Programa de prevenção estruturado permitiria evitar 50% a 60% dos casos de diabetes

Estima-se que cerca de 50% dos casos de diabetes em Portugal ainda não tenham sido diagnosticados.

A necessidade de um programa estruturado de prevenção e o aumento da literacia sobre as doenças emergentes do século XXI foram as duas ideias-chave saídas da discussão sobre a relação entre a diabetes e a obesidade enquanto principais causas de risco de cancro, que decorreu na última terça-feira, no Porto.

“As doenças previnem-se muito mais do que se curam”, salientou Manuel Sobrinho Simões, presidente do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP).

O custo total dos tratamentos dos doentes diabéticos em Portugal corresponde a cerca de 1,2% do PIB, num valor que representa 12% das despesas do Estado com a Saúde, sublinhou José Luís Medina, médico endocrinologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia, defendendo que a prevenção sairia muito mais barata do que o tratamento e que um plano alargado nesse sentido permitiria reduzir entre “50% a 60% a incidência de novos casos de diabetes”.

A sessão do ciclo de conferências Diabetes Século XXI: O Desafio teve lugar no IPATIMUP, numa reunião que visou discutir a relação entre a obesidade e a diabetes e a sua relação com o risco de cancro. Sobrinho Simões explicou que estas doenças estão intimamente ligadas. O tabaco, o consumo exagerado de álcool, a falta de exercício físico e a alimentação desregrada são factores de risco comuns a todas as doenças em questão.

Os especialistas deixaram claro que o cerne da questão é a prevenção estruturada. As doenças emergentes (diabetes, obesidade, cancro) "são produto da civilização”, disse Sobrinho Simões e, por isso, “a Assembleia da República deveria ter uma acção directa sobre as prioridades da saúde”, defendeu José Manuel Boavida, director do Programa Nacional para a Diabetes, nomeadamente ao nível de um programa de prevenção longo e estruturado. “Tem que se fazer um programa político e esse programa político tem de ser cumprido”, corroborou Luís Gardete Correia, presidente da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal.

A deputada Luísa Salgueiro (PS), também presente na reunião enquanto membro da Comissão Parlamentar de Saúde, disse que esta está a trabalhar com empenho nestas temáticas, notando, porém, que a actual maioria governativa extinguiu o grupo no seio da comissão que se dedicava em exclusivo à diabetes.

A responsabilidade das autarquias foi chamada à discussão, nomeadamente na concretização do tão defendido programa de prevenção. Um maior rigor nos alimentos disponíveis nos bares das escolas, a regulação dos alimentos fornecidos em certas superfícies como as confeitarias e a facilidade de acesso à prática de actividades desportivas foram algumas das soluções apontadas.

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