexistência de cultura do país em relação ao próprio programa”, nomeadamente em comparação com outros países, dos quais é exemplo a Espanha, onde existem “à partida máquinas montadas que permitem produzir um projecto aprovável”. Por outro lado, deve-se também, de acordo com o arquitecto, “à falta de trabalho da tutela”, não no sentido de “pressionarem a Comissão Europeia para aprovar projectos” porque isso “não resolve nada”, mas sim na “falta de trabalho de apoio aos potenciais preponentes”.

O projecto referente às aves marinhas existentes nas Berlengas, apresentado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, foi outra das candidaturas nacionais aprovadas. Duas iniciativas da Liga para a Protecção da Natureza, referentes à protecção da águia-imperial e do saramugo, conseguiram também apoios do Life+.

Editado por Ana Fernandes

 

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