Outras crises se aproximam

Com o foco na crise económica tudo o resto tem sido esquecido. Os Estados têm ignorado a aproximação de outras crises, crises independentes dos mercados financeiros

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Parwiz/Reuters

Só ouvimos falar da crise económica. Fala-se do crescimento económico (ou a falta dele), taxas de juro da dívida, FMI ou programa cautelar. Parece que todos os outros problemas deixaram de existir. Alguém se recorda do problema que enfrentamos da obesidade infantil e do sedentarismo? Da diabetes ou da hipertensão? Será que as doenças sexualmente transmissíveis deixaram de existir? Alguém se recorda da última campanha de consciencialização para a importância da vacinação infantil? Verificam-se crescentes movimentos anti-vacinação que têm de ser considerados como preocupantes e que, segundo a especialista em saúde global Laurie Garrett, contribuíram para o recente surto de doenças nos EUA, doenças essas que podem ser prevenidas por vacinação. Estes movimentos ganham força nos EUA assim como na Europa.

Talvez poucos sejam os que se lembram das mortes infantis por sarampo, papeira, tosse convulsa ou rubéola, mas a verdade é que a incidência de doenças vacináveis tem aumentado desde 2008 em toda a Europa com destaque para o sarampo. Segundo dados do Council on Foreign Relations (CFR), os casos de sarampo no Reino Unido passaram de 1073 em 2008 para 4789 em 2013. Estabelecer uma relação directa entre este aumento e o aumento dos movimentos anti-vacinação pode ser precipitado, contudo, não deixam de ter relevância e devem ser considerados pelas entidades responsáveis pela saúde pública.

A maioria dos Estados mostram-se alheados de vários dos seus importantes papéis na sociedade e de uma forma assustadora, particularmente em Portugal. Com o foco na crise económica tudo o resto tem sido esquecido. Os Estados têm ignorado a aproximação de outras crises, crises independentes dos mercados financeiros. Todas as acções de informação e sensibilização, que na grande maioria fazem hoje parte do passado, têm de voltar a fazer parte do presente. O sedentarismo continua a ser um problema, a obesidade infantil também. Novos casos de infecção por VIH não deixaram de existir. As doenças infecciosas não foram erradicadas e o alcoolismo e tabagismo ainda matam milhares. A questão é, quando voltarão estes assuntos a estar na lista de preocupações e prioridades dos Estados?

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