Universidade do Minho não terá semana académica, apesar dos protestos

Petições exigem manutenção do Enterro da Gata, mas associação diz que a decisão é irreversível. Câmara confirma que estrutura que originou morte de três estudantes era responsabilidade do condomínio.

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Estrutura de caixas de correio que rui é responsabilidade do condomínio, diz autarquia Gonçalo Delgado/NFactos

A onda de solidariedade em torno da morte de três estudantes da Universidade do Minho (UM) não tocou todos os colegas da instituição. Pelo menos 2000 pessoas querem que a Associação Académica mantenha os festejos do Enterro da Gata, a Queima das Fitas minhota, que tinham início marcado para o próximo dia 9 e cuja realização foi cancelada na sequência do acidente da semana passada. Apesar dos protestos, a direcção da instituição garante que a decisão é para manter.

No fim-de-semana foi lançada uma petição online – subscrita por 1900 pessoas – em que era exigida a manutenção dos festejos do Enterro da Gata, lembrando que este era um momento marcante na vida dos estudantes, sobretudo os do primeiro ano e os finalistas. Os mesmos autores lançaram entretanto uma nova iniciativa desta feita com o objectivo de convocar uma Reunião Geral de Alunos (RGA) extraordinária para debater a questão e que conta com o apoio de cerca de 900 subscritores.

Legalmente serão necessárias as assinaturas validadas de 5% dos cerca de 20 mil estudantes da UM para que a reunião seja marcada, sendo necessário um período mínimo de uma semana de antecedência para a sua convocatória, o que coloca desde logo uma dificuldade temporal a esta iniciativa. Ainda assim, o presidente da AAUM defende que, se foram cumpridos os preceitos estatutários, a reunião será marcada, mas o cancelamento do Enterro da Gata deste ano é “irreversível”. “A decisão está tomada e vamos lavá-la até ao fim”, garante ao PÚBLICO.

 “Este é um tempo de reflexão sobre o que aconteceu e partilhar o momento difícil que os colegas estão a viver”, defende ainda Carlos Videira. A AAUM decidiu manter apenas as cerimónias mais formais como a imposição de insígnias e a benção dos finalistas, marcada para o dia 10, cancelando todas as outras realizações como concertos e o tradicional cortejo, admitindo, porém, organizar uma outra cerimónia para os estudantes do último ano, mais próximo do final do ano, mas para já “não há espírito” para festejos, defende o presidente.

Nas páginas que acolhem as petições há vários alunos a defenderem a realização das festas académicas, como Patrícia Cardoso. “Queremos festejar aquilo a que temos direito como estudantes da UM”, defende esta estudante de Viseu, que frequenta o polo de Braga da instituição. No entanto, os mesmos sites recebem também muitas mensagens contestando o próprio âmbito da petição.

Na universidade continuam a ser visíveis os sinais de consternação pela morte dos três estudantes, vendo-se mais alunos trajados do que é habitual. Esta terça-feira está marcada uma nova vigília de homenagem às vítimas (22h00, junto à estátua de Prometeu, na entrada do campus). No local onde aconteceu a primeira vigília continuam a avolumar-se as fitas de curso dos estudantes das várias licenciaturas que prestam homenagem aos colegas de Engenharia Informática que morreram na semana passada, bem como as ofertas numa espécie de memorial informal criado junto ao local do acidente. Esta terça-feira, a reitoria também decidiu suspender as aulas a partir das 14h00, para que os estudantes da UM possam participar nas missas de 7.º dia de Nuno Ramalho, Vasco Rodrigues e João Vieira.

Entretanto, a Câmara de Braga confirmou a informação avançada pelo PÚBLICO no sábado passado: a estrutura de caixas de correio que ruiu sobre os três estudantes é, legalmente, responsabilidade do condomínio dos prédios de habituação por esta servidos. O presidente da autarquia, Ricardo Rio, diz existirem provas de que as caixas foram usadas “até meados de 2012”.

A peça em causa “não consta do processo de licenciamento” existente nos serviços municipais, anunciou também na conferência de imprensa, ainda que legalmente isso não tivesse que acontecer, uma vez que a legislação remete responsabilidades neste tipo de processos para a Anacom.

Rio esclareceu ainda que a carta que circulou nas redes sociais nos últimos dias, dando conta de uma queixa dirigida pelo condomínio à autarquia, alertando para o mau estado do muro, não dizia respeito à estrutura que desabou na semana passada, mas a um muro de suporte contíguo que “apresentava fissuras e foi entretanto reparado”. A missiva entrou nos serviços a 6 de Janeiro de 2010 e deu origem a um despacho do vereador Hugo Pires – que também esteve presente na conferência de imprensa, apesar de agora estar na oposição – 12 dias depois, em que notificava o proprietário do muro a fazer obras de consolidação, o que aconteceu. A autarquia voltou, por isso, a referir que o estado da estrutura que albergava as caixas de correio “nunca foi objecto de queixa formal ou informal”.

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