Tratamento contra hepatite C eliminou vírus em mais de 90% dos casos

Tratamento foi aplicado a doentes de cirrose. Passadas 12 semanas do final da medicação, o vírus não foi detectado em mais de 90% dos doentes.

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O novo tratamento é tomado por via Adriano Miranda (arquivo)

Um novo tratamento contra uma das variantes do vírus da hepatite C foi testado em 380 pessoas, todas com cirrose. Três meses após o fim do tratamento, o vírus tinha sido eliminado em mais de 90% dos doentes tratados, conclui um estudo publicado na última edição da revista New England Journal of Medicine.

O tratamento foi feito à base de várias substâncias químicas, mas sem a utilização de interferões – o composto que, até agora, era a única arma que tinha alguma eficácia contra o vírus da hepatite C, tratando definitivamente a doença em 50% dos doentes, mas que provocava muitos efeitos secundários.

“Estes níveis de resposta são do outro mundo, não fazem parte do mesmo planeta dos níveis de resposta do interferão”, diz em comunicado Fred Poordad, o cientista líder desta investigação publicada agora, da Escola de Medicina do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em San Antonio, Estados Unidos. “A razão deste estudo ser tão importante é porque o interferão não é tolerado nem é seguro em muitas pessoas que têm cirrose. Neste estudo, muitos dos doentes de cirrose nem sequer seriam aceites para serem tratados com o interferão.”

A hepatite C afecta cerca de 200 milhões de pessoas no mundo. Não existe nenhuma vacina contra esta doença. Em Portugal, de acordo com os dados da Associação Grupo de Apoio SOS Hepatites, estima-se existirem 150 mil portadores do vírus.

As pessoas podem contrair o vírus quando entram em contacto com sangue infectado, na partilha de seringas ou em relações sexuais. O vírus multiplica-se maciçamente nas células do fígado, mas também pode infectar os linfócitos, células do sistema imunitário.

Um quinto das pessoas infectadas consegue debelar o vírus, mas na maioria, a hepatite C torna-se crónica, causando cansaço, mal-estar e náuseas. A doença também é conhecida como hepatite silenciosa, já que muitas vezes não causa sintomas. No entanto, ao fim de décadas, pode causar cirrose e provocar cancro no fígado.

Existem quatro genótipos mais importantes da hepatite C (variantes deste vírus), que tem uma grande capacidade de mutação. Segundo a Associação Grupo de Apoio SOS Hepatites, o genótipo 1e o genótipo 4 são aqueles que têm mais resistência ao tratamento tradicional, com interferão.

No novo estudo, os doentes foram tratados com o cocktail de quatro substâncias (ABT-450/ritonavir, ombitasvir, dasabuvir e ribavirina), por via oral. Estes químicos são inibidores de proteínas importantes para a replicação do vírus.

Medicação no mercado apontada para 2015

O tratamento só foi testado em portadores do genótipo 1 da hepatite C que tinham cirrose. Os doentes foram testados em 78 clínicas em Espanha, Alemanha, Inglaterra e nos Estados Unidos, entre 2012 e 2013. Um dos factores que impedia alguém de entrar nestes ensaios clínicos era ser portador de outro vírus crónico como o VIH, o vírus da sida.

Os doentes foram divididos em dois grupos: 208 receberam a medicação durante 12 semanas, enquanto 172 receberam a medicação durante 24 semanas. Os efeitos secundários mais comuns foram fadiga, dores de cabeça e náuseas.

No grupo das 12 semanas, 191 (91,8%) dos 208 participantes ficaram livres do vírus 12 semanas após o fim dos tratamentos. No caso do grupo das 24 semanas, 165 (95,9%) dos 172 participantes não tinham vírus 12 semanas após o fim do tratamento. Os investigadores vão continuar a testar anualmente estes participantes para verificar que a doença está, de facto, debelada.

Os ensaios foram apoiados pela farmacêutica AbbVie. Segundo o comunicado, espera-se que este regime de medicação esteja no mercado no final deste ano ou no início de 2015.

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