Eles colecionam "cromos raros" de comboios e aviões

Hugo Santos e João Cunha são "spotters" de aviões e comboios, respectivamente. Dos aeroportos à paisagem alentejana

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Reuters

"Ponto 1: somos apaixonados pela aviação. Ponto 2: aliamos a isso uma grande paixão pela fotografia", diz Hugo Santos, de 21 anos, "planespotter". "Somos os comuns maluquinhos em que as pessoas reparam e dizem: "Lá estamos nós com as máquinas a tirar fotografias aos aviões", caracteriza.

Hugo explica que a paixão pela aviação "já vem desde muito pequenino". Como "só ver não chegava", Hugo passou a "registar aquilo que via" e agora até tem um blogue. "No 'planespotting', uma pessoa não tem de registar apenas em fotografia; há quem registe em vídeo e há também quem apenas aponte.", observa. 

Já João Cunha, "trainspotter" de 27 anos, explica que "'trainspotting' é, basicamente, andar atrás de comboios para os fotografar. E é. É uma actividade "outdoor", que pode desenvolver-se em estações, no meio do monte ou em todo o lado que tenha vista para a linha". O que Hugo e João têm em comum é a paixão pela fotografia, mas não só.É também o coleccionismo.

"Os comboios têm um horário teórico de passagem", prossegue João, "mas nem sempre é garantido que apareçam quando queremos". Apesar de, actualmente, ser mais fácil consultar os horários dos comboios, por vezes, os "trainspotters" contam com a ajuda de "insiders". Porquê? "Para saber coisas mais específicas, como, por exemplo, que tipo de composição vem com determinado comboio".

O mesmo acontece com os "planespotters". "Há algumas pessoas que têm acesso a informações mais privilegiadas. Quando vem algo fora do normal há sempre alguém que trabalha no aeroporto e que faz parte da comunidade 'planespotter' e avisa", refere. "Algo fora do normal" costumam ser voos especiais, fora do horário disponível no site da ANA, que elenca os voos regulares.

Nos comboios sucede o mesmo. São os "cromos raros", porque o "trainspotting" acaba por ser "mais uma forma de coleccionismo", diz João Cunha. Quando há "cromos raros" cria-se logo "um burburinho nas redes sociais e nos fóruns". "Há algumas circulações em que as tripulações dos comboios passam quilómetros a ver fotógrafos, provavelmente sem saberem muito bem porquê", refere.

Planificar e viajar

E, ao contrário do que acontece com os aviões, nos comboios há grande variedade disponível no que concerne a sítios para fotografar. O "planespotting" está normalmente confinado ao espaço da pista do aeroporto (ainda que haja vários sítios preferidos dos "spotters" nas imediações), mas no "trainspotting" todo o país serve.

João Cunha tem algumas preferências: "O primeiro é o ramal de Neves Corvo", no Baixo Alentejo. "Adoro a paisagem alentejana no Verão, árida, amarela, e os comboios lá ainda são a diesel, rebocados pelas locomotivas que eu prefiro". O outro "é um sítio chamado Trajinha, entre a Guarda e Pinhel, e fica a 700 ou 800 metros de altitude", na Serra da Estrela.

Por vezes, o "spotting" pode ser uma actividade arriscada. Hugo Santos revela que "quase teve um acidente" na auto-estrada só para fotografar um avião. Já João Cunha prefere uma abordagem mais cautelosa para o "trainspotting": "Gosto de planificar horários, percursos e locais para tirar fotografias", diz. "Essa parte consome-me quase tanto tempo como o dia em que vou tirar as fotografias".

João revela que em Portugal já foi "de Valença do Minho a Vila Real de Santo António", mas o "spotting" não se cinge ao território nacional. João já foi a variados países, como França, Itália, Áustria, Suíça ou Bélgica só para fotografar comboios, mas o local mais excêntrico que visitou foi mesmo Marrocos.

Algumas dessas viagens estão publicadas na Trainspotter, uma revista online que edita, juntamente com outros entusiastas, ou na sua galeria. Já Hugo Santos refere ter ido ao "Farnborough International Air Show", em Londres, e está a pensar ir a "Madrid ou Barcelona" só para fotografar aviões.

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